domingo, 30 de novembro de 2008

O Espectro- Eu tive um sonho...

Contraproducentemente o que eu quero ser é professor. E sempre que me perguntam o que quero fazer com o "canudo" de filosofia na mão, eu respondo então, com aparente seriedade, que quero ser professor. Levar uma vida mais ou menos tranquila, acartando para cá e para lá dezenas de livros com o orgulho estampado no rosto, uma pose discretamente intelectual, ou, pelo contrário, de típico "cientista maluco".
Eu sei que a vida não está fácil para quem tem na ponta do giz o futuro do país, ou ajustando, na tecla Enter do Magalhães. O "zunzum" constante dos media dão prova disso mesmo, – apesar da crise aparentemente não se estender ao ensino superior (descontando a afagada controvérsia acerca da gestão das universidades).
Mas se de um lado é o barulho democrático e generalizado que intensifica as dificuldades por que passa o sistema educativo português, do outro lado, é o asfixiante silêncio aristocrata que impera acima da pura incompetência e desleixo consciencializado dos seus docentes.
Desde que ingressei na Universidade da Beira Interior, que as probabilidades de poder ver o meu sonho de ser professor tornar-se realidade, triplicaram. Agora, bastava "apenas" ser licenciado (o que com o processo de Bolonha se resumiria a três anos de estudo). Chegava "saber ler" bem, ter conhecimento dos livros no mercado e não gaguejar. Por vezes até, em casos em que não consigo arrumar um adjectivo melhor senão, "insólitos". Bastava chegar ao cúmulo, de abandonar a sala após um quarto de hora de aula, deixando ao critério do aluno a honestidade (ou falta dela) diante de um teste surpresa, já que o professor que devia ter permanecido a vigiar o decorrer da prova (legitimando-a), se ausentou mais cedo para apanhar o comboio.
Meus caros (na formalidade própria de um aristocrata), estou longe de ser um bom aluno, sou até uma pessoa acanhada, feia no sentido mais tóxico do termo, mas acreditem, sei ler, e até com alguma entoação. Para licenciado, pouco tempo me resta. Comboio, não é o meu meio de transporte, mas sim, posso sempre viajar de autocarro. Acartando para cá e para lá dezenas de livros, com o orgulho estampado no rosto...

Sexto-Empirico

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dia Mundial da Filosofia

Jantar de comemoração no próximo dia 20 pelas 20 horas no clube União seguido de tertúlia sobre:



QUAL A IMPORTÂNCIA DO OUTRO?

QUAL O LUGAR DA ALTERIDADE NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS?



Agradecemos confirmação até ao dia 19 para o seguinte contacto:

· 912852859
· 962900174
· sexto-empirico@hotmail.com

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A "nossa luta" é...

O fumo azulado que sai do meu cigarro e se desmultiplica em formas desconexas até desaparecer só encontra paralelo com a imagem desfocada e distorcida que vejo no retrovisor enquanto acelero para longe; não muito, apenas o suficiente para sacudir qualquer suspeita que possa subsistir após o meu raciocínio. Tenho estigmatismo e portanto, estando muito perto das coisas, vejo mal; muito mal. E também, a distância é relativa; não só pelo espaço mas também pelo tempo.Já não há longe nem perto (a bem dizer, nunca houve), ontem ou hoje, quiçá homens e mulheres; há o aqui, o agora e a "malta". Os tempos mudam, as vontades também; mudam as drogas, mudam os motivos. É constante ebulição e dinamismo, ao mesmo tempo belo e misterioso. Os sinais dos tempos são prova disso mesmo. A chave mestra, creio, para se poder pensar "filosoficamente" é uma luta titânica entre a inércia da nossa arrogância e a dinâmica do nosso espírito.É difícil? Sim. É uma luta? Sim; mas não é uma guerra. Isso pressupõe a existência de um adversário, e ao existir, seria eu mesmo! É possível lutar contra mim mas não guerrear-me, isso até dá mais trabalho do que frutos.
A "nossa luta" só faz sentido no plano subjectivo (não confundir com particular), e não numa "reforma do entendimento". Não se iludam, não há por aí meia dúzia de iluminados detentores da verdade e da sabedoria e o resto são coitadinhos ignorantes a olhar para o céu à espera que lhes caia em cima.
A "nossa luta" é reflexo da nossa capacidade cognitiva, da nossa liberdade, das nossas relações. Não somos ideias mas devemos ter ideais.
A "nossa luta" é assumir as dúvidas e ultrapassá-las; que pensamos diferente já todos sabemos mas isso de ficar com "a tua" e eu com "a minha" não é caminho; quando muito é um atalho.
A "nossa luta", meus amigos, é conseguir dar seguimento à herança deixada pelos "espíritos livres" (leia-se filósofos); as armas que tinham? Irreverência, Audácia, Ambição, Inconformismo.
A nossa luta é esta! Que melhor altura senão agora? que melhor sitio que não este?

Aluno de filosofia na UBI

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Espectro-filosofia saiu à rua

A Filosofia saiu à rua!
Não que não estivesse bem! Entre quatro húmidas e velhas paredes a "marrar" Kant, ou outro senhor de nome irrisório de pronunciar. Não que a Filosofia se sentisse sozinha, visto que este ano ainda conseguimos angariar, nove caloiros... Mas quisemos saber o porquê do sucesso de outros cursos, especialmente emergentes e tecnocratas, face a uma ciência tão expansiva, tão antiga e imprescindível como a Filo-Sofia. Interpelamos assim diversos alunos de outras áreas acerca do que pensavam eles sobre o que era isso da Filosofia. As respostas lá foram saindo. Curtas, gaguejadas, tímidas, ainda assim, sinceras. À primeira pergunta "O que é a Filosofia?", Francisco Marques, segundo ano de Bioquímica, respondera: " é sem dúvida a primeira ciência do mundo". Estranho! Pois quando mais à frente lhe perguntei, se se algum dia tivesse oportunidade, arriscaria uma licenciatura em Filosofia, prontamente me disse "Não". Justificando que a Filosofia não era uma ciência emergente no nosso Portugal. O que isso significa exactamente? Que a filosofia é sem dúvida o príncipio, mas nunca o fim? Então, qual será a ciência do fim? E servirá então a Filosofia para alguma coisa, nos tempos que correm? Três alunos de Cinema afirmaram positivamente, que nos tempos que nos trespassam, é necessária uma disciplina como a filosofia para que de modo imediatamente paralelo, se possa responder suficientemente aos constantes problemas com que uma sociedade multicultural e dita democrática se debate, quase ao ritmo da sua própria evolução. Não que soubessem eles, alguma coisa de Filosofia, visto que da Filosofia dada no secundário (obrigatória!) recordavam-se apenas dos denominadores comuns da disciplina: Platão; Aristóteles; Descartes; Kant; entre outros, que entre-tanto se tinham esquecido. Mas isso da Filosofia assumir um papel significante nos tempos coevos, parecia-lhes suficientemente claro! A falta de "liberdade" artística na Filosofia foi muito bem aludida por Marco, um estudante de Arquitectura. Dizia ele, que a Filosofia, por se empenhar na resolução de temas particularmente "duros", e fundamentalmente conceptuais. Que não deixava muito espaço ao "espaço" da criação; ao desenvolvimento subjectivo pela arte. Enquanto um aluno de Engenharia Cívil ao mesmo tempo disparava: "já não ter cabeça para isso, isso da Filosofia".
Para terminar, perguntei a uma colega finalista do meu curso, quais eram as suas perspectivas, o que iria fazer no futuro, em que parte a filosofia comparticiparia nesse seu amanhã. A Susana segredou-me que iria fazer um mestrado na área de Jornalismo, e que a Filosofia lhe serviria então, de "meio para...". O que, inevitavelmente, me reconduz às perguntas que acima coloquei. Com que então, a Filosofia é só "o princípio". Com que então ela é só "um meio". Então qual é o fim? E Sócrates, quantas voltas já deve ter dado ao túmulo, pelos seus "próprios discípulos" assumirem esse "abatimento" da Filosofia para um segundo plano, nunca como um télos, mas como um troco sofista. Um naipe no bolso, pronto a ser lançado, quando a situação assim o exige!
Sexto Empírico

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

29ª Edição dos Prémios PEN Clube






Na 29ª edição dos prémios PEN Clube, e apesar do prémio recair sobre diversas formas literárias - poesia, ensaio, novelística e até "primeira obra" -, quero destacar, e sem qualquer intuito de marginalizar os outros autores, o trabalho do jovem poeta do Porto, Daniel Jonas. Vencedor ex-aequo, conjuntamente com Helder Moura Pereira (Segredos do Reino Animal, Assírio & Alvim, 2007).
Ainda que, o livro premiado do poeta do Porto tenha sido, o Sonótono- Cotovia. Deixo-vos aqui, um pequeno poema do seu livro anterior, Os Fantasmas Inquilinos, como síntese prepotente de uma obra que não se extingue nem com prémios, nem com qualquer outro tipo de menções.

"Eu ficarei à espera de que as uvas
das minhas videiras
amadureçam
à luminosidade da palavra
dia".
in Os Fantasmas Inquilinos, Edições Cotovia, 2005.