sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Igual - Prêmio Melhor Curta Metragem Estrangeiro - 2008

Numa época de pretensa “crise de valores”, o lugar do outro (a alteridade) necessita de ser repensado. “O que vale o outro?” Eis uma falsa pergunta endereçada a uma falsa resposta. Não somos nós quem decide sobre o valor do outro, como se estivesse em nosso poder debitar ou creditar sobre o seu valor, sob uma estrutura puramente economicista. Esta “crise de valores” é uma falsa crise de valores, é uma má resposta a uma má pergunta: “Qual é o valor do outro?”; “O que podemos decidir por nós, tendo permanentemente como horizonte o “espectro” do outro?”. “O que devemos fazer?”.
Em parte este é um filme visionário, na medida em que a "valorização" do outro não aparece centralizada no homem enquanto sujeito, enquanto subjectividade, enquanto legislador autónomo. O homem não é por essência um ser ético, na medida em que não é ele que constrói a sua habitação (êthos), mas sim, - e esta é a pedra de toque da mostra cinematográfica -, o destino, em suma: a própria vida (não nos termos de uma bio-ética) comportando nela o estar-aí do homem. Verdadeiramente nunca saberemos nada sobre o outro (o seu valor; a sua dignidade; o seu porquê...), se o caminho não nos iluminar sobre isso, isto é, a própria vida descentralizada decisivamente do homem, ainda que comportando este no "centro" da revelação.
Façam os vossos juízos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pensamento

Pensamento,
Falsa noite onde um requintado girassol ainda vigora.
- Oh! Que nenhum poeta perpetue este movimento,
Que nenhuma criança atenue a sua dignidade
Que nenhum cantor a exalte -,
A seiva mamífera percorrendo cautelosamente
Os veios da mais inóspita aridez.
Onde, o que ainda não é nos espera,
Com uma serenidade jamais compreendida,
Como o pai eterno no alpendre da casa aguardando
Os seus filhos, apenas momentaneamente perdidos.