tag:blogger.com,1999:blog-123564222024-03-07T05:42:13.944+00:00Sexto EmpíricoSextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.comBlogger481125tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-49644697283122204392013-12-25T18:22:00.001+00:002013-12-25T18:22:23.900+00:00Francis Fukuyama, A Construção de Estados − Governação e Ordem Mundial no Século XXI (Parte I).<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Yoshihiro Francis
Fukuyama nasceu a 27 de outubro de 1952 em Chicago é filósofo e economista
político, atualmente desempenha a função de docente de Economia Política
Internacional na escola Paul H. Nitze de Estudos Internacionais Avançados e na
Universidade Johns Hopkins como diretor do Programa de Desenvolvimento
Internacional. Foi ainda membro do concelho presidencial de bioética entre
2001-2004. De entre as suas várias obras referimos algumas: <i>As Origens da Ordem Política </i>(2011), <i>América de Caminhos Cruzados: Democracia,
Poder, e o Legado Neoconservador </i>(2006), <i>Confiança: As Virtudes Sociais e a Criação de Prosperidade </i>(1995),
e <i>O Final da História e do Último Homem </i>(1992).
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Abordando a obra que
hoje serve de tema para o nosso pequeno texto, ela encontra-se dividida em
quatro capítulos: o primeiro tem como assunto as dimensões perdidas do Estado;
o segundo, os estados fracos e o caos da sua gerência pública; o terceiro, a
legitimidade internacional destes Estados; e, por último, mais pequeno mas mais
forte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Começando por analisar
o primeiro capítulo, o autor revela que o Estado já existe desde as primeiras
civilizações agrícolas na Mesopotâmia há cerca de 10 mil anos. Abordando-nos
com os estados chinês (a sua administração pública altamente qualificada) e
europeus (a capacidade de impor a sua autoridade sobre um vasto território
através dos seus exércitos). E de que foi a necessidade de criar leis e de as
fazer cumprir, tal como a capacidade de assegurar segurança e direitos de
propriedade, que se chegou ao Estado de direito moderno. Estas funções do
Estado tanto podem ser usadas para o bem como para o mal; basta tomarmos como
foco o direito e a sua capacidade coerciva, pois assim como garante as
propriedades dos cidadãos também as expropria pelos mais diversos motivos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Avançando, ao longo do
século XX assistimos à criação de novos Estados, alguns que já existiam
passaram por uma política nazi totalitarista. E é neste cenário que os Estados
passam de um âmbito reduzido para mais centralizado e ativo; mas que com a
chegada dos anos 80 este crescimento do setor público foi travado para abrir
portas à privatização, como, por exemplo, a América Latina, por razões de
dívida pública. Contudo, Fukuyama alerta-nos para uma cuidadosa seleção dos
setores que devem ser privatizados, pois ao reduzir de um lado deve fortalecer
no outro, tendo em conta as reações de economia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como definir um estado
forte ou fraco? Existem duas definições. A primeira defende que um estado fraco
é aquele que deliberadamente põe entraves ao exercício do seu poder. A segunda
definição está intimamente ligada à força militar, denotando-se que quanto mais
forte for um Estado mais forte será a sua força militar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como depreendemos, o
âmbito do Estado são as funções e os objetivos do governo; já a força de um
Estado está centrada na identificação e execução de políticas e cumprimento de
leis. Quanto ao âmbito das funções do Estado, elas dividem-se em três
categorias: funções mínimas (bens e serviços públicos essenciais, como a saúde
e segurança), funções intermediárias (regulação económica, educação e segurança
social) e funções ativas (política industrial e justiça distributiva); certas categorias
resultam em diversas funções em que a capacidade do Estado pode variar de um
extremo ao outro. Como demonstrar isto ao nível do desenvolvimento económico?
Isto exemplifica-se com um Estado que desempenha funções limitadas e
institucionalmente forte e eficaz, por exemplo os E.U.A, no extremo exatamente
oposto temos um Estado que assume um vasto leque de atividades que não pode
cumprir, como a Serra Leoa. É este último ponto que caracteriza os países em
vias de desenvolvimento. É também neste género de países, como o Zaire do
regime de Mobutu Seko, que surge um comportamento predatório que retira os
recursos destinados à sociedade para os concentrar num só indivíduo,
favorecendo familiares ou apoiantes, como acontece nos regimes neopatrimoniais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para além dos regimes
neopatrimoniais, outro fator que contribui para prejudicar o desenvolvimento
económico desses países em vias de desenvolvimento é a ineficácia das
instituições públicas que podem funcionar como um entrave para o surgimento de
pequenas e médias empresas, o mau controlo do negócio paralelo e redução dos
horizontes de investimento. A par disto à que ter em conta o vetor cultural,
pois, por esta razão, excelentes teorias que foram aplicadas com sucesso em
certos países acabaram por ser contraproducentes noutros países. Acrescentando,
que os países que são alvo de intervenção da Comunidade Internacional acabam
por ver as suas instituições públicas desmanteladas no que respeita às suas
capacidades pelas seguintes razões: contradição entre os objetivos dos doadores
e os objetivos que a ajuda internacional visa servir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 275.35pt; text-align: justify;">
Fernando de Almeida. <span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-72324743972929919182013-11-12T15:10:00.000+00:002013-11-12T15:10:06.020+00:00Luís Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Luís Sttau Monteiro
nasceu em Lisboa em 1926, com 13 anos mudou-se para a capital inglesa, Londres,
onde o pai trabalhava como embaixador. Posteriormente, voltou outra vez para Portugal para
concretizar a licenciatura em Direito, pela Universidade de Lisboa, tendo
desempenhado as funções de advogado durante um curto período de tempo. Veio a
falecer em 1993. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em 1960 edita o seu
primeiro livro, um romance, intitulado <i>Um
Homem não Chora, </i>no ano seguinte são lançadas mais duas obras: <i>Angústia para o Jantar, </i>que o projetou
para a ribalta da literatura portuguesa, e a peça teatral <i>Felizmente Há Luar. </i>A estas, juntam-se outras obras de referência: <i>Todos os Anos pela Primavera </i>(1963); <i>O Barão </i>(1964); <i>Auto da Barca do Motor Fora de Borda </i>(1966); <i>A Guerra Santa </i>(1967</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 13.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">);
<i>A Estátua </i>(1967); <i>As Mãos de Abraão Zacut </i></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">(1968);
<i>Sua Excelência</i> (1971); <i>E se For Rapariga Chama-se Custódia </i>(1978);
<i>Crónica Atribulada do Esperançoso Fagundes
</i>(1980) e <i>Chuva na Areia </i>(1982). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Abordando a obra <i>Felizmente Há Luar</i>, esta peça de dois
atos só foi apresentada pela primeira vez no <i>Teatro Nacional D. Maria </i>em 1978. Denotando-se que a ação da peça
estabelece um paralelismo entre a época vivida até à Revolução de 1920<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/Lu%C3%ADs%20Sttau%20Monteiro.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> e
a época que abrange o período do Estado Novo, arquitetado por António de
Oliveira Salazar. E o mesmo se comprova com a personagem ausente, e na qual
gira toda a ação do drama, o General Gomes Freire D’Andrade (1757-1817)<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/Lu%C3%ADs%20Sttau%20Monteiro.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a> e
o General Humberto Delgado (1906-1965)<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/Lu%C3%ADs%20Sttau%20Monteiro.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Sendo este paralelismo histórico uma estratégia comunicativa, utilizada com o
fim de transmitir a mensagem que aspira à liberdade e à emancipação do povo por
entre as redes apertadas da censura vivida até ao 25 de abril. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como personagens temos:
Manuel (o mais esclarecido entre os populares pois reconhece a sua impotência
para mudar o poder que está instituído), Rita (a mulher de Manuel e a que
assiste à detenção do General Gomes Freire D’Andrade), o Antigo Soldado (que
serviu sob as ordens do General), Vicente (um membro do povo, mas que tem
vergonha do seu berço e, por isso, ambiciona um estatuto social mais elevado
tirando partido da denúncia e da lisonja para atingir essa ambição), Dois polícias
(que procuram aproveitar a glória alheia, neste caso do cargo que D. Miguel
oferece a Vicente), Vários populares (que constantemente estão presentes), D.
Miguel Forjaz (representante do poder político, governador do reino, com desejo
de manter o <i>status quo</i> e de caráter
prepotente), Beresford (governador do reino representando o poder militar,
sendo o tom de zombeteiro o mais dominante ao longo desta peça, especialmente
nos diálogos com Principal Sousa, homem prático, e com desprezo pelo país
devido à sua mediocridade), Principal Sousa (governador do reino figurando o
poder secular e um hipócrita), Morais Sarmento e Andrade Corvo (dois
denunciantes que procuram recompensa), Frei Diogo de Melo (um frade que não
ingressou no clero por riqueza nem por poder, ao contrário de alguns), António
de Sousa Falcão (amigo leal de Matilde de Melo e do General Gomes Freire
D’Andrade), Matilde de Melo (esposa do General Gomes Freire D’Andrade) e o
General Gomes Freire D’Andrade (embora seja uma personagem fisicamente ausente
da história ele constitui a temática omnipresente de toda a ação da peça). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A nossa história começa
com a personagem Manuel, que no seu monólogo denota a sua impotência perante diversos
acontecimentos que têm repercussão nacional, a ele junta-se um popular que lhe
responde, da maneira mais caricata, que Rita chegou por volta das 5 horas
segundo o seu relógio de ouro, gozando e realçando ainda mais a sua miséria na
qual o resto do povo vivia mergulhado. Normalmente, especialmente no primeiro
ato, a conversa entre os populares é acompanhada com o som de fundo dos
tambores, símbolo da repressão e do poder. No meio destes populares,
encontramos um antigo soldado do General Gomes Freire D’Andrade que o retrata
como se fosse a esperança do povo capaz de se bater com os reis do Rossio além
de ser um homem integro. Mas que é contrariado por Vicente que o aponta como
mais um general que apenas quer saber dos seus soldados enquanto estes ainda
lhe são úteis e, para terminar, que Gomes Freire era um estrangeirado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Apesar da argumentação,
não interessa o que Vicente diga que os populares ainda continuam com esperança
no general, como o desabafa o próprio Vicente na conversa que tem com os dois
polícias, no caminho para se encontrar com Miguel Forjaz, e na qual expõe a sua vergonha que tem em pertencer
aos da sua classe social denunciando a vontade de ascender socialmente não
importando o quê; o primeiro polícia trata de lembrar a Vicente de que foram
eles os portadores da boa nova, com o intuito de beneficiar da promoção deste.
Quando Vicente é apresentado a D. Miguel que lhe fala com um tom de prepotência,
que é notório quando Vicente lhe revela o que o povo diz acerca de Gomes Freire
D’Andrade, ele retruca-lhe que aquilo que o povo diz não tem qualquer valor.
Este quadro sai realçado quando Principal Sousa surge pela primeira vez, pelo
seu trajar demonstra uma Igreja que não está interessada em defender os
princípios da virtude que prega, mas antes, em manter o seu estatuto e poderio,
acabando por apresentar a seguinte tese: que a voz de Deus é a voz do rei e não
a voz do povo. Ora para a manutenção deste sistema de governo, recorre-se ao
incentivo da denúncia como se contempla, no primeiro ato, no diálogo entre
Vicente e D. Miguel, em que este promete um cargo como chefe da polícia ao
primeiro. Outra personagem importante neste jogo de interesses é Beresford, que
no trio do governo representa o poder militar e, também, a visão de um estrangeiro
sobre Portugal, que predispondo-se a colaborar com D. Miguel e Principal Sousa
desde que estes sirvam os seus interesses, nomeadamente monetários, para
compensar o tempo que perdeu num país que despreza. E que se desvela no momento
em que observa a paisagem portuguesa, de árvores entisicadas e prados secos, em
comparação com a paisagem verdejante da sua terra natal, chega mesmo a ironizar
afirmando que as árvores entisicadas parecem terem sido plantadas pelo
Principal Sousa. Crítica o raquitismo intelectual, centrado sobretudo em
teologia, a própria incultura do povo e o exército pindérico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É neste jogo de
conveniências e num momento em que se suspeita que se está a organizar uma conjura
contra os senhores do Rossio, que este trio começa a magicar em alguém que seja
proveitoso para executar como chefe da rebelião, e é neste contexto que a
personagem ausente na nossa história e que está cativa em S. Julião da Barra se
apresenta como alvo. Sendo a justificação para a sua condenação, como o diz D.
Miguel, se não é por eles é contra eles, numa alusão clara à atitude do regime
salazarista, ou, como mais tarde viria afirmar o marechal Beresford diante de
Matilde: que a existência de certos homens já é um crime. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ora é no segundo ato
que surge, pela primeira vez, Matilde de Melo em conjunto com António Falcão
que tudo fazem para tentar libertar Gomes Freire, mas sempre em vão. Tanto dirigindo-se
aos reis do Rossio como aos elementos do povo; em que Manuel, no segundo ato, lhe
desabafa a sua vulnerabilidade perante os diversos acontecimentos, o quanto as
classes mais favorecidas procuram tirar proveito da classe mais indigente, não
lhe dando nada em troca. Já conformada com o destino que está reservado ao seu
companheiro, Matilde juntamente com Sousa Falcão vão assistir à execução de
Freire D’Andrade, durante o evento Matilde usa um vestido verde simbolizando a
esperança de que algo iria mudar e que sai reforçado pela sua última expressão
na obra e que constitui justamente o seu título, e no momento em que a chama da
execução começa a atingir o seu apogeu em S. Julião da Barra, Matilde começa a
imaginar-se ao lado do seu marido a ajuda-lo a vestir a farda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Terminando com as
nossas habituais questões: será que ainda hoje, considerando que vivemos numa
democracia, vivemos num sistema que ainda é repressivo pois exclui aqueles que
pensam e agem de forma diferente daquilo que está estabelecido ou que controla
a informação que vem a público? Será que, um pouco à semelhança do texto, o poder
ainda é muito centralizado? E, ainda à semelhança da obra, favorece a
desigualdade e a exclusão social? Será que o povo não tem intervenção direta na
maior parte das decisões, especialmente as mais importantes, que presidem no
nosso país? E, finalmente, será que somos todos como a personagem tipo Manuel? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ANEXO
I<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estamos a referir-nos
ao período que abrange as invasões francesas (1807-1811) e do governo
provisório que se instalou nessa altura até à Revolução de 1820. Nos dias que se
sucederam à primeira invasão francesa (1807), liderada por Junot, as pilhagens
praticadas pelos soldados franceses e espanhóis eram usuais; sendo o exército
português transformado numa «Legião Lusitana» ao serviço de Napoleão. Em 1808
foi nomeada uma Junta Provisória presidida pelo bispo do Porto. É também neste
ano que os soldados britânicos desembarcam na Galiza atravessando as fronteiras
portuguesas em Julho para se defrontarem com os franceses nas batalhas da
Roliça e do Vimieiro, forçando Junot a pedir um armistício. Em Setembro os
franceses embarcam para França, levando consigo uma parte do saque. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A antiga regência que
tinha sido nomeada por D. João VI foi restabelecida, mas agora sob a tutela do
Marquês das Minas. Depois de voltar à ordem, o país prepara-se para enfrentar
uma futura invasão, esta preparação defensiva ficou a cargo do general
britânico William Beresford (março 1809), sendo eleito marechal-de-campo do
exército português, governando o país até 1820. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Terminado o período das
invasões francesas, Portugal fica sob o protetorado inglês e, simultaneamente,
como uma colónia brasileira, pois a corte tinha-se mudado para o Rio de Janeiro
a quando da primeira invasão francesa. A regência que se mantinha em Portugal
seguia uma orientação absolutista, perseguindo todos aqueles que eram vistos
como liberais. São estes acontecimentos que geraram descontentamento popular e
que mais tarde levariam à revolução civil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ANEXO
II<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Gomes Freire de Andrade
nasceu a 27 de janeiro de 1757, em Viena, filho de Ambrósio Pereira Freire de
Andrade e Castro, que colaborou na empresa do Marquês de Pombal contra os
Jesuítas e embaixador de D. José I na Áustria, e da condensa Elisabeth von
Schaffgostch. Após ficar órfão de pai, aos 17 anos, voltou com a mãe e a irmã
para Portugal, onde se alistou no exército. Como militar realizou um percurso
notável, destacando-se pela sua bravura e capacidade de liderança, do qual
ilustramos alguns exemplos: em 1784, na Armada Real espanhola e sob as ordens
de Carlos III, participou como guarda-marinha participou no bombardeamento de
Argel; nos anos 1788-1789 serviu no exército da czarina Catarina II, sob o
comando do príncipe Potemkine, na guerra contra a Turquia, sendo condecorado
com a ordem de S. Jorge e promovido a tenente-coronel pela própria czarina. Entre
1808 e 1811 serviu na “Legião Portuguesa” (criada por Jean-Andoche Junot e
chefiada por Gomes Freire e pelo Marquês da Alorna), que obedecendo à vontade
de conquista de Napoleão Bonaparte, preparou a invasão à Rússia em 1811. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em 1815 Gomes Freire
voltou a Portugal, aderindo à Maçonaria na qual foi terceiro grão-mestre
(1816). Em maio de 1817, participou numa conspiração que punha em causa a
pertinência do protetorado inglês e que era representado por William Beresford.
Nesse mesmo ano, a 18 de outubro, é condenado à morte pelo crime de traição à
pátria, juntamente com 11 oficiais, entre eles: o coronel Manuel Monteiro de
Carvalho, os majores José Campelo de Miranda e José da Fonseca Neves, sendo
executados na forca no forte de S. Julião da Barra, em Oeiras. Depois de
enforcado, o corpo de Gomes Freire foi mutilado e queimado, sendo os seus
restos mortais enterrados no areal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ANEXO
III<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Humberto da Silva
Delgado nasceu a 15 de maio de 1906 em São Simão da Brogueira (conselho de
Torres Novas). Terminou o Colégio Militar em 1922. A 28 de maio de 1926
participou no movimento militar que derrubou a República Parlamentar para dar
lugar a uma Ditadura Militar e que antecedia à implementação do Estado Novo
encabeçado por Salazar. Existem alguns acontecimentos da vida de Humberto
Delgado que gostaríamos de referir, tais como: a sua participação nos acordos
secretos com a Inglaterra a respeito da construção de Bases Aliadas nos Açores
durante a Segunda Guerra Mundial e, em 1952, foi membro do comité dos
Representantes Militares da NATO. Recebeu diversas menções honrosas,
mencionando algumas: Oficial da Ordem Militar de Avis (24 de dezembro de 1936);
Comendador da Ordem Militar de Cristo (11 de abril de 1947); Oficial da Legion
of Merit dos Estados Unidos (17 de setembro de 1955); e Grã-Cruz da Ordem da
Liberdade (30 de junho de 1980, a título póstumo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na sua vida política,
em 1958, concorreu nas eleições como opositor a Américo Tomás (candidato do
regime do Estado Novo). Ganhando popularidade quando numa conferência de
imprensa, a 10 de maio de 1958 no café Chave de Ouro, em Lisboa, um jornalista
perguntou a Delgado o que é que este faria se fosse eleito, ao qual este
respondeu: “Obviamente, demito-o!”. A derrota eleitoral em 1959, devido à
fraude eleitoral montada pelo regime e a par das ameaças da polícia política,
obrigaram Delgado a pedir exílio no Brasil. Em 13 de fevereiro de 1965,
pensando reunir-se com opositores do regime, caiu numa emboscada montada pelos
agentes da PIDE na fronteira espanhola Villanueva del Fresno, onde morre
assassinado. A 19 de julho de 1988, a Assembleia da República decide transladar
os restos mortais de Humberto Delgado para o Panteão Nacional. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bibliografia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Conceição, J. &
Gabriela, L. (2003), <i>Felizmente Há Luar!
de Luís Sttau Monteiro, </i>Porto: Porto Editora. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Marques, A. (1978), <i>História de Portugal, </i>Lisboa: Palas
Editores, p. p. 577-581.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Oliveira, F. (1999),
“Monteiro (Luís de Sttau)” <i>in </i>AAVV, <i>Biblos: Enciclopédia Verbo das Literaturas
de Língua Portuguesa III, </i>Lisboa: Editorial Verbo, p. p. 905-908.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">S.A, <i>Humberto Delgado</i>, s.d., retirado de: </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Humberto_Delgado"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Humberto_Delgado</span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
em 29 de Outubro de 2013. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">S.A, <i>Gomes Freire de Andrade, </i>s.d., retirado
de: </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Gomes_Freire_de_Andrade"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Gomes_Freire_de_Andrade</span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
em 31 de Outubro de 2013.<i> <o:p></o:p></i></span></div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/Lu%C3%ADs%20Sttau%20Monteiro.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ver anexo I no final do artigo. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/Lu%C3%ADs%20Sttau%20Monteiro.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ver anexo II no final do artigo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/Lu%C3%ADs%20Sttau%20Monteiro.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Ver anexo III no final do
artigo.</span><o:p></o:p></div>
</div>
</div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-53961438510520419712013-08-12T19:01:00.002+01:002013-11-12T15:13:59.093+00:00Ramalho Ortigão, Histórias cor-de-rosa<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">José Duarte Ramalho
Ortigão nasceu no Porto a 24 de Outubro de 1836. Foi magistrado, jornalista e
escritor. Decorria o ano de 1865 quando se envolveu na tão afamada Questão
Coimbrã. Desenvolveu laços com o grupo das Conferências do Casino e, em
especial, com Eça de Queirós com o qual colaborou na elaboração d’<i>O Mistério da Estrada de Sintra</i>. Como
resultado desta íntima amizade, iniciou a edição d’<i>As Farpas, </i>estávamos então no ano de 1871. Veio a falecer em Lisboa
a 27 de Setembro de 1915. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A obra que aqui vamos
desfiar é composta por seis histórias: 1ª) <i>A
Dança</i>; 2ª) <i>A morte de Rosinha</i>; 3ª)
<i>Gastão: Memórias da Mocidade </i>(dividida
em 8 capítulos); 4ª) <i>Ele e Ela</i>; 5ª) <i>Uma visita de pêsames: Página da vida
burguesa</i>; 6ª) <i>Na aldeia. </i>Sendo
esta obra essencialmente de cariz romântico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No caso da primeira
história a dança é a temática pungente, saber quem é que a inventou se foi a
Deusa Ops que ensinou os sacerdotes dos templos de Creta e Phrygia a dançar ou
se foi Pyrrho, filho de Achilies, para expressar a sua dor no dia do enterro do
pai. Mas não no retemos apenas por aqui, o nosso narrador também aborda os mais
diversos géneros de dança, tais como: a valsa que é considerada como algo de
tão sensual como um beijo solto ou o cancan francês como algo de exuberante. A
par disto, e ainda associado à dança, encontramos alguns episódios burlescos
como o do cardeal Richelieu que dançou a sarabanda nos aposentos da senhora de
Chevreuse (Ana de Áustria, esposa de Luís XIII).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Na segunda história, temos o relato da morte
de uma rapariguinha de 7 anos com cabeça loira e olhos azuis, de seu nome
Rosinha, que sabia que iria morrer mas a crença na vida após a morte
confortava-a de alguma maneira. Esta inevitabilidade causava na mãe uma grande
angústia que recorreu a tudo ao que estava ao seu alcance para a resgatar do
regaço da morte. Este relato, segundo o narrador, é dedicado a Clarice que
queria uma história factual. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na terceira história,
temos o relato amoroso de Gastão com Fanny. Uma história que começa quando
Gastão tem 18 anos e Fanny na flor dos seus 30 anos, educada no Sacré Couer,
alegre, modesta e de admirável cultura. Os dois passavam as tardes juntos na
casa dela, situada no meio de um bosque de castanheiros, a tocar Beethoven e
Mendelssohn. Pouco depois, Gastão teria que partir para Madrid, Espanha, com o
barão C…, amigo de seu pai, para aí permanecer durante dois meses. Após esse
período, muda-se para França, primeiro em Hombourg-ès-Monts, onde teve uma paixoneta
com uma mulher animada pelo desejo e pela travessura. Viera a separar-se dela
na estação, pois vira-a a namoriscar um hussard no café da gare, no ímpeto
saltou para a carruagem em que seguiam agarrou nos seus pertences e mudou-se
para o primeiro comboio que vinha de Paris, na segunda ou terceira estação
muda-se para o primeiro trem que segue com destino a Paris. Em Paris envolve-se
num duelo de espadas com o conde Toscolo por uma mulher: Dama Branca. De volta
a Lisboa, em 1868, temos Gastão com trinta e dois anos de idade desiludido com
a vida a trocar correspondência com a Madame Veuve de L…, seu antigo amor
(Fanny), agradecendo-lhe pela sua convivência e por ter sido a sua mentora; por
outro lado, Fanny pede-lhe que deixe o amor que foi vivido pelos dois em paz e
enterrado, pede-lhe apenas que fiquem como amigos. No entanto, no final Gastão
contempla o vulto de Fanny através de uma vidraça de uma casa situada num vale
no meio de um bosque de amendoeiras, estabelecendo uma assimilação entre a casa
e uma urna e na qual ficaria para sempre sepultada a memória do seu primeiro
amor. Nas cartas trocadas entre os dois destaca-se, também, outro assunto: a
mediocridade e esterilidade da política portuguesa, fazendo uma comparação com
a política inglesa que sempre era mais prudente e produtiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na história de <i>Ele e Ela</i>, o relato de uma viagem de
comboio entre um português que tinha vindo de Paris na companhia de uma moça
alemã. Pernoitando no hotel Bragança para na manhã seguinte seguirem para Santa
Apolónia em direção ao Porto. No vagão aproveitam para se conhecerem melhor,
enquanto jogavam às cartas. O nosso narrador começa por desvelar que é um jovem
dos seus 30 anos, pobre e de génio apaixonado, de dedos finos; ela confessa-lhe
que é amada mas que esse amor nunca chegou a ir além da correspondência. Após
essa conversa, ela oferece-lhe uma laranja e enquanto ele a comia, uma corrente
de ar rapta-lhe o chapéu, perante tamanho embaraço do cabelo despenteado; o
senhor S. M. ofereceu-lhe um chapéu que estava guardado na sua caixa de
chapéus, contudo saiu pior a emenda que o soneto. Com um chapéu ridículo que
lhe engolia a cabeça e que mais parecia um barrete ornamentado com amores-perfeitos,
o que provocou na alemã duas gargalhadas e a afirmação de que o amava.
Terminando com a comparação do chapéu a um túmulo das suas ilusões para um
formoso dia, ao fim da sua imagem de felicidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na história posterior,
temos como cenário um velório na freguesia da Sé, no Porto, em honra de Josefa
Teixeira esposa do lojista Serafim Gonçalves. E das hostilidades entre este
lojista e o capelista Eusébio Anjos. As hostilidades remontam a uma questão de
supremacia em que os dois concorreram pela mesma confraria numa procissão. E
que estoirou quando, no velório, o regedor deu a conhecer ao merceeiro que a
defunta tinha vendido o ouro para entregar o dinheiro ao António para abrir um
negócio, cujas escrituras e recibos estavam em nome deste, e cujo irmão ficou a
tomar conta do boticário. Este irmão estava a viver em casa de Eusébio. Sabendo
disto, Serafim inicia uma briga com Eusébio, não deixando este de lhe dar
troco. No calor da briga surge um clérigo a anunciar que a defunta está viva e
que apenas tinha sofrido um letargo. Ela surge para felicitar o marido pela sua
lealdade e perdoa-o pelos seus relacionamentos extraconjugais e pela sua
forretice. Daqui chega-nos a seguinte moral: assim como o homem deve ser
comedido nas suas cobranças também a mulher o deve ser à mesa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A nossa última
história, <i>Na aldeia</i>, decorre na época
da apanha das castanhas, retratando o amor vivido entre Pedro, criado de João
Serras, e Margarida, filha deste. Passados cinco meses após a apanha dos
ouriços e de ouvir vários boatos de que se passava qualquer coisa de estranho e
de sobrenatural na casa do tio João da Serra, como era conhecido. João da Serra
senta-se à mesa de forma severa e decide que a filha Margaridinha iria dormir
no quarto dos progenitores. Já ele e o seu filho mais velho iriam esperar
armados no quarto de Margarida a aguardar que alguém abrisse a janela, daí a
pouco tempo surge um vulto masculino imediatamente ouve-se um tiro e o barulho
de um corpo a cair no chão. No dia seguinte descobre-se que esse vulto
pertencia a Pedro, sendo o seu enterro nesse dia e comparecido por Margarida e
alguns habitantes da zona. De desgosto, Margarida suicida-se caindo numa azenha.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como é usual, lançamos
algumas questões ao nosso caro leitor: Qual será a origem da dança? Será que
existe vida para além da morte? O que é o amor? Na última história, parece-nos
indicar um Portugal de gente embrutecida, será que esse género de comportamento
ainda hoje se mantem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bibliografia: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ferraz, M. (1999),
“ORTIGÃO (José Duarte Ramalho)” <i>in </i>AAVV,
<i>Biblos: Enciclopédia Verbo das
Literaturas de Língua Portuguesa vol. III</i>, Lisboa: Editorial Verbo, p.p.
1303-1307. <o:p></o:p></span></div>
</div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-537108924973037602013-06-27T16:30:00.001+01:002013-11-12T15:14:27.382+00:00Júlio Dantas, 1023<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Júlio Dantas nasceu no
conselho de Lagos em 1876, desempenhou diversas funções ao longo dos seus 86
anos, tais como: médico, político, diplomata e escritor. Nesta última
atividade, damos destaque à sua vasta poligrafia que se estende desde a poesia
até ao jornalismo, no entanto foi o teatro que lhe granjeou mais fama, sendo a
peça <i>A Ceia dos Cardeais </i>(1902)<i> </i>a mais conhecida. Ainda dentro desta
ocupação, Dantas foi eleito sócio da Academia de Ciências de Lisboa (1908). Era
considerado retrógrado por alguns intelectuais da época, como Almada Negreiros
que o expõe ao ridículo com o <i>Manifesto
Anti-Dantas. </i>Júlio Dantas veio a falecer em Lisboa em 1962. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Lançou a sua carreira
como jornalista no jornal <i>Novidades</i>
em 1893. De entre as suas melhores obras constam <i>Paços de Vieiros </i>(1903) e <i>Reposteiro
Verde </i>(1921) de pendor claramente naturalista<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>;
contudo nas suas peças teatrais segue uma tendência que se situa entre
romantismo<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a> e
o parnasianismo<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>;
já nas novelas tem por preferência temas históricos. De uma forma planetária,
defende nas suas obras o culto do heroísmo, da elegância e do amor, situando a
trama das suas obras de forma quase incontornável no século XVIII, para
demonstrar o degenerar da aristocracia dessa época. Outras temáticas que estão
igualmente presentes nas suas obras são a exaltação do efémero, da morte e do
sentimentalismo lancinante. O seu trabalho poético é nitidamente inspirado na
lírica palaciana de Garcia de Resende presente no <i>Cancioneiro Geral.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além das obras já
mencionadas, denominamos ainda algumas outras tais como: <i>Nada </i>(1896) e <i>Sonetos </i>(1916),
na poesia; no teatro <i>O Que Morreu de Amor
</i>(1899), <i>Viriato Trágico </i>(1900) e <i>A Severa </i>(1901)<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a> ;
na prosa temos <i>Outros Tempos </i>(1909)<i>, Pátria Portuguesa </i>(1914) e <i>Marcha Triunfal </i>(1954), finalizando com
as traduções <i>Rei Lear </i>(William
Shakespeare), <i>Cyrano de Bergerac </i>(Edmond
Rostand) e <i>O Azougue </i>(Paul Saumière).
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A obra que hoje vai
servir de análise é a peça teatral <i>1023</i>
escrita em verso que foi representada pela primeira vez, em março de 1914, no
teatro a República, em Lisboa. Que conta com a interação entre cinco
personagens (um cauteleiro, um carteiro, um sujeito que lê, uma <i>bonne</i> e uma criança); destas, o
cauteleiro e o carteiro desempenham o papel principal. Decorrendo a ação num
jardim público em Lisboa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A história entre estas
duas personagens principais começa quando o cauteleiro pergunta afetuosamente
ao ti’ Romão (carteiro) se quer uma cautela. Sendo que o dialogo que se
estabelece entre eles se centra no motivo pelo qual o cauteleiro deixou a sua
profissão de carteiro. O motivo apresentado pelo cauteleiro foi uma mulher, de
seu nome Rosa, uma engomadeira (airosa, de pele formosa, que vivia com o irmão
que ainda era pequeno, pobre e alegre) que a cada oito dias recebia uma carta
provinda do Rio, no Brasil, provavelmente de amores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O cauteleiro revela que
até chegou a pregar uma travessura à rapariga, dizendo- -lhe que ainda não tinha chegado a carta,
temendo que ela desmaiasse entregou-lhe a carta deixando-a em êxtase. Porém, um
dia, a carta não chegou, o que lhe passou pela cabeça foi o de dar uma mentira
piedosa à rapariga que seria a chegada atrasada da embarcação <i>Avon </i>que trazia as cartas. Passados 15
dias o então carteiro começa a estranhar a ausência da pequena engomadeira;
perguntou a uma das vizinhas o que era feito da Rosa, ao que uma vizinha lhe
responde que Rosa se encontrava doente; o carteiro vai-se embora para finalizar
a sua distribuição. Só passadas duas semanas, após este episódio, é que volta a
receber a carta provinda do Rio, numa quarta-feira, o deixou o carteiro feliz
como se fosse levar a salvação, melhor, a vida à Rosinha. Mas quando chegou à
morada, ela não estava lá para lhe abrir a porta, voltou a ir perguntar às
vizinhas do piso inferior o que era feito da engomadeira; as vizinhas
responderam que a Rosinha tinha morrido de desgosto por causa de o namorado a
ter deixado, de que havia boatos de que ela o andava a trair. O carteiro foi
cumprir a sua missão de levar a última carta à última morada da sua
destinatária, no cemitério dos prazeres. Chegado à campa, abriu a carta e leu o
seu conteúdo, que era o seguinte: um pedido de desculpa por ter acreditado num
falso boato de que ela lhe era infiel e de que vinha a Portugal para se casar
com a amada. Terminada a leitura, o carteiro num gesto simbólico deixa a carta
em cima da campa junto ao coração. Um par de horas depois, pede a demissão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E foi por esta razão
que veio para cauteleiro, para vender a sorte, mas à seis meses que não a
vendia, até ao presente dia em que o carteiro lhe compra o número da sorte,
contudo a emoção de ter ganho foi tão avassaladora que o carteiro Romão acaba
por se finar, o que deixa o cauteleiro em choque, os transeuntes convergem para
o local por mera curiosidade. Terminando a peça com a frase do cauteleiro de
que era a primeira vez que entregava a sorte grande. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Concluindo, o episódio
que aqui descrevemos aparentemente dá grande importância às coisas simples e
banais da nossa vida: como o amor, a sorte, a tristeza e a alegria; mas não são
estas banalidades as coisas mais importantes da nossa vida? Na analepse narrada
pelo cauteleiro demarca-se um certo amor platónico pela Rosinha, mas este tipo
de amor também não é comum a todos nós? Mas antes disto, o que é o amor
platónico?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bibliografia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Azevedo, S. &
Guimarães, F. (1999), “PARNASIANISMO” <i>in </i>AAVV,
<i>Biblos:</i> <i>Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa vol. III</i>,
Lisboa: Editora Verbo, p.p. 1411-1418.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Baptista, T. (2008), <i>A Invenção do Cinema Português, </i>Lisboa:
Tinta-da-China, p.p. 32-35. <i> <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Brayner, S. & Reis,
C. (1999), “NATURALISMO” <i>in </i>AAVV, <i>Biblos: Enciclopédia Verbo das Literaturas
de Língua Portuguesa vol. III</i>, Lisboa: Editora Verbo, p.p. 1045-1053.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chorão, J. (1997),
“DANTAS (Júlio)” <i>in </i>AAVV, <i>Biblos: Enciclopédia Verbo das Literaturas
de Língua Portuguesa vol. II</i>, Lisboa: Editora Verbo, p.p. 5-6.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Monteiro, O. &
Ribeiro, M. (2001), “ROMANTISMO” <i>in </i>AAVV , <i>Biblos: Enci-clopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa vol.
IV</i>, Lisboa: Editora Verbo, p.p. 963-986.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ribeiro, F. (1983), <i>Filmes, Figuras e Factos da História do
Cinema Português: 1896-1949</i>, Lisboa: Cinemateca Portuguesa, p.p. 279-292. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">S. a., <i>Júlio Dantas, </i>s. d. , retirado de: </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Dantas"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Dantas</span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
em 17 de Abril de 2013. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="line-height: 150%;">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Corrente anti-idealista e
anti-romântica que se situa em princípios dos anos 60 do século XIX, com uma
função crítica e reformista seguindo uma matriz positivista muito centrada que
acredita que as leis naturais comandam os comportamentos humanos e a sociedade,
e que tem como fundamento o determinismo da hereditariedade, do meio e da
educação. Cabe, então, ao autor o estudo do meio, das ideias que circulam nesse
espaço geográfico, a hereditariedade, etc. (Brayner
& Reis, 1999).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText" style="line-height: 150%;">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Esta corrente foi introduzida na
cultura europeia no princípio do século XVIII e que perdura até praticamente ao
seu final. Desenvolve como temática o espírito humano (a disposição dionisíaca
que coabita com a imaginação e a sensibilidade que predominam sobre a razão) em
que o disforme da exposição estética tem como contrapeso o classicismo. Sendo
fortemente influenciada pelo contexto sociocultural, que se estendeu a diversas
áreas tais como: filosofia, arte e literatura. Em que o autor segue uma
filosofia espiritualista do «eu» (auto-afirmação, exaltação sentimental,
religiosidade vaga, o desconsolo e a frustração), que é alimentada pela agrura
da condição humana, a tensão entre a futilidade e crueldade social com a índole
de liberdade que só podem ser preenchidas no sonho ou na morte, a qual
possibilita ao autor pluridividido recuperar a sua unicidade já despojado das
máscaras sociais (Monteiro & Ribeiro, 2001). <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText" style="line-height: 150%;">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Corrente literária presente a
partir do século XIX como uma reação ao romantismo. Tendo como caracter a
beleza formal, os temas exóticos e pictóricos servidos numa poesia ou narrativa
de forma descritiva (Azevedo & Guimarães, 1999).</span> <o:p></o:p></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt;">
<a href="file:///C:/Users/CMJ/Desktop/J%C3%BAlio%20Dantas,%201023.docx#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">
A título de curiosidade, foi a sua obra teatral <i>A Severa</i>, de Júlio Dantas,<i> </i>que
inspirou o realizador José Leitão de Barros a produzir o primeiro fonofilme
português, em 1931, exatamente com o mesmo título (Baptista, 2008 & Ribeiro,
1983). <i> </i> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
</div>
</div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-1719627151494649262013-06-11T11:44:00.001+01:002013-06-11T13:15:54.547+01:00Mais além do que as alternativas<div style="text-align: justify;">
Tem-se discutido muito, mais intensamente desde há um ano para cá, sobre as alternativas à governança não só deste governo, como da UE, como extensivamente, das tendências hegemónicas de uma forma de globalização que se pretende cada vez mais "unilateralizada" - nomeadamente, por meio da liberalização/abertura das economias mundiais, da desregulação dos mercados financeiros, do domínio tácito do pensamento económico das vantagens comparativas, do processo de "desdemocratização" por imperativos da competição global... </div>
<div style="text-align: justify;">
A emergência na esfera pública da discussão sobre as alternativas, mais que deve, só pode ser contemplada como uma forma de resistência a esta tendência que o actual governo, mais troikista do que a troika, cumpre com zelo e acelera. Mas, não nos deve falhar a consciência, de que os princípios e os instrumentos fundamentais, em matéria tanto política quanto económica, já estão aí. Tanto da dextra como para a canhota, os princípios basilares das grandes opções políticas há muito que vêm sendo trabalhados ao longo da história, e culminam, sem ser de todo exaustivo, no pensamento de autores como Karl Marx, John Rawls e Robert Nozick. Acreditando que toda a nova proposta de organização das sociedades humanas (e o pensamento derivado da tradição ecológica, neste sentido, tem para mim um sentido promissor muito forte), terá sempre de revisitar um ou dois ou todos estes autores, ou, pelo menos, o seu legado cultural, que, de forma mais ou menos consciente, se introduziu na nossa massa genética e faz parte do nosso património civilizacional. Antecipando apenas que, de facto, hoje, não estamos de todo a discutir princípios, ou, melhor, estes princípios estão a ser discutidos em circuitos sem a força coerciva daqueles que visam aplicá-los sem discussão - creio que é preciso denunciar bem alto este fenómeno, que, nesse aspecto, não é originalidade da magistratura do governo de agora, faz parte mesma da essência política, da concepção weberiana do Estado enquanto monopólio da violência.</div>
<div style="text-align: justify;">
Da mesma forma, ao nível das instituições, as sociedades ocidentais estão igualmente avançadíssimas. Na tradição do ditame clássico dos "checks and balances", o ocidente não apenas tem colocado freios a si mesmo (necessidade iminente para leituras antropológicas "negras" como as que percepcionam o homem como lobo do homem), como, arrisco, tem substituído sucessivamente a defesa de uma ética do exclusivo interesse próprio (propícia a todo o tipo de corrupção) pela defesa de valores extra-pessoais/comunitários - particularmente, no funcionalismo público, com a consciencialização da "classe", da sua função basilar enquanto alicerce do Estado moderno. </div>
<div style="text-align: justify;">
Acreditando na moldura aqui traçada, fica a pergunta: e, se é assim, o que nos está então a falhar, tendo em conta que princípios e instrumentos estão à mão da nossa mão?</div>
<div style="text-align: justify;">
Não ambicionando ser conclusivo, enfatizo, uma outra vez, a necessidade de lutar pela re-democratização dos Estados-nação e a democratização das instituições supranacionais, acrescentando apenas, o aprofundamento da territorialização. Isto é, o arranjo a todos os níveis - político, cultural, ecológico, económico... - de economias participativas, baseadas no trabalho dos recursos endógenos e na deliberação colectiva. Não esquecendo claro, que problemas globais requerem soluções globais, e que a força política da troika pode ser deduzida do facto de passar à margem do escrutínio popular e na negação coerciva do ampliamento da esfera pública transnacional, o que, friso, tem sido uma boleia muito bem aproveitada pelo governo de Passos Coelho. Concluindo, mais do que revisitar as soluções alternativas é preciso forçar a institucionalização dos espaços em que estas possam, pelo menos, ser discutidas para além do seio "marginal" da sociedade civil e do seu voluntarismo notável. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
David Santos. </div>
<br />
<br />Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-7552396794134234112013-06-05T22:13:00.001+01:002013-06-05T23:41:17.048+01:00Em democracia não deve haver governos impopulares<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora anda em voga o argumento, que procura restaurar um
mínimo de credibilidade a este governo pela hora da morte, que justifica a
impopularidade deste pelo facto de tomar medidas anti-populistas, mas que,
friso, tomam por absolutamente necessárias à resolução de dados problemas
estruturais de Portugal, e que, enfim, apesar da sua impopularidade
intencionam, no médio longo prazo, a restauração da saúde e bem-estar desta
mesma população. Segundo este pensamento estamos portanto a passar por uma
espécie de ritual colectivo de purificação (e tão doloroso que é!) que se
legitima, paradoxalmente, pela promessa de um outro futuro desenvencilhado do
peso da “queda”. Com um povo leviano e piegas que viveu a última década acima
das suas possibilidades, uma elite política que só pensa em agradar aos seus
eleitores esquecendo-se depois de que tem de pagar a factura da sua hybris, e por aí
adiante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ora, a impopularidade deste governo não resulta do facto de
tomar medidas anti-populistas que o corrente funcionamento da democracia representativa
não permite em tempos “normais” – só em tempos de excepção como o que hoje
vivemos com a governança paralela da troika. A impopularidade deste governo
advém, ao pé da letra, da insistência dos seus representantes em cumprirem um
programa que não é mobilizador em termos populares e que só é possível com uma
agenda de alienamento dos cidadãos da participação na coisa pública. É este o
nó górdio do famoso fosso entre governantes e governados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A impopularidade deste governo não deriva do facto de ousar
fazer cumprir medidas não populares mas que são, dentro da sua lógica, cruciais
à restauração da credibilidade socioeconómica do país. Este governo é
impopular, pelo contrário, porque falha a percepção popular da justiça social
das suas medidas, e, para além do mais, não se vislumbram os resultados que
estas prometiam - pelo contrário, há até uma regressão substancial em relação
ao estado de coisas que prometiam remediar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em democracia não deve haver governos impopulares, as
reformas a realizar devem ser trabalhadas num quadro em que se perceba a
racionalidade democrática destas e o seu sentido de justiça – que, seguindo um
liberalista político como John Rawls, é o valor por excelência da política. E
só assim poderemos progredir em todos os âmbitos da realidade social sem
deixarmos congelada a democracia em nome da saúde pública e do bem comum.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
David Santos.<o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 18px;">
</span>Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-56219991056408411222013-05-31T16:44:00.002+01:002013-05-31T16:44:57.102+01:00Duas dimensões diversas de legitimidade política<div style="text-align: justify;">
Discorre-se muito sobre a legitimidade governativa do actual governo. Pois bem, como hoje referiu o líder da bancada do PS Carlos Zorrinho, ao actual governo resta-lhe apenas uma "legitimidade burocrática" sendo que, tal deixa subentender, que há uma dimensão da legitimidade política em que o governo de Pedro Passos Coelho já não participa ou se move para além das suas fronteiras, tanto simbólicas quanto reais. Julgando eu que essa outra legitimidade, e que não o podemos deixar de salientar, é de maior qualidade democrática do que a primeira (a burocrática, que respeita tão só aos processos institucionais, calendários eleitorais...), se depreende, como frisou Pacheco Pereira numa carta a Mário Soares (<a href="http://www.publico.pt/politica/noticia/pacheco-pereira-enviou-mensagem-a-soares-a-criticar-o-actual-governo-1596014">ver aqui</a>), da cada vez mais grave "ruptura entre governantes e governados".</div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, em seguimento a esta leitura das coisas (que distingue duas ordens diversas de legitimidade), em relação, p. ex., ao dramatismo da "suspensão democrática", apenas tenho duas leituras a fazer. Em relação ao primeiro significado de legitimidade (burocrática/institucional), é preciso não negligenciar que as instituições democráticas não foram suspensas. O parlamento continua a funcionar; a escolha dos representantes políticos por meio de eleições livres continua a vigorar e não há qualquer ameaça contra este processo; o tribunal constitucional continua a trabalhar com a autonomia desejada e as suas resoluções continuam a ser respeitadas (com maior ou menor agrado) como espécie de imperativos incondicionais baseados nas elementares regras do jogo democrático parlamentar, etc., etc.</div>
<div style="text-align: justify;">
Já num segundo sentido, de qualidade democrática superior, há verdadeiramente uma "suspensão da democracia" sob a óptica de que o grande projecto ideológico do actual governo de "implementar um programa de engenharia cultural, social e política, que
faz dos portugueses ratos de laboratório de meia dúzia de ideias feitas" (outra vez seguindo Pacheco Pereira) não tem senão, se tanto, um apoio residual das bases. Se calhar, até residual em relação aos seus próprios eleitores. Com isto, não nego qualquer projecto de transformação sócio-económica, cultural, etc., apenas creio que a legitimidade democrática de tal programa deve estar, só pode estar, fundamentada por meio da clara aquiescência das bases, pelo menos, das maiorias - e que, certamente, não é a maioria que concedeu legitimidade governativa ao programa apresentado pelo vigente primeiro-ministro à dois anos atrás. Este projecto de transformação social não pode ser, enfim, fruto de um programa e exercício tecnocratas (seja de direita ou de esquerda) mas uma transformação desejada ou trabalhada nas ou a partir das bases; deve acompanhar o próprio movimento da "sociedade civil" e confirmar-lhe o seu direito inalienável de participar politicamente nos assuntos da esfera pública. É isto que eu desejo para uma esquerda democrática e consciente, que a transformação social a ocorrer possa estar sempre justificada na própria vontade popular e não alienada desta e alinhada em interesses alheios à soberania. </div>
<br />
David Santos.Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-47779248716809318022013-05-25T14:40:00.002+01:002013-05-26T20:32:47.102+01:00A ruptura do novo testamento e a dialéctica entre fé e razão<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO5p_V4qV1VsP10rJJKQTGInkRb-OYFZhRrSg-d49RIYFqqK-3ZMZBMPsHvpicNzefHERvXE8yn2cbh2GUceaU58G0X50FNdShyphenhyphenxc4RCN3ZW8FrzhXDeTNYXk9zxDR7Tn4LQ9bRQ/s1600/transferir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO5p_V4qV1VsP10rJJKQTGInkRb-OYFZhRrSg-d49RIYFqqK-3ZMZBMPsHvpicNzefHERvXE8yn2cbh2GUceaU58G0X50FNdShyphenhyphenxc4RCN3ZW8FrzhXDeTNYXk9zxDR7Tn4LQ9bRQ/s1600/transferir.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Sabemos dos padres da igreja a importância da dialéctica <i>credo ut intelligam/ intelligo ut credam</i>,
i. e, crer para poder compreender e compreender para crer, como chave hermenêutica crucial para a
compreensão da “essência do cristianismo”. E não obstante as contribuições dos
doutores neste sentido, com Agostinho de Hipona, Anselmo de Cantuária (na
origem da primeira proposição) e Pedro Abelardo (na complementaridade da
segunda), tentaremos esboçar uma outra hipótese, ou leitura, no sentido de
também compreendermos, a montante, a justificação para o carácter terminante,
na crença cristã, da inseparabilidade fundamental e dialogante entre fé e
razão, <i>fide et ratio</i>. Para isso basearemos
os nossos argumentos nas próprias sagradas escrituras, particularmente, nas
primeiras páginas do Evangelho de São Mateus, e sem prejuízo da nossa
ignorância nas lides teológicas.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Assim, antes de tudo mais, teremos de estar a par da ruptura
radical entre o antigo e o novo testamento introduzida pelo nazareno. Não que este
recuse dialogar com as leis e com os profetas do AT, bem pelo contrário, é
precisamente dialogando com estes que Jesus vai revelando o que traz de
infinitamente novo com a sua mensagem. Assim diz: “Ouviste o que foi dito: <i>Olho por olho, dente por dente</i>. Eu porém
digo-vos: não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face
direita, oferece-lhe também a outra.” E continua: “Ouviste o que foi dito: <i>Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo</i>.
Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. E
concluímos: “Na verdade, veio João [Baptista], que não come nem bebe, e dizem
dele: ‘Está possesso!’ Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘ Aí
está um glutão e um bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e
pecadores!’ Mas a sabedoria foi justificada pelas suas próprias obras”.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
A consciência do significado profundo da sua ruptura com a
tradição judaica (com a outra “geração”, como Cristo lhe chega a referir-se) é
tal que este não pode deixar de alertar os seus discípulos sobre a sua
radicalidade, nomeadamente, com a eloquente síntese: “Não penseis que vim
trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada”. Interpretando nós a
espada como símbolo dessa cisão fundamental que a sua mensagem acarreta face ao
AT, à tradição.<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Ora, onde é que esta consciência da cisão radical do NT (protagonizado
pela figura de Jesus Cristo) por oposição ao AT (alicerçada nas Leis e nos
Profetas) imbrica com o significado fundamental da relação capital entre fé e
razão na mensagem cristã? Precisamente na nova <i>inteligência</i> com que o nazareno vem dotar a tradição (e, em certos
momentos/diálogos, com a violência da fractura com esta) e na <i>crença</i> de que ele (Cristo) não é um
falso profeta mas o próprio Messias que vem anunciar o reino do céus e redimir
os nossos pecados. Quer dizer, Cristo, com a sua vinda, vem introduzir nos
homens o fardo da própria exigência da <i>fé</i>
no sentido do <i>acreditar</i> (ou não!) que
essa nova <i>inteligência</i> (que funda uma outra ética) não é uma
fraude destinada a corromper os homens do caminho para a salvação, mas a
derradeira mensagem para a salvação. O cristianismo é uma religião de exigência (lembrando aqui, p. ex., um Kierkegaard), antes de submissão incondicional ao dogma e às autoridades seculares, porque, e outra vez Jesus: "Eu digo-vos que aqui está quem é maior que o templo".<o:p></o:p></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
David Santos.</div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-69298191465832692022013-05-21T16:56:00.002+01:002013-05-21T16:56:51.301+01:00Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago (terceira parte)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Aproveitando a deixa, o
velho da venda preta relembra que na altura em que o «mal-branco» começou a
alastrar, a multidão corria para os bancos na ambição de levantar todas as suas
poupanças, seguindo-se uma vaga de assaltos, algumas das pessoas até ficavam nos
subterrâneos a vigiar os cofres, saindo apenas para satisfazer as suas
necessidades, para garantir que mais ninguém entrava chegavam a inventar
palavras-passe e sinais de dedos. Descem até à rua onde residiam o médico e a
mulher, mas a rua em nada se distinguia das outras já anteriormente descritas
como sujas e com cegos vagueando sem destino; no entanto a mulher do médico
idealizava que tudo estaria asseado, nunca pensando que a cegueira se
estendesse ao entendimento. Sobem ao quinto patamar do prédio onde habitavam o
médico e a esposa. Quando entram em casa pela primeira vez, depois de vários
meses passados no manicómio, a mulher do médico repara que está tudo em ordem.
Começa por fazer as tarefas domésticas e por tratar de acomodar todo o grupo,
despiram-se todos para a mulher do médico recolher as roupas e as deixar na
varanda colocando-as junto dos sapados, que já antes tinham sido recolhidos do
patamar de entrada. Observando a cidade, repara em quão diferente está sem as
luzes ligadas, os contornos dos edifícios são quase indistintos do alcatrão.
Após este momento de reflexão, a mulher do médico volta para o interior para
decidir o que irão fazer durante o período em que estiverem todos juntos; a
mulher do médico salienta a importância de alguém a acompanhar nas saídas que
tiver que fazer para, no caso de cegar, alguém a saiba trazer de volta a casa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sendo esta conversa
realizada num juntar alumiado pela luz da candeia de azeite. Após a refeição, a
mulher do médico explica ao rapazinho estrábico o que é uma candeia de azeite,
agarrando-lhe na mão e passando-a no objeto, simultaneamente, acompanhado de
uma descrição. Quando o rapazinho pergunta pela cor do objeto, a mulher do
médico responde-lhe que é amarelo; foi quando o rapazinho, por um breve
momento, se pôs com um ar pensativo o que levou a mulher do médico a suspeitar
que o rapazito iria perguntar pela mãe, mas não, o que o rapazito acabou por
perguntar foi por água. Ela lembrou-se que tinha alguma no depósito de
autoclismo, mas fica ainda mais alegre quando no episódio em que está a dar a
água ao rapazinho estrábico o marido ao perguntar-lhe pelas garrafas de água,
ela se recorda que ainda tem dois garrafões de água pura, estando um deles a
meio, foi uma alegria para todos beberem pela primeira vez, desde que foram
internados, água pura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">De noite a chuva que
caia violentamente, acordou a mulher do médico que tirou proveito da
circunstância para pôr na rua qualquer objeto que pudesse armazenar água, aproveitou
ainda para tomar banho e lavar a roupa, todo este ruído gerado pela chuva acaba
por despertar as outras duas mulheres que depressa prestaram auxílio à mulher
do médico. Após as três tomarem banho, foi a vez dos homens. Sendo o velho da
venda preta o primeiro a lavar-se dentro da banheira, a meio do banho, sente
que alguém lhe está a passar as costas, pensou que fosse a mulher do médico, ou
a do primeiro cego, ou a rapariga dos óculos escuros, enquanto isso as mãos
acabaram a sua obra, a razão pareci-lhe dizer que fora a mulher do médico pois
é a única que ainda possui os cinco sentidos e que tem cuidado de todos aqueles
que estão em casa, mas o palpite é desfalcado ao entrar na sala de estar quando
a mulher do médico afirmou que foi uma pena ele não ter lavado as costas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nessa manhã, saem a
mulher do médico, a mulher do primeiro cego e o primeiro cego, para procurar
comida e para ver se a casa destes já tinha sido ocupada. Pelo caminho, a
mulher do médico procura por lojas onde possa reabastecer. Vão seguindo para a
casa do primeiro cego, chegam ao prédio onde este mora, a mulher do médico
pergunta ao primeiro cego qual o andar em que moram, este responde-lhe que vive
no terceiro. Ao baterem na porta aparece um homem que lhes pergunta quem e
quantos são, ao que o primeiro cego diz que é o proprietário do imóvel e que
vem acompanhado da mulher e de uma amiga do casal; este misterioso homem
deixa-os entrar e revela-lhes que é escritor. A mulher do primeiro cego
pergunta ao escritor qual é o seu nome, este diz que isso já não importa e que
não era o único que estava a viver em casa, haviam ainda a mulher e as duas
filhas que tinham ido à procura de comida. Ele simplesmente estava ocupar a
casa porque já outros cegos se tinham apossado da sua, e é isto que se passa,
regra geral, na cidade. O que ele propõe ao primeiro cego é que deixa as coisas
consoante estão, e quando encontrar a sua casa vazia mudar-se-á imediatamente
para lá e da mesma forma deverá proceder o primeiro cego. Entre os diversos
assuntos que foram levantados, um deles foi o tempo de quarentena, o fato de a
mulher do médico nunca ter perdido a visão, e de o grupo da mulher do médico
ter saído do sanatório à três dias; o escritor diz-lhes que consegue ainda escrever,
entretanto leva-os ao local onde costuma escrever, aí encontrava-se uma mesa
com algumas folhas escritas, outras em branco, e no meio uma folha quase
preenchida, um candeeiro e duas esferográficas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Terminada a visita, os três
voltam para casa do médico carregados com alimentos para os próximos três dias.
À noite a mulher do médico lê um livro que retirou da biblioteca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Passados dois dias o
médico sente curiosidade em saber como andará o seu consultório, a sua mulher
disse-lhe que não se importava de lá ir, a rapariga dos óculos escuros disse
que gostaria de aproveitar a viagem para saber como estava o seu apartamento.
Os três elementos entram no consultório do médico, os arquivos apresentavam
sinais de terem sido revolvidos quanto ao restante estava tudo em ordem. Seguem
para a casa da rapariga dos óculos escuros. À entrada do prédio da rapariga dos
óculos escuros estava o cadáver da vizinha do primeiro andar com umas chaves na
mão, a mulher do médico recolheu-as e entregou-as à rapariga dos óculos escuros;
agarram no corpo da velha para o enterrar no quintal do prédio. Depois de
enterrada a velha do primeiro andar; a rapariga dos óculos escuros pensa em
deixar um sinal de que está viva, para o caso dos pais voltarem para casa, a
mulher do médico sobe ao apartamento da rapariga dos óculos escuros pelas
escadas de salvação abrindo a porta com as chaves que estavam na mão da venha,
vai buscar uma tesoura e um cordel, corta uma madeixa de cabelo da rapariga dos
óculos escuros para a pendurar no puxador da porta. Voltam outra vez para casa
do médico onde, novamente, houve uma secção de leitura e audição, em que no
final se estabelece uma conversa entre a rapariga dos óculos escuros e o velho
da venda preta, sobre as suas esperanças de voltarem a ver, no meio da conversa
os dois acabam por declarar que gostam um do outro, descobrindo- -se assim,
quem lavou as costas ao velho naquela manhã chuvosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No dia seguinte, a
mulher e o médico vão ao subterrâneo do supermercado para se abastecerem com
comida. Chegados ao supermercado, a primeira coisa que a mulher do médico nota
é que não entra nem sai ninguém do supermercado, ao entrar ela apercebe-se do
cheiro a putrefação e que se intensifica à medida que avançam em direção à
cave, na altura em que a mulher do médico seu interior da cave o cheiro é ainda
mais nauseabundo, quando chega ao fundo das escadas repara nos cadáveres que
ali estavam amontoados; o marido ouve os vómitos, os arrancos e a tosse,
acompanhados pelo uivo do cão das lágrimas, e que o move a descer as escadas à
procura da mulher. Ele guia-a até à saída da cave e ela conta-lhe o que viu, e
que se sente culpada por ter dado a entender aos cegos que ainda havia comida
nalguma zona do supermercado, no momento em que saiu do estabelecimento com os
sacos da comida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A mulher mal se podia
arrastar quando saíram do supermercado, não era de estranhar pois ainda
continuavam com os sacos vazios, do outro lado da rua estava uma igreja onde
ela pensou ser um bom sítio para ela descansar, o marido vai amparando-a, com o
interior da igreja a abarrotar era difícil encontrar local onde a mulher
pudesse repousar, o cão das lágrimas com os seus rosnidos consegue arranjar
espaço onde a mulher pudesse deitar-se, mas o marido ajuda-a para que se sente,
aos poucos ela lá consegue melhorar. Começa a olhar para as imagens e
esculturas dos santos, mas algo lhe prende a atenção, os santos estavam vendados
com vendas brancas e as imagens com os olhos pintados de branco; quando ela
disse que os santos estavam vendados com vendas brancas a uma cega, estando os
outros a ouvir, foi o pânico geral, toda a gente saiu. Os únicos que ficaram
foi o cão das lágrimas que começou a farejar à cata de comida, a mulher e o médico
que conseguiram encher os sacos até a meio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chegados a casa fazem o
relato aos restantes companheiros, a mulher do médico sobrelevou que estava
cada vez mais difícil de encontrar comida que talvez devessem ir viver para o
campo, onde seria mais fácil obter alimento. À noite, como se tinha tornado
usual, seguiu-se uma secção de leitura. Durante a secção o primeiro cego
adormece, nos seus pensamentos a ideia de abandonar a cidade, e com isso a sua
casa, para ir viver para o campo parecia-lhe um erro. Algo de perplexo se passa,
começa a ver tudo negro, pensa que terá passado de um estado de cegueira para
outro, este pavor da treva fá-lo gemer; o que chama a atenção da esposa, o que
ele lhe responde que está cego, ela para o consolar dá-lhe um abraço e diz-lhe
para voltar a dormir. O que o deixa irritado, começa a abrir os olhos e
descobre que vê e grita a sua descoberta, movido pelo furor começa a abraçar
todos os que se encontravam na sala, o médico começa a pensar que talvez este
«mal-branco» esteja próximo do fim; este acontecimento tornou-se tema de
conversa durante as horas que se seguiram. Já noite alta, a segunda pessoa a
recuperar a vista é a rapariga dos óculos escuros, observou a quem tinha feito
promessas de uma vida a dois durante o seu estado de cegueira, e dá-lhe um
abraço como se o acordo ainda estivesse de pé; o terceiro a recuperar a vista,
já durante as primeiras horas da manhã, é o médico. Os restantes era apenas uma
questão de tempo até recuperarem a visão. Na conversa que se estabelece entre a
mulher do médico e o marido a respeito do velho da venda preta, o médico
termina com esta observação: que talvez não tivessem ficado cegos e que naquele
preciso momento eram cegos que vêem. Depois disto, o médico foi à janela
assistir as pessoas que gritavam e cantavam por terem recuperado a visão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Finalizando este nosso
resumo. Fazendo uma interligação entre alguns dos espaços da obra (sanatório,
supermercado e igreja); não será o supermercado a catedral dos nossos dias,
onde o fideísmo pelo consumo chega à demência? Por acaso, não será o episódio
de vendar e pintar as imagens dos santos uma expressão de uma sociedade
desprovida de valores morais? E não será este episódio também uma forma de
moldar os deuses e santos à nossa imagem? Avançando, também não será simbólico
quando em tempos de dificuldade as pessoas recorrerem à igreja, como os cegos
que estavam deitados no seu interior? Não seremos nós cegos que não querem
enxergar a sua condição de ser intrínseco à natureza, mesmo estando as nossas
necessidades básicas a alertar-nos para isso? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Fernando de Almeida.<o:p></o:p></span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-29166081012579569302013-04-20T23:36:00.000+01:002013-04-20T23:36:55.061+01:00Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago (Segunda parte) <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Quando finalizados os bens para a permuta, o
bando impôs que a comida fosse trocada pelo deleite sexual; o que causou a
indignação da maioria das mulheres e do seu protesto contra tal prática. Há apenas
uma que aceita de imediato a proposta dos bandidos, desde que tenha comida e
cama. Os homens que partilhavam a camarata com elas, procuraram convencê-las a
aceitar a dita troca. Nesse instante, há uma mulher que se volta para um homem
e pergunta-lhe solenemente diante de todos: “E se eles em vez de mulheres
quisessem homens para terem sexo? Seriam vocês capazes de aceitar?” O homem,
muito espantado, respondeu que se fosse esse o caso aceitaria. Elas acalmaram--se,
e rogadas lá foram seguindo os capatazes do grupo que as levaram até ao
terceiro esquerdo do corredor, durante o caminho a mulher do médico espreita
para dentro das camaratas dentro das quais haviam mulheres que gritavam cada
vez que um homem lhes tocava, quando elas chegam à camarata o porteiro avisa de
imediato a sua chegada. O chefe do bando escolheu aquela que mais lhe agradava
para satisfazer a sua concupiscência, à medida que o tempo ia passando o
cenário ia-se transformando em bacanal e de violência desenfreada em que as
mulheres davam espasmos de dor, uma delas chega a morrer logo depois da orgia,
no outro dia de manhã, em que todas voltavam para as suas camaratas com a
comida. De manhã, voltam outra vez os mensageiros à procura de novas mulheres,
pelo percurso, passam pela camarata da mulher do médico. Os três criticavam a
mulher das insónias, desdenhavam-lhe o corpo, que o corpo dela não valia nada, um
deles pergunta o que é feito dela; ao que a mulher do médico retruca em tom
provocatório, com a intenção de lhes causar algum remorso, que ela não valia
nada e, consequentemente, que a pergunta nem sequer merecia ser colocada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Esta chantagem dos cegos malvados causa na
mulher do médico o desejo de querer pôr cobro a tudo isto. Ela olha para a
parede da sua camarata onde tinha pendurado a tesoura que encontrou na sua
mala, pensando em usa-la como um punhal, agarra-a e vai até à camarata onde
estavam os cegos malvados, procurando sempre passar despercebida no meio deles.
Direcciona-se para o chefe dos bandidos que estava a ter relações sexuais,
coloca-se atrás do chefe e aponta-lhe a tesoura ao pescoço no qual iria
desferir o golpe mortal, o sangue esguicha e salpica a cara da mulher que
prestava o serviço ao chefe do bando, a rapariga emite um grito com tal
intensidade que põe todo o grupo em alvoroço. As mulheres entram em rodopio procurando
uma saída do quarto; a mulher do médico agarra a dita mulher e tapa-lhe a boca
para evitar que ela continue a gritar e para sair dali de forma segura, depois
reúne as mulheres que ali se encontravam e leva-as em fila indiana até às
outras camaratas. Atrás delas, à porta da camarata dos bandidos, estava o
contabilista dando tiros para o tecto que gritou que as refeições iriam deixar
de ser distribuídas, dando a entender que era ele agora quem dava as ordens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A necessidade de alimento compele os cegos a
magicar um plano para o conseguir. O primeiro a falar é o velho da venda preta
que propõe que se devia denunciar a culpada pela morte do chefe do bando de
malfeitores, talvez o bando dos bandidos os perdoasse e lhes entregassem
comida; o segundo homem, o ajudante de farmácia, diz que todos se deviam unir
para entrar à força na camarata dos bandidos; por último, o médico diz que
todos deviam aguardar até à hora de entrega das refeições pelos militares e que
não deviam atacar o bando por enquanto, porque estavam armados. Todos esperaram
até à hora da refeição, contudo os militares nunca mais chegaram com a comida e
ainda continuaram à espera, só depois de passadas algumas horas é que decidiram
atuar. Os cegos organizam-se e planeiam a forma como devem entrar na camarata
dos bandidos, armam-se com os ferros das camas, mandam a mulher do médico ir
ver se os bandidos tinham barrado a entrada com as camas; a mulher do médico
vai à camarata dos bandidos para verificar se estes tinham alguma coisa a tapar
a entrada, e de facto a suspeita confirmou-se da pior forma, os bandidos tinham
colocado duas filas de camas a tapar a entrada; volta novamente à camarata para
contar aos companheiros o que tinha visto. Conta-lhes que não é possível entrar
na camarata dos bandidos sem serem detetados, e de que as hipóteses de sair
daquela camarata com vida eram escassas. Mesmo assim, os cegos tentam forçar a
entrada, do interior da camarata saem dois disparos que acabam por levar a vida
de dois homens, um deles farmacêutico. No desejo de entrar naquela camarata
houve uma mulher que pensou que a melhor hipótese seria deitar fogo às camas
com o intento de obrigar os bandidos a sair da sua toca, e assim fez, agarrou
num isqueiro e foi até à entrada da camarata dos bandidos, começou por pegar
fogo na parte lateral das camas. Um pensamento invadiu de imediato a cabeça da
mulher: «e se os bandidos têm um balde e apagam o fogo», meteu-se debaixo das
camas e passou o isqueiro a todo o comprimento das mesmas, mas depressa o fogo
lambeu-lhe os cabelos e ela tornou-se numa pira. Dentro da camarata, os cegos
malvados estavam em pânico que lhes era animado pelo cheiro a fumo e pelo calor
estonteante. Sentem as labaredas a aproximar-se, começam a subir para cima dos
móveis para conseguir alívio, mas acabam por servir de alimento às chamas.
Aqueles que estavam no corredor à espera para lhes atacar, ouvem os uivos
daqueles que ardiam, depressa entendem que têm de sair dali. Vão para o
exterior do manicómio, ajudados pela mulher do médico. Já no exterior, a mulher
do médico observa que os soldados já lá não estão para os vigiar; a mulher
observa agora o manicómio a arder, era a única fonte de calor e de luz que
rompia com aquela noite gélida, exausta senta-se no chão tal como todos os
outros, aconchegados pelo calor proveniente do manicómio acabam por dormir. De
manhã saem do perímetro de segurança que tinha sido montado pelos soldados,
combinam para qual das casas é que devem ir. Chegam a acordo, a primeira casa
para onde eles tencionam ir é da rapariga dos óculos escuros e a segunda é a
casa do velho de venda preta, partindo daqui a restante ordem de casas a
visitar: a da mulher do médico, a do rapazinho estrábico e a do primeiro cego.
Apesar de tudo, como o velho da venda preta apenas tinha o quarto alugado e o
rapazinho estrábico não se lembrava onde morava, limitaram-se, portanto, a
seguir os restantes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Dirigem-se para o centro da
cidade e deparam-se com um cenário desolador, com casas e lojas pilhadas, com
ruas sujas de tudo aquilo que se possa imaginar de nojento. As pessoas que
estavam na rua procuravam desesperadamente algo que lhes possa encher o
estômago. Vêem um grupo a sair de uma loja, a mulher do médico vai falar com
alguém desse grupo; um dos elementos do dito grupo transmite-lhe que a doença
se propagou de um grupo de pessoas para depois se estender a todo o país.
Aqueles soldados que guardavam o manicómio foram os últimos a serem vitimados
pelo «mal branco». Além disso, a cidade já não é abastecida com alimento e
outros bens essenciais desde que a doença se alastrou. Desde modo, as pessoas
sentido falta de alimento começaram a alimentar-se dos seus animais domésticos,
depois começaram a alimentar-se dos cães vadios mas depressa estes aprenderam a
evitar as pessoas, havia também grupos de cães raivosos que atacavam as
pessoas. E ainda havia pessoas que se alimentavam de cadáveres, humanos ou não,
tal como faziam os cães. Pelo motivo de escassez de alimento o grupo que estava
no interior da loja decide ir à procura de alimento nas cidades mais próximas;
despedem-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A mulher do médico e o resto
do seu séquito entram dentro da loja de eletrodomésticos, ela diz-lhes que
aguardem por ela no interior da loja enquanto vai buscar alimento. A mulher sai
da loja e deambula pela cidade à procura de um supermercado ou de alguma loja
que ainda tenha uma réstia de algo que se coma. Finalmente, chegada ao
supermercado a mulher do médico vê, no interior da superfície comercial, os
cegos a andarem por entre as prateleiras à procura de alimento, chegavam a
derrubar estantes, a andar de gatas, enfim, tudo o que uma mistura de cegueira
e fome lhes possa obrigar a fazer na busca desesperada por alimento. A mulher
do médico deu rapidamente com o local onde os alimentos estavam armazenados, ou
seja, a cave do supermercado, abriu a porta devagar, observou, foi buscar sacos
e entrou para encher os sacos que tinha na mão com todos os alimentos e objetos
que queria, comeu ainda um chouriço para recobrar forças para a sua empresa,
depois de saciar a fome ela saiu da cave e fechou a porta, com a intenção de
mais tarde ali voltar. Olhou para a saída do supermercado, procurou chegar até
lá pé ante pé contornando os cegos; quando há um cego, que a meio do caminho,
sente um bafo forte a chouriço e grita que alguém estava a comer chouriço;
nisto, a mulher do médico mete as iguarias atrás das costas e lança-se numa
correria em direção à porta de saída do supermercado. No caminho de regresso,
passa por diversos cegos com a cara apontada para o céu e de boca aberta para
receber a chuva, alguns com baldes e tachos para armazenar água; e por viaturas
estacionadas de forma caótica. Enquanto caminha de regresso a casa, a mulher do
médico procura saber por onde é que veio, começa a ficar cada vez mais
desesperada pois acredita que se perdeu, senta-se e desata a chorar, nesse
momento, um cão aproxima-se dela; ela afaga- -o e começa a lacrimejar para cima
do animal. Para sua grande sorte, ela repara que há ali, à sua frente, um mapa
da cidade; chegou-se para junto do mapa e procurou qual era a rua onde estava
situada e a loja de electrodomésticos onde os seus amigos estavam. Seguiu pelo
caminho que estava indicado no mapa até à loja, o cão limitou-se a segui-la
para todo o lado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Quando chegou ao
estabelecimento, começa por distribuir comida ao grupo, narrou-lhes o que se
tinha passado no supermercado, rindo-se todos do infortúnio do cego que tinha
espetado o vidro no joelho, chegando a dar alguma comida que trazia no saco ao
cão que devorou tudo o que ela lhe entregou. Depois do repasto, o grupo saiu da
loja com o objetivo de procurar vestuário e calçado, após isto, seguiram para o
apartamento da rapariga dos óculos escuros. Chegam ao prédio onde vivia a
rapariga, a mulher do médico juntamente com a rapariga dos óculos escuros sobem
ao segundo apartamento, mas não estava ninguém para abrir a porta. As duas
procuram nos restantes apartamentos e nada, até que no primeiro piso encontram
uma vizinha, que lhes abre a porta, denotando-se um cheiro putrefacto que vinha
do interior do apartamento, a mulher põe as duas a par do que se passou com os
pais e restantes vizinhos após terem levado a rapariga de óculos escuros para o
manicómio abandonado, revelando-lhes que vivia da comida que estava armazenada
dentro das casas e daquilo que o quintal dos fundos do prédio produzia. A
vizinha (idosa e de cabelos desgrenhados) ofereceu passagem às duas para irem
ao apartamento da rapariga dos óculos escuros pelas escadas de salvação, mas
avisa-as de que já não existe comida nos restantes apartamentos, a mulher do
médico responde-lhe que trazem comida, nessa altura, a velha, em troca do
favor, pede-lhes alguma comida. As duas entram no apartamento, e o cheiro
intensifica-se cada vez mais à medida que avançam no interior da habitação,
atingindo o seu auge na cozinha onde estavam coelhos esfolados, além de restos
de comida; saem pelos fundos e sobem ao apartamento da rapariga dos óculos
escuros pelas escadas de salvação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Entraram no apartamento da
rapariga de óculos escuros pela porta das traseiras que se encontrava aberta,
já a respetiva chave encontrava-se na posse da velha; mas, para grande
felicidade das duas mulheres, as chaves da porta de entrada ainda estavam
penduradas na fechadura, não sendo necessário pedir à velha para deixar passar
todo o grupo, evitando dessa forma o seu mau humor. A mulher do médico foi
chamar o grupo que era seguido pelo cão (chamado pelo narrador o cão das
lágrimas), o barulho do tropel leva a vizinha do primeiro andar a abrir a porta
e a perguntar quem vinha, a rapariga de óculos escuros responde-lhe que eram os
restantes elementos do seu grupo, nesse momento, a velha relembra-lhes que lhe
tinham de lhe dar de comida, e foi aí que o cão das lágrimas ladrou ferozmente
à velha que se recolheu assustada com o cão. Assim que todos entraram dentro do
apartamento, antes de jantarem, a rapariga de óculos escuros e a mulher do
médico foram ao andar de baixo cumprir o compromisso; nessa altura a velha
entrega a chave dos fundos à rapariga de óculos escuros. A seguir ao repasto, a
rapariga de óculos escuros e a mulher do médico conversam, a primeira disse que
tinha intenções de ficar no apartamento, já a segunda alerta-a para a competição
pelo alimento com a vizinha de baixo além da hipótese de adquirir os hábitos da
mesma, como comer carne crua e da casa parecer uma pocilga, mas a rapariga de
óculos escuros encara isso como inevitável assim que se perdeu a visão e que
sem este dom é como se estivesse morta. Nesse sentido, a mulher do médico
diz-lhe que devido à cegueira os sentimentos tenham mudado, pois os sentimentos
são construídos em grande parte pela visão; por este motivo, sugere-lhe que
venha com o resto do grupo até à casa do médico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Na manhã seguinte, trataram desde logo de
satisfazer as suas necessidades fisiológicas e de higiene ao ar livre. Depois
de todos estarem satisfeitos, foram para a mesa para decidir o que fazer, o que
a mulher do médico propõe ao grupo é de que continuem a viver juntos, antes de
saírem recomenda à rapariga de óculos escuros que deixe as chaves com a vizinha
do primeiro andar em troca do favor entregava-lhe ainda mais alimento,
posteriormente o grupo seguiu caminho para a casa do médico. A mulher do médico
ia à frente do grupo, quando saem do prédio colocam-se ao lado uns dos outros e
seguem de mãos dadas e entrançados com uma tira de pano até à casa do médico.
Pelo caminho por um luxuoso bairro, cuja riqueza se espelha nas viaturas que
estão estacionadas diante das vivendas, uma delas uma limousine estacionada à
porta de um banco. A pessoa a quem servia, o presidente do conselho de
administração, que ficou preso no elevador juntamente com o ascensor por causa
de uma falha de energia provocada pela paragem do gerador que ainda não era
automático, que por isso necessitava dos eletricistas para o manter a
funcionar, mas que por motivos do mal branco não o puderam fazer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Fernando de Almeida</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-90393477865251613862013-03-24T21:36:00.001+00:002013-03-29T21:20:50.253+00:00Ensaio sobre a Cegueira, José Saramago (Primeira parte)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Descendente de
agricultores, José Saramago nasceu em Azinhaga, província do Ribatejo, a 16 de
Novembro de 1922, embora oficialmente esteja registado no dia 18. Antes de
atingir os dois anos de idade os seus pais mudaram-se para Lisboa, foi na
capital que fez o ensino secundário, não progredindo nos estudos por
dificuldades económicas. Em 1947 publica o seu primeiro romance: <i>Terra do Pecado. </i>Para além de escritor,
Saramago também teve outras ocupações, como crítico literário na revista <i>Seara Nova</i> ou os anos em que trabalhou
na redacção do jornal <i>Diário de Lisboa </i>como
comentador político. Na sua vida mais íntima casou com Pilar del Rio em 1988.
Precisamente dez anos mais tarde, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da
Literatura. E a 18 de Junho de 2010 falece. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A narrativa da presente obra começa num cenário
corriqueiro da cidade, uma fila de trânsito parada num semáforo. Quando o
semáforo passa a verde o carro que está no primeiro lugar da fila não avança,
pensa-se que o carro esteja avariado, como é natural nestas situações; aproxima-se
então um grupo de curiosos para saber qual era a avaria, chegam junto ao vidro
do lado do condutor para saber qual o motivo de estar parado, o condutor
responde que cegou de repente. Do aparato de pessoas que se formou em torno do
carro, há uma que se oferece para levar o cego a casa. O voluntário lá entra
dentro da viatura e lá leva o cego até casa. Quando chegam a casa do dito cego
(denominado de primeiro cego pelo autor), o “bom samaritano” disponibiliza-se
para ficar a tomar conta do invisual até que a mulher deste chegue do trabalho.
O cego fica desconfiado com tanta cortesia e diz que prefere esperar sozinho
até que a sua mulher chegue; enquanto está à espera, o cego deambula pela casa
e tomba o vaso que estava em cima da mesa e apanha as flores e os cacos e
coloca-os no lixo, deixando como marca deste acontecimento um monte de terra.
Vai-se deitar no sofá e imagina-se a jogar à cabra cega e cada vez que abria os
olhos via o mundo tal como ele era, ao mesmo tempo, pensava que a cegueira
podia ser suportável desde que houvesse uma recordação boa antes de começar a
ver o mundo de negro que cobre os seres; porém ele não via o seu mundo coberto
por um negro, mas antes, por um branco que engole todas as cores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">No momento em que a mulher do primeiro cego
chega a casa depara-se com um monte de terra no chão, o que constitui o motivo
para ralhar com o marido que estava deitado no sofá, ele alega que está cego,
ela retruca dizendo-lhe para se deixar de brincadeiras, mas ele insiste até ela
começar a acreditar. Ela repara que o marido tinha a mão ensanguentada devido à
recolha dos cacos; vai buscar a caixa de primeiros socorros para tratar a mão.
Posteriormente a isto, os dois decidem marcar uma consulta no oftalmologista. A
mulher pergunta ao marido pelas chaves do carro e ele responde-lhe que não as
tinha. Talvez o “bom samaritano” se tivesse esquecido de as entregar ou elas
estivessem na ignição. A mulher foi à procura da viatura nas imediações do
prédio, como não o conseguia descobrir, pensa de imediato que o carro tinha
sido roubado e resolve chamar um táxi para levar o marido ao consultório. O
marido houve o som de um táxi, pergunta o porquê do táxi; a mulher disse-lhe, em
tom irónico, que talvez o “bom samaritano venha amanhã devolver as chaves”. Os
dois vão de táxi até ao consultório.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Ao chegarem à sala de espera do consultório,
repararam num zarolho de venda preta, numa criança estrábica acompanhada pela
mãe e uma rapariga de óculos escuros que de imediato protestaram, exceto o
velho com a pala no olho, assim que o médico chama o primeiro cego e a mulher
que tinham chegado muito depois. O médico para acalmar os ânimos, justificou a
sua escolha pela urgência do caso; nessa altura todos se acalmaram e deixaram o
primeiro cego e a mulher entrar dentro do gabinete do médico. Aí o médico
começou a examinar o paciente, diz que a vista parece estar de perfeita saúde e
de que é estranho que alguém cegue assim de repente, e ainda mais estranho é o
facto de o paciente nunca ter usado óculos e de ser ainda jovem para ter aquele
género de problema, afinal só tinha 38 anos de idade. O médico para se informar
melhor acerca do problema telefona para um colega, este diz-lhe que nunca teve
perante si semelhante caso e afirma desconhecer, mediante os sintomas que lhe
são apresentados, o que será a doença. Assim, o médico aconselha o doente a
fazer exames no hospital. Curioso com este caso, o médico vai para casa
vasculhar nos seus livros de medicina sobre o que será este tipo de doença, à
medida que ele vai procurando e que a noite avança o médico sente cada vez mais
dificuldade em ver o que está escrito nos livros e o mesmo se sucede quando
olha para as mãos até que subitamente deixa de ver seja o que for e fica
mergulhado num imenso mar branco, sai do escritório e vai para a casa de banho
procurando fazer o mínimo chinfrim para não acordar a mulher, de seguida vai-se
deitar. No outro dia, contou à mulher que estava cego e que contraiu a doença
de um paciente que tinha ido ao seu consultório por causa de uma cegueira que
teve de repente. Foi este acontecimento que despoletou no médico o dever de
alertar o ministério da saúde para o facto de existir uma doença contagiosa de
cegueira. Telefona para o ministério, mas não lhe dão qualquer importância até
ao momento em que começam a surgir novos casos, os primeiros portadores da
doença são exatamente os clientes do médico. Então o governador do município
decide colocar todas as pessoas doentes ou com suspeita de doença da
«cegueira-branca» num manicómio abandonado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">À luz destes acontecimentos o ministério decide
recolher todos os doentes e suspeitos desta doença para os colocar no
manicómio. Quando aí chegam são-lhes transmitidas ordens, como o facto de que
no caso de haver qualquer incêndio não receberiam qualquer ajuda do exterior ou
no caso de que não receberiam qualquer ajuda médica e, ainda, informações
relativas ao horário da alimentação e onde é que esta iria ser deixada para
recolha dos doentes; tudo isto era transmitido do exterior para aqueles que
estavam dentro do edifício através de um altifalante que aí se encontrava. De
entre estes doentes, contam-se o oftalmologista, o primeiro cego e a sua mulher,
a rapariga dos óculos escuros </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> que na altura em que cegou
estava a ter relações sexuais com o velho da venda preta </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">, o
velho da venda preta e a empregada do hotel </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> que encontrou
a rapariga de óculos escuros nua em cima da cama </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−,</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> e o
polícia </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> que
acompanhou a rapariga dos óculos escuros à casa dos pais </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−,</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> o
rapazinho estrábico </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> que tinha estado no
consultório do médico acompanhado pela mãe </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">, o
ladrão </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> que
tinha roubado o carro ao primeiro cego </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">−</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> e o
polícia que o prendeu, e, para terminar, temos o taxista que acompanhou o
primeiro cego ao médico. Além destes, temos a mulher do médico que para
acompanhar o marido fingiu estar cega. A mulher do médico resolve explorar as
instalações, de seguida foi dormir. No dia seguinte, a mulher do médico foi
ensinar aos cegos qual o caminho para a casa de banho, conduzi-os em fila
indiana pelo corredor, quando repentinamente se houve o gemido de dor do ladrão
do automóvel que seguia por detrás da rapariga de óculos escuros. Ela acertou-lhe
com a agulha do sapato na perna, logo abaixo da virilha, pela razão de que o
ladrão estava a apalpar-lhe os seios; a mulher do médico diz para todos
aguardarem por ela enquanto vai buscar qualquer coisa para fazer o curativo à
perna do desgraçado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Depois das necessidades fisiológicas feitas, os
cegos dirigem-se novamente para a camarata (segunda direita) e deitam-se nas
respetivas camas; ouviram o altifalante que lhes indicou que as refeições
estavam no hall de entrada, a mulher do médico foi buscar as refeições da sua
camarata e distribui-as pelos companheiros da camarata. Chegada a noite todos
dormem, exceto o miserável que ficou com a perna a sangrar e que não
conseguindo dormir sai do manicómio aproximando-se do perímetro de segurança
que estava guardado por militares. Estes avisam-no para ele voltar para trás,
mas ele não respeita as ordens e continua a andar na esperança de que estes lhe
arranjem apoio médico, contudo engana-se e acaba por ser abatido. No dia
seguinte, quando todos acordam dão pela falta do companheiro, nessa altura
começa a ouvir-se a voz do altifalante que diz lamentar ter usado a violência e
informa a todos os presentes que devem ir recolher o corpo e enterra-lo no
pátio interior, a mulher do médico vai buscar o corpo e pede uma enxada e uma
pá ao sargento, que se encontra no meio dos outros militares a proteger o
perímetro de segurança, que acede ao requisito. Posteriormente, a mulher leva o
cadáver para o pátio onde ele é enterrado. Logo depois, ouve-se novamente o
altifalante a notificar os doentes para virem buscar as refeições. Os soldados,
como é habitual, levam as refeições até ao hall de entrada quando os cegos
avançam repentinamente para eles na ânsia de conseguirem uma refeição, os
soldados nervosos começam a disparar sobre os cegos que deles se aproximam e
saem dali a correr. Ouve-se o altifalante a lamentar o sucedido. Mas desta vez,
como os cegos pertenciam à terceira camarata direita coube a essa mesma
camarata enterrar os cegos, contudo, estes mortos vão continuar onde estão até
o dia do incêndio. A partir desse dia os cegos tinham que sair à rua até perto
do perímetro de segurança para vir buscar as refeições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Mais tarde para piorar a situação chegam ainda
mais outros cegos, dos quais se forma um grupo de cegos maus que tenta ao
máximo tirar partido da situação pois havia entre eles um cego com uma arma de
fogo, que ficou de imediato como chefe do bando, enquanto os restantes membros
estavam munidos com os ferros da cama. A primeira coisa que este grupo fez
quando chegou foi apoderar-se de todas as refeições que deviam ser entregues a
todas as camaratas do manicómio, trocando-as por bens que os restantes doentes
traziam consigo. Os únicos bens que permaneciam, sem os bandidos saberem, era o
rádio do cego com a venda preta que o utilizava para saber das notícias do
exterior e, por vezes, era usado pela rapariga de óculos escuros para
satisfazer o seu desejo de ouvir música. Além deste objeto, ficou a tesoura que
a mulher do médico tinha retirado da mala para pendurar na parede. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fernando de
Almeida<o:p></o:p></span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-63351748715818950762013-02-26T21:33:00.002+00:002013-03-04T19:06:27.299+00:00Só, António Nobre <br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">A
obra que partilharemos convosco realizada em 1892 por António Nobre. Nobre
nascera na cidade do Porto a 16 de Agosto de 1867; vai cursar direito em
Coimbra; vendo a sua empresa frustrada, segue para Paris inscrevendo-se na
Universidade de Sobornne em 1890 onde conclui o tão almejado curso em 1893; em
1900 no dia 18 de Março falece na Foz do Douro devido à Tuberculose que já vinha
minando a sua saúde desde o término dos estudos universitários. Da sua
personalidade, damos destaque à sua figura extravagante e dândi, que se
denotarão nalguns dos poemas que iremos enunciar. A acrescentar, este poeta foi
um dos protagonistas do neogarrettismo (mais conhecido por neoromantismo)
cronologicamente situado no último quartel do século XIX que presta homenagem
aos românticos, em especial os introdutores do romantismo português como, por
exemplo, Almeida Garrett. Ideologicamente nacionalista trata de recuperar a
literatura popular pela convicção de que ela é a fonte genuína da cultura
portuguesa dando-lhe a pedra toque do romantismo como os sentimentos de
orfandade e perda de identidade; que se enquadram na escola decadentista. Esta
escola literária tinha como preferência o simbolismo; por sua vez, esta
doutrina foi formulada em finais do século XIX em ataque direto aos parnasianos
– que defendiam que a obra de arte vale
pela sua qualidade de imitação da realidade exterior –, contrapondo com a concepção
de que a obra de arte vale por si mesma, pelos sentimentos, sensações e
pensamentos que conseguem despertar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Abordando
a obra propriamente dita, <i>Só </i>é
mediatizada pela memória, no entanto, não a podemos minimizar a uma simples
autobiografia escrita por um tuberculoso, como iremos desvelar ao longo deste
pequeno texto. No momento em que esta obra chegou às mãos do publico; causou
grande estupefacção pelo provocante narcisismo, voluntário infantilismo e
prosaísmo aparente de certos motivos e a coloquialidade de certas formas a par
de chocantes componentes imaginíficas (o funério, o macabro, o mórbido) e de
liberdades estrófico-versatórias ainda escassas em obras nefelibatas – que se
tipificam pelos aspetos intermotivados e coesos que estão presentes na obra e a
que o autor permanece fiel. Aprofundando ainda mais o nosso estudo, apesar de
António Nobre anunciar no início desta obra “que é o livro mais triste que há
em Portugal” (“Memória”), e embora a tristeza seja o sentimento perseverante em
toda a obra, ainda existe uma centelha de felicidade que brilha na infância
vivida no norte de Portugal, pelo relembrar das gentes do Douro interior como
expressa o poema: “Para as raparigas de Coimbra”, sobressaindo a vida boémia,
típica do ambiente estudantil experienciado em Coimbra, a alegria dos arrais a
companhia das moçoilas que dançam numa euforia que convive com um cenário
macabro e irónico de doença e morte «como se o autor nos quisesse alertar que a
vida e a morte andam de mão dada e que constituem um eterno ciclo» o que,
também, demarca um certo pessimismo como o demonstra “Baladas do Caixão”. Já
noutro poema (“Memória”), exibe uma certa nostalgia pela infância, mas sempre
com o prenúncio de destino fatal insurgido pelas moiras na mesma composição do
poeta afirma-se como filho de Virgílio, destacando-se como um poeta nato,
revelando ainda a sua faceta de extravagante e sonhador inconsequente, sendo
esta última face atestada no poema: “Na praia lá da Boa Nova”. E que convive
com o seu lado saudosista (“Saudade”), evocando poetas do passado, como
Virgílio e Garrett. Ainda fazendo referência a este último autor temos “Viagens
na Minha Terra”, descrevendo cenários pitorescos portugueses, como sucede no
soneto: “Poveirinhos! Meus velhos pescadores”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Iniciando
a nossa análise formal da obra, 1898 Nobre introduz uma ordenação por sessões
recriando a vida de uma personagem: sendo as três primeiras constituídas por um
único (o proémio “Memória”; “António”; e “Lusitânia no Bairro Latino”) a que se
seguem as restantes sessões, já constituídas por diversos textos (“Entre Douro
e Minho”; “Lua Cheia”; “Lua Quarto-Minguante”; dezoito “Sonetos”; “Elegias”; e
o longo díptico “Males do Anto”). Sobressaindo ainda o fato do poema “Memória”,
que até à primeira data de edição (1892) estava estruturado num soneto, sofre
uma alteração na segunda edição (1898) passando a estar disposto em dezoito
dísticos alexandrinos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Passamos
agora a confrontar o nosso amigo com a seguinte questão, e tendo como exemplo
toda uma geração que vai desde os pré-românticos até aos neoromânticos, poderá
a morte, assim como tudo aquilo que gira em torno dela, servir de eixo motriz
para a criatividade? E porquê? E de que forma? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;">Fernando de Almeida.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-72164244363482178952013-01-03T14:14:00.003+00:002013-01-03T14:14:42.425+00:00Testamento Político, D. Luiz da Cunha<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">O
autor desta obra, manuscrita no século XVIII, sugere a D. José, na época ainda
príncipe, que tome para futuro regente do reino Sebastião José de Carvalho e
Melo (futuro Marquês de Pombal), projetando as matrizes pelas quais se iria
nortear a administração pombalina. Debruçando-nos de forma breve, agora nos
dados biográficos do autor, D. Luiz da Cunha nasceu em Lisboa a 25 de Janeiro
de 1662. Formando-se em direito canónico em 1686; em 1696 inicia a sua carreira
diplomática em Londres como embaixador em Portugal; falecendo em Paris a 9 de
Dezembro de 1740.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nesta
obra, o autor adverte para a importância do bom governo da nação, da
importância da autoridade real ser reforçada perante a autoridade do ministro
para evitar a diminuição de crédito e prejuízo do monarca perante os
estrangeiros, recorrendo ao exemplo o duque de Malborough que se levantou com o
poder que era devido a rainha Ana de Inglaterra. Além disso, existe ainda a
analogia do rei com o pai de família; qual pai que se mostra regrado e em que
cada um dos seus domésticos exercem as funções que lhes competem, sendo exemplo
disso os secretariados pelos quais se divide o poder; em que além destes
deveres, o rei deve aparecer em público afim de corresponder ao amor do povo,
acompanhado das suas tropas com o intuito de mostrar a sua autoridade, de
procurar manter a paz para não perturbar a economia e de vigiar a sua riqueza e
de controlar os seus gastos, estando estes pontos ligados a dois eixos que
também se encontram interligados entre si: a justiça e o bom governo do país.
Continuando ainda a falar de medidas, o rei deve visitar as suas terras afim de
as controlar, por essa razão deve mandar construir vias de comunicação, sendo a
sua utilidade alastrada à produção e, inevitavelmente, ao comercio. A respeito
de economia, o autor sugere que a cobrança de impostos não só deve ser feita às
heranças como também à igreja, pois todos devem contribuir para o Estado sem
exceção. Quanto aos incentivos, recomenda-se a retirada das terras a quem não
as cultiva para as entregar nas mãos de quem se comprometa a cultiva-las; além
da promoção e mecenato do produto nacional exercida pelo rei, tendo como
exemplo a área do vestuário, em que o rei se vestia apenas com aquilo que fosse
produto português mostrando o seu desagrado por aqueles que usassem vestuário
de origem além-fronteiras, para que dessa forma todos se sentissem compelidos a
usar aquilo que era produzido pelo nosso país, além de ir contratar os melhores
artesãos estrangeiros para a manufatura de tecidos, como o fizeram o Czar da
Moscóvia e el-rei Guilherme III da Inglaterra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Passando
agora para questões de ordem social. Talvez, uma das grandes propostas que este
autor fez foi: por fim a distinção entre cristão-velho e cristão-novo dando a
possibilidade de livre exercício da prática religiosa, sendo que isto não só
seria bom para a economia do país como para o aumento demográfico, porque assim
existem mais pessoas para produzir. Outro ponto é a obrigação dos corregedores
e juízes a entregar todos os meses ao presidente do paço ou ao regedor das
justiças uma lista das pessoas que vivem na sua jurisdição e das suas ocupações
para não consentirem na entrada de marginais, como acontece na Holanda.
Seguindo este rego, exige-se uma maior celeridade da justiça, pois certos casos
que são demorosos tanto podem ser prejudiciais para vítima como para o culpado,
não só por razões de perda de tempo como de custos do processo; a acrescentar,
temos ainda um maior controlo dos rendimentos dos agentes da justiça, sendo que
em caso de corrupção, os mesmos devem ser passíveis de sofrer coima e prisão
efetiva, sendo a severidade da punição equivalente à dimensão do crime.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Outros
assuntos com que nos deparamos na leitura da obra, são as relações políticas e
comerciais de Portugal com outros países. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Podemos
concluir que foi graças a estrangeirados, como D. Luiz da Cunha, que se
introduziram em Portugal, obscurecido pela ignorância e fideísmo vivido até ao
Marquês de Pombal, novas ideias e formas de pensar, como grande exemplo disso é
o fim da distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos, abrindo portas para
a liberdade da prática religiosa e, com isso, a laicização do Estado. Mais, com
a lista das ocupações realizada pelos corregedores e juízes e que era entregue
mensalmente ao presidente do paço e ao regedor das justiças, abre-se a
possibilidade para a criação dos censos. Porém ainda há muito a fazer em
relação à justiça e à impunidade daqueles que dela conseguem escapar. Com
atenção a isto e com a noção daquilo usualmente acontece na justiça portuguesa,
o que é que o leitor acha que poderia ser feito para melhorar o funcionamento
do sistema? Além disso, será que existe a necessidade do controlo das
atividades de cada indivíduo para garantir a harmonia social, ou será que isso
iria comprometer a (re)inserção do sujeito?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Despeço-me
agora desejando ao nosso amigo cibernauta uma boa entrada de ano, pois
prosperidade é como dizia Zeca Afonso naquela famosa canção: “Eles comem
tudo…”, por outro lado também não podemos ser tão pessimistas, visto que ainda
temos como alternativa emigrar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Fernando de Almeida.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-59072679150455955172012-12-11T17:15:00.001+00:002012-12-11T17:17:51.914+00:00Lógica, Immanuel Kant (quarta parte)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Voltando ao
conhecimento humano, ele é discursivo, isto é, ocorre mediante representações
em que aquilo que é comum entre diversas coisas funciona como princípio
cognitivo, recorrendo a caraterísticas. Depreendendo-se que reconhecemos as
coisas pelas suas caraterísticas e do reconhecer advém o conhecer. E o que é
que o autor define como caraterística? A caraterística é apenas uma parte de um
todo que constitui o conhecimento da coisa. Sendo dividida em duas vertentes:
a) a representação em si mesma e b) como princípio cognitivo de uma coisa.
Explicando este último ponto de outro modo, o princípio cognitivo de uma coisa
é a uma parte daquilo que constitui a coisa. E aqui podemos encontrar um duplo
uso: o uso interno que consiste na dedução, partindo das caraterísticas para
chegar ao conhecimento das próprias coisas, e o uso externo, que se baseia na
comparação de caraterísticas e das próprias coisas obedecendo às leis da
identidade e da diversidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Existem ainda diversas
classificações para essas caraterísticas. Entre elas, temos as analíticas que
se limitam a conceitos parciais do conceito real (que já são pensadas pelo
sujeito, pois o conceito já está dado, não gerando qualquer ampliação do nosso
conhecimento), enquanto que as caraterísticas sintéticas são o conjunto de
conceitos parciais para formar um conceito total possível (só a partir da
síntese das várias partes se consegue formar um conceito total possível, desse
modo, existe um alargar do nosso horizonte de conhecimento). De seguida, temos
as caraterísticas coordenadas que consiste na representação imediata da coisa;
enquanto as subordinadas uma caraterística da coisa só é representada por meio
de outra. Caraterísticas afirmativas, é o que a coisa é; caraterísticas
negativas, é o que a coisa não é. Nas caraterísticas importantes e frutíferas,
o que importa é o número e importância das consequências oferecidas pelo
princípio cognitivo; ao contrário daquilo que se passa com as caraterísticas
vazias e irrelevantes. E, por último, as caraterísticas suficientes e
necessárias; suficientes, pois uma coisa é distinta de todas as outras, e
necessárias têm que estar sempre na coisa representada; em antigónia às
caraterísticas insuficientes e contingentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Também outro tema que
temos vindo a desenvolver ultimamente é a verdade. A verdade é uma propriedade
objetiva do conhecimento, porém se tem por fonte um sujeito é subjetivamente um
assentimento, que se divide em duas espécies: a incerteza, que se tipifica pela
causalidade e da possibilidade do oposto – como a opinião e a fé –, e a certeza
que está associada à consciência da necessidade – saber. A partir das costuras
já traçadas, temos três modos de assentimento: opinião, fé e saber. Começando
pela opinião, ela é um julgar problemático; a fé é um julgar assertórico; e o
saber um julgar apodíctico. Sendo o opinar apenas a consciência de julgar
problemática; sendo o assertórico algo que não é necessário e apenas válido
para o sujeito, por último o saber que é geral e objetivamente válido, ou seja,
que é válido para todos. Na área da opinião o fundamento cognitivo, sem suporte
subjetivo nem objetivo suficientes, apenas pode ser visto como juízo provisório
e nada mais do que isso. No plano da fé, o assentimento é objetivamente
insuficiente, por contrapartida, é subjetivamente suficiente e diz respeito a
objetos de que nada se pode saber e aos quais nem sequer se atribui
probabilidade, o assentimento é livre e apenas necessário num propósito prático
que inclui razões morais. O saber é um fundamento cognitivo, que é
objetivamente e subjetivamente suficiente, é ou empírico ou racional, pois
advém de duas fontes de conhecimento: a experiência e a razão. Ambas podem ser
imediata ou mediata, ou seja, ou não necessita de nenhuma prova, porque é
imediatamente certo ou indemonstrável, ou carece de prova. Sendo que as provas
podem ser de natureza direta ou indireta, isto é, apagógicas. Fazendo agora uma
distinção entre as duas: a certeza empírica é ou originária (experiência
própria) ou derivada (consciência alheia, frequentemente discriminada por
certeza histórica); certeza racional distingue-se da empírica pela consciência
de necessidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas quando fazemos dos
juízos provisórios de juízos determinantes ou princípios, sendo a sua causa a
confusão entre fundamentos objetivos devido à falta de reflexão, então,
começamos a mergulhar no campo dos preconceitos, cujas fontes podem ser: a
imitação, que é tomar simplesmente por verdadeiro aquilo que outros puseram a
circular, cujos expedientes são: fórmulas, máximas, sentenças, cânones e
provérbios; quanto ao hábito, advém da retenção do nosso entendimento num juízo
por razões erradas, e que sucessivamente vai ficando embaraçado e que só por
força do tempo se vê obrigado a eliminar o juízo preconceituoso, que dimana dos
preconceitos de prestígio (preconceitos de prestígio de pessoa, preconceitos de
prestígio de multidão e preconceitos de prestígio da época) ou preconceitos de
amor-próprio; e a inclinação que é o uso passivo da razão. Para evitar isto o
autor alerta não se reter a juventude na simples imitação, como usualmente
acontece.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A complementar tudo o que já foi revelado
anteriormente, surge a temática da dúvida que tanto pode ser originária da
existência da possibilidade contrária como, também, pode ser um simples
obstáculo do assentimento, que pode ser subjetiva – estado de ânimo – ou
objetiva – conhecimento da insuficiência de razões para o assentimento, usualmente
designada de objecção. Sendo que a razão contrária ao assentimento de ordem
subjetiva chamada de escrúpulo. A dúvida funciona segundo o princípio de tornar
incertos determinados conhecimentos procurando demonstrar a impossibilidade de
chegar à certeza, como acontece no cepticismo, mas que pode ser útil quando
retida na suspensão do juízo e quando conjugada com o método crítico, típico do
método de filosofar, que analisa as afirmações e as objecções na esperança de
chegar à certeza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Já no caso da hipótese,
entrando na temática da probabilidade, consiste num assentimento do juízo
acerca da verdade de um fundamento em virtude da suficiência das consequências.
Sendo os requisitos os seguintes: 1ª.) a possibilidade da própria
pressuposição, ou seja, a verossimilhança com o intuito de evitar cair na
invenção; 2.ª) a consequência, pois só de fundamentos corretos derivam
consequências corretas; e 3.ª) a unidade, em que a hipótese deve sustentar-se
por si mesma, sem necessitar de hipótese auxiliares. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Avançando para os últimos
momentos da obra, encontramos as seguintes secções: 1.ª) dos conceitos; 2.ª)
dos juízos; e 3.ª) dos raciocínios; que, para além de desenvolver aquilo que já
vem a ser tratado ao longo da obra vai ainda abordar a lógica aristotélica; no
último momento, temos como tema a metodologia geral que engloba os seguintes
assuntos: a) fomento da perfeição lógica do conhecimento mediante a definição,
a exposição e a descrição dos conceitos; e b) fomento da perfeição do
conhecimento por divisão lógica dos conceitos; que toma como assunto os
conceitos, o seu tratamento, bem como, a sua exposição. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Concluindo, o
conhecimento humano é um conhecimento que recorre às caraterísticas comuns
entre diversas coisas, funcionando como princípios cognitivos; e que tanto
podem partir do todo para as partes (caraterísticas analíticas) como podem
partir das partes para o todo (caraterísticas sintéticas). E apesar da verdade
ser uma propriedade objetiva do conhecimento, ela pode ter como fonte uma
pessoa e, desse modo, temos subjetivamente um assentimento. Ora se damos
assentimento a alguém, podemos facilmente cair num preconceito de prestígio,
para evitar isso, recomenda-se o juízo provisório que, pondo em suspenso
qualquer juízo determinante, põe no crivo da análise crítica todas as
afirmações e objecções com o objetivo de chegar a uma certeza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Passando para a
atualidade da obra, ela ainda hoje permanece atual, basta darmos uma olhadela na
metodologia científica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Bem, caros leitores,
terminamos a nossa epopeia anual com esta magnífica obra do pensamento moderno,
lamentamos não termos tido mais tempo para uma análise mais digna desta obra,
mas por razões de economia de tempo tivemos que proceder desta forma; advertimo-los
que estes pequenos textos são fruto de interpretações da leitura das próprias
obras e que em nada se compara com a leitura das mesmas. A todos desejo um
feliz natal e próspero ano novo, para o ano voltaremos com mais comentários
sobre novas obras.</span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Fernando de Almeida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 276.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-33125375735303957922012-11-27T17:19:00.000+00:002012-11-27T17:19:15.575+00:00Crítica da crítica da crítica<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8f7JAd_cIpZ-aeW2jaVHvk6Bk3dlqkbuRdGnzJpjir0cw-f9W021t8O_gCj1HF-OfUNsFwTnW2f2FCb_15IBug0v4bTJbXKB1uA9vg3Rfe3W6thDVB49SB487I_wHj-L75H-FVQ/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8f7JAd_cIpZ-aeW2jaVHvk6Bk3dlqkbuRdGnzJpjir0cw-f9W021t8O_gCj1HF-OfUNsFwTnW2f2FCb_15IBug0v4bTJbXKB1uA9vg3Rfe3W6thDVB49SB487I_wHj-L75H-FVQ/s200/images.jpg" width="180" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Vivemos acima das nossas possibilidades. A frase
é repetida até à exaustão, não apenas pelo governo - que procura, desta forma,
legitimar retoricamente os motivos para a sua austeridade -, como por
determinados arautos, concubinos e outros comentadores da comunicação social (os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">opinion makers</i> à portuguesa), como ainda
por personalidades como a Isabel Jonet e outros membros eclesiásticos. O que
estes ainda não se deram ao trabalho de fazer foi de analisar, do ponto vista
formal, lógico, a frase em questão; se se tivessem dado a esse trabalho decerto
perceberiam que a proposição que defendem só tem, ou só ganha sentido, por meio
do enviesamento ideológico que encobrem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ora vejamos, não é viver acima das
possibilidades viver o impossível? Por seu turno, viver o impossível é
manifestamente impossível, logo, o sentido desta asserção não pode estar
contido na frase em si, isto é, considerada isoladamente. Portanto, para
podermos compreender o que pretendem significar os que dela fazem, até à
náusea, uso, teremos de adentrar, por sua vez, na conceção que estes fazem da
realidade que pretendem designar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É que, de facto, se vivemos até agora como
vivemos – acima das nossas possibilidades, como insistem alguns e que não são
poucos! - é porque o sistema socioeconómico, mais que o permitiu, o
possibilitou, isto é, tornou possível. Agora, vem à boca a questão, por que é
que, hoje, já não é possível continuarmos a viver como anteriormente? Como se
justifica esta regressão ou “arrefecimento” das condições de vida gerais, que, permitiram,
p. ex., a emergência de uma classe média massificada e o Estado Social que
tivemos até agora e que hoje está sob ameaça patente? O que vem interromper
esse estado de coisas? Se o trabalho social, a produção mundial, com a UE à
cabeça, explorada sob a égide capitalista, tornou possível, até este momento de
regressão, o nível de vida que tivemos, qual o fator, ou conjunto de fatores,
que vêm agora inviabilizar esta realidade? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O que pretendo chamar a atenção é para o facto
de a possibilidade de termos tido as condições de vida que até este momento
tivemos, não é uma possibilidade do sistema capitalista financeiro mas, antes,
e ainda que este primeiro o queria obliterar nomeadamente com a preservação da
cisão/relação credor/devedor, do trabalho social. A UE, com todos os seus
recursos (tanto naturais como humanos), com a sua capacidade de produção, não
precisa que seja o sistema bancário (enquanto linha da frente do sistema
financeiro mundial) a fazer parte significativa da distribuição dessa riqueza sob
a forma de créditos, isto é, de dívida. A UE, com os recursos e mecanismos que
possui, não precisa desta crise. O que está em jogo é a urgência de uma nova
racionalidade que possa gerir o binómio produção/distribuição, preservando o
enquadramento institucional da UE (enquanto unidade supranacional), sem que as
relações - detentores dos meios de produção/detentores da força de trabalho - ou -
credores/devedores - se convertam em relações de poder consolidadas e
impossibilitem uma distribuição justa do produto global dessa unidade
supranacional. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">David Santos.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-23657778114659540802012-11-25T16:37:00.002+00:002012-11-25T16:47:32.053+00:00Lógica, Immanuel Kant (terceira parte) <!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a e2d3e160d="true" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMCHR0CaaUMGW27qIdQzPRDQHiquvZR0GWvOHCSk8TsSgkAsTkxJxggzUyYKQCyqek06Op-PNHIdo5Am8J3ZNQMzMRWr5NKzAWeDckutldSa5rdcayxK34sP1n7BkV9SsH7Pk6ww/s1600/190px-Immanuel_Kant_(painted_portrait).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMCHR0CaaUMGW27qIdQzPRDQHiquvZR0GWvOHCSk8TsSgkAsTkxJxggzUyYKQCyqek06Op-PNHIdo5Am8J3ZNQMzMRWr5NKzAWeDckutldSa5rdcayxK34sP1n7BkV9SsH7Pk6ww/s200/190px-Immanuel_Kant_(painted_portrait).jpg" width="158" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Continuando o nosso passeio,
ainda dentro do horizonte de conhecimento do sujeito, temos um saber que é
absoluto e universal – em que os limites do conhecimento humano estão em
sintonia com os limites da perfeição humana em geral – ou um saber que é
particular e condicionado – que pertence ao horizonte do privado e que está
limitado às próprias faculdades inteletuais do sujeito. Isto conduz-nos a
diferentes tipos de conhecimentos, que iremos começar desde já a ilustrar: o
saber histórico sem quaisquer limites (poli-história) e o conhecimento racional
(polimatia). Do alinhar destes dois saberes resulta a pansofia. Por outro lado,
o saber histórico comporta em si a ciência dos instrumentos de erudição – a
filologia, que é o conhecimento crítico que se debruça na literatura e
linguística. E é daqui que surge o literato ou bel spirit que se interessa
pelos conhecimentos do gosto que estão de acordo com a moda. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quanto às ciências, temos o
pedantismo e o enfantramento. Enquanto a primeira se ocupa das ciências de
escola, restringindo-as no que respeita ao seu uso, o segundo trata de lhe dar
uma utilidade pragmática, limitando o conteúdo. Surgindo duas grandezas: a
grandeza intensa [que contempla a validade e importância], e a grandeza
extensiva [que diz respeito à vastidão, aqui convêm fazermos a seguintes
observações: a) o uso do entendimento foca-se no todo e não nas partes; b) no plano
lógico, dominar todo o conhecimento que suscite a perfeição lógica quanto à
forma. Embora não seja possível prever a sua importância prática quanto à
especificidade, mas é possível esperar que exista alguma utilidade; c) não
confundir importância com dificuldade, pois um conhecimento pode ser importante
sem ser obrigatoriamente difícil. A importância de um conhecimento é
justificada pela vastidão das suas consequências. Porém, se as consequências
tiverem pouco relevo, então, obtivemos um mero devaneio de conhecimento. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Outro assunto, também ele de
interesse, é a verdade. O que é a verdade, perguntam vocês? Seguindo o caminho
trilhado pelo filósofo em análise, a verdade consiste no acordo do conhecimento
com o seu objeto, consequentemente, o sujeito só pode comparar o objeto porque
o conhece, daí segue-se que, o conhecimento acerca de um objeto necessita de
auto-confirmar-se. Seguindo um critério formal de verdade que consiste
exatamente nesta coerência do conhecimento consigo mesmo, o <span style="mso-tab-count: 1;"> </span>qual está imbuído de três princípios de
verdade: a) princípio da contradição e da identidade; b) o princípio da razão
suficiente; e c) o princípio do terceiro excluído. Já o seu antagónico, a
falsidade, se for tomado como verdade chama-se erro. E que pode ter como origem
uma segunda fonte de conhecimento, que é a sensibilidade que nos fornece o
material que constitui a matéria do nosso pensamento e que se desenvolve
segundo leis diferentes das do entendimento e que, por vezes, nos pode levar a
confundir aparência com a própria verdade. Deste modo, para evitar tais erros à
que identificar essa aparência, que pode ser clarificada com o juízo de outros,
claro que se existir diferendo, então, temos indício de erro. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E daqui surgem duas regras: a
primeira, é a verdade da consequência, pois a consequência é determinada pelo
seu princípio, que é o conhecimento; a segunda, que consiste no seu contrário,
que se as consequências são verdadeiras, logo o conhecimento é verdadeiro. Por
outro lado, esta influência da sensibilidade leva-nos a tomar por objetivo algo
que é subjetivo e que tem apenas aparência de verdade. Para que se evite tal
malfeito, o autor recomenda as seguintes precauções: 1) pensamento próprio
(modo de pensar ilustrado); 2) pensar na posição do outro (modo de pensar
alargado), e; 3) pensar em acordo consigo mesmo (modo de pensar consequente). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Concluindo, verificamos que o
pedantismo se ocupa das ciências da escola, por seu lado, o enfatramento
procura dar uma utilidade pragmática a essas ciências. Segundo ponto visa a
verdade como conhecimento que se identifica com o seu objeto e que se
auto-confirma; à verdade seguem-se os seus critérios formais, inspirados nos
critérios aristotélicos e a regra de princípios - consequência; além das
preocupações relativas à sensibilidade, uma vez que ela nos pode conduzir ao
erro.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Fernando de Almeida. </span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-69843642966681468212012-11-12T01:04:00.002+00:002012-11-12T01:25:19.803+00:00The Visitor - um filme sobre ética da globalização<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8CctkjkQeTTsNPY5HmjWjNmqubfqhdakb-MdsfG-YCVYZe0SN3B3fMrSTfVwFpVJLKc2rnaMIFoOUQaR9JYBfn1DD3eqkI1SZEJ7kUdNGkDnp1xLslUPKAP2b0SThjFMzkx6dRg/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8CctkjkQeTTsNPY5HmjWjNmqubfqhdakb-MdsfG-YCVYZe0SN3B3fMrSTfVwFpVJLKc2rnaMIFoOUQaR9JYBfn1DD3eqkI1SZEJ7kUdNGkDnp1xLslUPKAP2b0SThjFMzkx6dRg/s320/images.jpg" width="226" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>The Visitor </i>(Thomas McCarthy, 2007<span style="font-size: 9pt; line-height: 150%;">) </span>é um filme sobre
ética da/na globalização. Uma ética que se desenvolve para além dos simples
limites do cosmopolitismo, para além da tolerância ociosa e estéril, do baço
verniz das convenções, de um multiculturalismo sem multiculturalidade, da hegemonização
das formalidades em detrimento da pulsão da alteridade, para além da
burocratização, esse universal mecânico, frouxo, não criador. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>The Visitor</i> narra a história de um professor
universitário de economia que não se reconhece na sua profissão, nas suas
habituais funções, no seu vivido quotidiano, naquelas que são as expetativas de
vida para um norte-americano branco e viúvo, quarentão intelectual de economia.
Em vão que Walter Vale tenta aprender piano – um dos únicos instrumentos
musicais toleráveis para o seu “tipo”. Mas não espantará que, mais tarde, se
revele um inato talento para o djembê<span style="line-height: 150%;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A
sua vida só principia a mudar quando, por ocasião da necessidade de apresentar
em Nova Iorque um livro para o qual nem contribui (ainda que a verdadeira
autora tenha tido a magnanimidade interessada de o colocar como coautor), Vale
encontra o seu apartamento nesta cidade ocupado por um casal de estrangeiros.
Um jovem sírio de nome Tarek e uma jovem oriunda de Senegal chamada Zainab.
Alguém, um desconhecido Ivan e que saberia da sua prolongada ausência de Nova
Iorque, teria alugado, sem o seu consentimento, o apartamento a este casal. Contrariando
as expectativas do casal Tarek e Zainab, Vale demonstra grande transigência
perante este cenário de grosseira ocupação da sua propriedade, e, mesmo estes
últimos, logo que provada a real pertença da propriedade, imediatamente se
conformam à sua nova realidade e se apressam, por meio de mil e um pedidos de
desculpas e gestos de embaraço, a fazer as malas. Mais tarde se saberá o motivo
para a vigorosa cooperação do casal - estavam ambos ilegais no país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tudo
ocorre, portanto, nessa, que ainda é esta, América pós 11 de Setembro. Uma
América onde as contradições (hipocrisias!) da globalização se tornam ainda
mais flagrantes, onde ainda se insiste na retórica das vantagens da abertura
das economias dos países em desenvolvimento mas onde os imigrantes oriundos
desses mesmos países “em desenvolvimento” encontram cada vez mais as portas
fechadas para a realização das suas justificadas expectativas. Uma América
constitucionalmente suspensa no que toca a estes estrangeiros, nomeadamente os
que não são atestadamente ocidentais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É
sob este delicado contexto que Walter Vale acolhe na sua casa esse casal de
estranhos depois de que estes se preparavam para partir. Não o fez por sobranceira
comiseração ou piedade orgulhosa. De alguma forma Walter sabia que esse seu
gesto enunciava já aquela ansiada rutura radical com a vida que escolhera até
aí. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É
com Tarek que o professor começa a aprender djembê. É uma aprendizagem profunda
que, no seu paulatino desenvolvimento, o faz comungar com todos aqueles negros e outros
árabes do Central Park a tocar para um público ocasional e inteiramente
gratuito. É uma formação que o liberta, que tem por efeito o estalar do frágil
verniz de uma existência cuidadosamente maquilhada, mas espetacularmente falsa.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Entretanto,
depois do sírio lhe ter oferecido um djembê, Tarek é detido no metro. Tudo não
passou de um infeliz incidente, tornado verosímil pela conjuntura
xenofobicamente opressora do pós 11/10. De repente, depois dessa catástrofe,
passou a ser permitida a detenção arbitrária de todo e qualquer imigrante (nomeadamente, o não caucasiano) que,
assim, se descobriram elevados à categoria universal de suspeitos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Walter
não apenas se revolta com esta situação, sabendo da inocência de Tarek e da sua
generosidade natural, como, inclusive, se voluntaria para acompanhar todo o
processo, pagando um advogado e servindo de intermediário entre este, a namorada do jovem </span><span style="line-height: 24px;">muçulmano</span><span style="line-height: 150%;"> e, mais tarde, a mãe de Tarek. Já que ambas não o podem visitar no
centro de detenção pelo facto de estarem, igualmente, ilegais no país. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mouna,
a mãe do sírio, é uma mulher pujante, de carácter notável, que é forçada a
regressar de Michigan após ter tentado contactar o seu filho durante três dias
seguidos, e, pela qual, Walter rapidamente se enamora. Fugira de Síria, levando
o seu filho, precisamente por motivos de perseguição política (que conduziram à
morte na prisão do seu ex-marido, um ativo jornalista) e, agora, no “país da
liberdade”, vê-se confrontada com a mesma realidade, desta feita, com o bem-estar
do seu filho posto em causa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Apesar
dos esforços do economista e de Mouna, não conseguem evitar a deportação de
Tarek. Que, aliás, Walter só toma conhecimento no próprio dia em que Tarek fora,
sem aviso e com todo o expediente, deportado. Esse tratamento revolta Vale que,
relevando a sua impotência contra esse estado de coisas, exterioriza a sua cólera,
já impossível de ser contida, contra dois funcionários negros impávidos e
serenos do lado de lá do guiché de informações do centro de detenção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">É
com amargura que este se despede de Mouna, que não mais pode continuar nos
Estados Unidos sabendo que o seu filho já está na Síria. Ambos sabem da elevada
improbabilidade de se tornarem a ver e, consequentemente, de realizarem as suas
existências incompletas por via de uma pedagogia de sucessiva abertura ao outro; não o outro fantasmático ou o outro que, implacavelmente </span><span style="line-height: 24px;">estereotipado</span><span style="line-height: 150%;">, não passa do mesmo, mas o outro concreto, incarnado, o outro outro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O
filme termina com Walter a tocar vigorosamente djembê num banco na estação do
metro. De camisa branca desfraldada, sem gravata, rodeado por dois negros, o barulho
do metro no seu constante vai e vem, um homem branco, atravessando aquele
cenário, vagamente indiferente, apressado, empregando uma discreta gravata cinzenta,
barba bem aparada, um simples homem de negócios, talvez…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">David Santos.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-40518106071481103972012-11-09T19:43:00.002+00:002012-11-09T19:47:47.933+00:00Também na UBI, nos dias seguintes às comemorações vespertinas do Dia Internacional da Filosofia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgidaW-HNl0AYs7LzWMq9NgdoBi73JpLUxOfdvdDs58B7-rTx6hBe5hK7d0TxRTuONZMWRKYtunfOZRvvm2x6pxJ94-aObtwOSfKSBzhUnQwPtKhfDFs88gvUKXtKzQsnhQimFgTA/s1600/Cartaz_Rousseau.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgidaW-HNl0AYs7LzWMq9NgdoBi73JpLUxOfdvdDs58B7-rTx6hBe5hK7d0TxRTuONZMWRKYtunfOZRvvm2x6pxJ94-aObtwOSfKSBzhUnQwPtKhfDFs88gvUKXtKzQsnhQimFgTA/s400/Cartaz_Rousseau.png" width="277" /></a></div>
<br />
https://www.ubi.pt/Noticia.aspx?id=3153Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-62466496011991855772012-11-03T09:16:00.002+00:002012-11-03T09:16:35.081+00:00Comemorações Vespertinas, Uma Oração para a Crise.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxjMgj0He2w3uPFYR_Mpqe0lC162EanOagJOwarRoQFjvX9pf9bBoXHmHFunYYFtoEd-fdDahGYLtoIyMUZzoyUtDae9rzINLmtBvIGqzGpUiSSTCD1NdhsKT6W3xXmSEORpwzA/s1600/cartaz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxjMgj0He2w3uPFYR_Mpqe0lC162EanOagJOwarRoQFjvX9pf9bBoXHmHFunYYFtoEd-fdDahGYLtoIyMUZzoyUtDae9rzINLmtBvIGqzGpUiSSTCD1NdhsKT6W3xXmSEORpwzA/s640/cartaz.jpg" width="452" /></a></div>
<br />Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-70470553672283210522012-10-17T18:09:00.000+01:002012-10-17T18:23:50.532+01:00Bodes Expiatórios Contemporâneos<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqWwAx5B-ncTZGQkacF0uQ-HEmq_LYyjREWcKvvHUKlZmlSvYTe88kpn2MJyrtRmtvnkNooSFp3GBkrFDW27cATNgLNNc5jwCQz_O0SS5uXYLd_M5wLghtigq7gPk3hILapQBGQQ/s320/William+Holman+Hunt+-+The+Scapegoat.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqWwAx5B-ncTZGQkacF0uQ-HEmq_LYyjREWcKvvHUKlZmlSvYTe88kpn2MJyrtRmtvnkNooSFp3GBkrFDW27cATNgLNNc5jwCQz_O0SS5uXYLd_M5wLghtigq7gPk3hILapQBGQQ/s320/William+Holman+Hunt+-+The+Scapegoat.jpg" /></a><br />
Sabemos através das dinâmicas de grupo que nos chegam da psicologia que criar um bode expiatório não é tarefa difícil. Mas, de que modo a actualidade gera estes bodes expiatórios? Falar de sacrifício como estrutura perene e eficaz de um ritual é reconhecer-lhe, na actualidade, estruturas que se metamorfosearam. Ainda que existam na nossa sociedade bodes expiatórios estes perderam com a complexificação social ao longo da história a sua função catártica e chegamos ao que René Girard denomina, ao longo das suas obras, de «crise sacrificial», isto é, quando as vítimas, que deveriam expulsar a violência da sociedade, deixam de possuir este papel e a violência se perpetua na sociedade. </div>
<div style="text-align: justify;">
O sacrifício, que era em sociedades antigas a última palavra da violência e capaz de manter uma paz provisória na sociedade, possuía um modo próprio de existir, pois era devido à vítima sacrificial ser escolhida aleatoriamente, mas não irracionalmente, que ela não podia jamais devolver a violência à sociedade através do acto de vingança (Cf. Alfredo Teixeira). Em Édipo Rei, vemos exatamente este papel catártico do sacrifício onde a vítima se escolhe a si mesma e que é simultaneamente desconhecedora da sua tragédia situando-se Girard numa análise distante à que Freud realizou na sua psicanálise (Cf. Freud).</div>
<div style="text-align: justify;">
A crise sacrificial, que ocupa o lugar do sacrifício nas sociedades modernas, é a expressão de que se no início o sacrifício se apresentava como obrigação do sagrado ela aparece, por outro lado, como uma actividade criminal que engloba riscos de similar amplitude aos que estão envolvidos na obrigação sagrada. A constituição do poder jurídico condena o sacrifício como actividade criminal a menos que seja legitimado através da criação de outras instituições humanas substituidoras – por exemplo o direito penal das sociedades modernas – desta primeira instituição humana que era o sacrifício. O sacrifício toma como meio a utilização da violência, sobretudo física numa primeira instância, que ao longo da história se foi transformando cada vez mais em formas dissimuladas e pouco claras. Actualmente, a interposição de mediações técnicas entre as vítimas e os seus sacrificantes podem negar uma eventual violência e camuflar esse registo levando a um disfuncionamento do acto sacrificial. Contudo, negar a violência, quer num registo moderno ou primitivo, é afirmar o seu poder metamórfico pelo qual ela vai sempre encontrando uma e outra vítima sobre quem se exerce. A conduta sacrificial que nas sociedades antigas permitia expulsar a violência através do bode expiatório, como será a seguir demonstrado, é impossibilitada qua talis pelo sistema jurídico presente nas sociedades modernas que se apresenta como substituto racional daquela. O sacrifício já não é um instrumento de prevenção contra a violência pela sua impossibilidade de se apresentar como um ritual sacrificial, pelo menos de modo claro, sem mediações técnicas. A que se deve então esta impossibilidade? Em especial porque o sistema jurídico compete directamente contra o sistema sacrificial por aquele ser exactamente um outro modo sacrificial metamorfoseado (p.ex. o mito da pena, em Ricoeur). O sistema jurídico funciona na actualidade como um filtro, em grande medida, da violência física directa que fazia o sistema sacrificial do bode expiatório funcionar. O sistema jurídico-penal substitui o sistema sacrificial por este ser mais efectivo como legitimador da violência. O sistema jurídico-penal ao actuar de modo legítimo no plano social irá colocar o mecanismo sacrificial como ilegítimo. Existe uma desmistificação do sacrifício e este passa apenas a ser possível pelo sistema jurídico-penal – a justiça pelas próprias mãos, legitimada pelo mecanismo sacrificial quando a multidão tinha uma posição unânime, não é permitida neste novo sistema.</div>
<div style="text-align: justify;">
Resulta assim, desta crise sacrificial, a proliferação da violência em formas dissimuladas as quais invadem a sociedade ao serem legitimadas pelos diferentes modos de poder (poder político, económico, social, científico, tecnológico, etc.): «onde quer que a violência esteja presente a impureza sacrificial estará presente.» (René Girard).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br /><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Márcio Meruje, O Mito: A Voz Desconhecida do Real?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Uma leitura de René Girard, Congresso Internacional , Universidade Aveiro - Maio 2011.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-31790091843932232012-10-10T16:26:00.000+01:002012-10-10T16:30:32.009+01:00O equivoco do fim da história.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD4SfGYLFrvim1toMJdhbhlAwQOrb7v5yH2jj-dIZFnLbulMS2-tHQVDE-5EX7dfnT4GmVEKl868mHW2PrdS3Y5zriMxd29by1KrS81JpKZhNm1GxH60JmCGuo8OjyhRv8Cwp1SQ/s1600/transferir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD4SfGYLFrvim1toMJdhbhlAwQOrb7v5yH2jj-dIZFnLbulMS2-tHQVDE-5EX7dfnT4GmVEKl868mHW2PrdS3Y5zriMxd29by1KrS81JpKZhNm1GxH60JmCGuo8OjyhRv8Cwp1SQ/s1600/transferir.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E se o estranho e atabalhoado
anúncio do fim da história não pretendesse significar, literalmente, o fim da
história. Antes sim, sintetizasse uma recusa categórica às retóricas
messiânicas de inauguração de um novo começo, de uma nova história que emergiria
à revelia da tradição e das estruturas vigentes. Enfim, e se o anúncio do fim
da história nada mais ousasse que não ditar o fim dessa espécie de utopia – de herança
cartesiana - da “revolução permanente”, que lança as suas raízes numa
subjectividade que se crê de pensamento e vontade ilimitadas, que é
exclusivista, que se julga dona e senhora do seu redor. Se assim entendêssemos o
fim da história perceberíamos que os fins não justificam os meios, que a
projecção arbitrária do futuro não justifica a condenação brutal do presente;
que as revoluções, a partir de agora, devem ser “silenciosas”, que só os meios
justificam os fins, que são estes que autenticamente forjam a história, lhe dão
sentido, e não o inverso. Urge portanto trabalhar e aprofundar os meios que produzem
futuros, "trabalhar a esperança", democratizar a democracia, aprofundar sucessivamente a esfera pública,
capacitar os indivíduos politicamente incapacitados, abrir (não fechar) a
racionalidade discursiva que compromete as vontades particulares. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O retorno ao futuro não está no
regresso a um suposto imaculado começo antes do “pecado original”, mas no amadurecer
perene da nossa capacidade colectiva de autodeterminação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">David Santos.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-2791771416069524012012-10-04T13:44:00.000+01:002012-10-04T14:40:29.683+01:00Lógica, Immanuel Kant (parte dois)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgsYM0EhXRXhL7DCpEtLXz-NaP5ihTg472B9Bfh2-20V7IzMDWtBgvxsAs86ruKO0kVWIEaG1ZiZ0ZlNbUfyAVQGuzxxgs1PU5YtvWYUMhxOZjRu0TT_30KbLEP-XAU24zd4ByCw/s1600/1643044.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgsYM0EhXRXhL7DCpEtLXz-NaP5ihTg472B9Bfh2-20V7IzMDWtBgvxsAs86ruKO0kVWIEaG1ZiZ0ZlNbUfyAVQGuzxxgs1PU5YtvWYUMhxOZjRu0TT_30KbLEP-XAU24zd4ByCw/s1600/1643044.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Na sessão anterior,
abordámos a temática da lógica enquanto uma ciência que racionaliza tanto
quanto à forma como à matéria, e que faz uso de leis necessárias do pensar para
as aplicar aos objectos em geral e avaliar a razão geral. São exactamente essas
leis necessárias e, por isso, </span><i style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">a priori,</i><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
que vão ser pertinentes para o tema que vamos tratar a seguir, que é: o
conhecimento geral.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O nosso conhecimento
geral possui duas referências: a primeira delas é o objeto, a segunda é o
próprio sujeito que conhece pois tem consciência, condição <i>sine qua non</i> de todo o conhecimento em geral, da representação do
objeto. Contudo, para existir este conhecimento tem que existir uma distinção
entre a matéria e a forma. A matéria refere--se ao objeto. Ainda dentro da
temática do conhecimento do objecto, destacam-se a intuição - o avistar do
objeto, sem saber ainda qual a sua finalidade - e o conceito - em que o sujeito
já é conhecedor da finalidade do dito objeto. Deduzindo daqui, podemos observar
que as intuições têm a sua origem na sensibilidade, já os conceitos têm a sua
origem no entendimento; sendo a primeira faculdade da ordem da recetividade, ou
faculdade inferior, enquanto a segunda pertence à faculdade da espontaneidade,
ou faculdade superior. É desta dissonância de faculdades de conhecimentos que
se vão reflectir, respectivamente, na perfeição estética e na perfeição lógica.
A perfeição estética diz respeito à coerência do conhecimento e o próprio
sujeito, cuja fonte é a própria sensibilidade; não se pode, portanto, validar
de forma universal e objetiva as leis de um conhecimento elaborado <i>a posteriori. </i>Já na perfeição lógica,
temos um acordo entre o objeto e o conhecimento do qual se podem formar leis
universais e que podem ser avaliadas mediante leis estabelecidas <i>a priori</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Passando para os
limites do nosso conhecimento, é impossível conhecer todas as coisas, daí a
necessidade de se ter um limite. E como é que o podemos determinar? Segundo
Kant a diversidade e profundidade de todo o conhecimento dependem dos
interesses e capacidades do sujeito que o pretende adquirir. Abordando este
assunto de uma forma mais concreta, o horizonte de conhecimento pode ser
determinado de três formas: 1.ª) Logicamente: faculdades cognitivas em relação
ao interesse do entendimento. Saber o limiar dos nossos conhecimentos e em que medida
é que estes nos podem ser úteis; 2.ª) Esteticamente: segundo o gosto, de acordo
com o interesse do sentimento, e aquele que tem a estética como horizonte tenta
instaurar uma ciência em acordo com o gosto do público ou a aquisição de
conhecimentos que podem ser transmitidos a todos, por outras palavras,
transformando a estética numa ciência popular; e para finalizar, 3.ª) Praticamente:
aqui o horizonte é delimitado pelo interesse da vontade e utilidade de certos
conhecimentos na sua vertente pragmática, como o conhecimento de valores morais
ou mesmo valores éticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Resumindo, o horizonte de conhecimento diz
respeito àquilo que o Homem pode, deve e lhe é permitido saber. </span><br />
<div style="text-align: left;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Fernando de Almeida</span></span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-23395874356807935302012-09-14T03:09:00.000+01:002012-09-14T03:15:01.086+01:00O PREC "Liberal" I<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmsSjzEJF8uB_99NpOw9Fy4mxmzCzn-C2MzGk-eVafnMJqenF2YM3ln2RgAjR5lMVG6fjwJVJonBWSRazCGpr7jFSIYw8gkRy0yqwWEcrbncU2tCRBfhNvwZYNGeAJhbZ5RMAWag/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmsSjzEJF8uB_99NpOw9Fy4mxmzCzn-C2MzGk-eVafnMJqenF2YM3ln2RgAjR5lMVG6fjwJVJonBWSRazCGpr7jFSIYw8gkRy0yqwWEcrbncU2tCRBfhNvwZYNGeAJhbZ5RMAWag/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não creio ser abusivo denunciar o intento, verdadeiramente revolucionário, deste governo, em alterar, fundamentalmente, a estrutura produtiva/económica do país até aqui vigente, e, com isso, a própria estrutura estatal. Mas, e com a proeza de, ainda assim, não se enredar em paradoxos e contradições, no que se refere à perpetuação de certos elementos "conservadoristas" que escapam ilesos a este PREC "liberal". </div>
<div style="text-align: justify;">
Deste modo, o governo de Passos Coelho tem conseguido reduzir o Estado social a um Estado social <i>mínimo, </i>ainda que, e lá vêm as contradições aparentes, não tenha "atacado", com a veemência exigida pelas exigências de equidade austeritária, nas tais "gorduras" do Estado - que em período eleitoral tão bem as indicava - e ainda tenha tido o desplante (neste último comunicado de sexta-feira de 7 de Setembro) de adiar<i> </i>prometendo - mas não dizendo o quê, nem o como, nem o quando destes cortes - tal propósito. Assim, e sem qualquer passe de alquimia, o governo consegue conjugar um estado social mínimo - que subverte, como referiu Bagão Félix em reacção, o regime previdencial - sem, nesse acto, reduzir seja o que for naquilo que faz deste um estado "gordo". As PPP´s perpetuam-se no seu canibalismo auto-regenerante; as fundações e empresas públicas, permanecem, no seu essencial, intocáveis; e, monopólios naturais, como a EDP, a auferir as rendas criminosas - tendo em conta o estado público da nação - que auferem. Quer dizer, perante os tumultos da revolução "neoliberal" (que precariza todos os domínios da vida pública, invertendo, inclusive, os mecanismos de reciprocidade onde assenta o chamado Estado Social - repare-se que à subida da taxa de contribuição para a Segurança Social não corresponde nenhuma garantia por parte deste serviço; o dinheiro, desta forma extorquido, não tem o carácter de uma promessa de um futuro estado de bem-estar garantido - como as pensões sociais asseguram), o estado clientelar, a que nos habituaram 10 anos de governo de rotação de eixo central, prevalece sem mácula nem comedimento.</div>
<div style="text-align: justify;">
E é assim que, face ao plano de reestruturação do tecido produtivo português, podemos por ora admitir, nocivamente dependente do mercado interno, o governo volta-se a encher de boas intenções, mas, uma vez mais, de más práticas - descontando, com toda a minha a benevolência possível e por agora, a própria crítica a esta orientação almejada- já que, se a descida da TSU para as empresas favorece, decerto, o capital exportador (que não tem os problemas de retraimento no consumo que o nosso país tem - já que procura consumidores no resto do globo), quem mais beneficia, pela universalidade incondicional da medida, são precisamente as maiores empresas portuguesas (presentes no PSI 20) e que, por este meio politicamente legalizado, apenas robustecem a sua postura oligárquica, sem, no entanto, trazerem qualquer mais-valia, seja em termos de crescimento da riqueza nacional, redistribuição dessa riqueza, diminuição da taxa de desemprego... Somando ainda o facto essencial de, assumindo que quem beneficia com as medidas anunciadas na sexta-feira são as empresas exportadoras, o motivo utilizado para as justificar (a criação de emprego) é mais que falacioso, redondamente falso. Pois que, a criação desse novo tecido empresarial (em detrimento do que nos trouxe até aqui), e consequente contratação laboral, está tão só dependente do tal investimento financeiro ao qual não temos acesso neste momento. Assim, as únicas empresas a beneficiar da redução das contribuições para a SS são as que já existem e têm o seu número de trabalhadores assegurado. Como vemos, mesmo no que se refere à revolução (mais que reforma) da estrutura produtiva do país, o governo, mais do que ficar a meio caminho, permanece enredado no caminho dos outros anteriores governos: beneficiando os mesmos (poucos), prejudicando os mesmos (quase todos). </div>
<div style="text-align: justify;">
David Santos.</div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-28424350409701193512012-08-25T02:16:00.001+01:002012-08-26T02:07:25.867+01:00A Opinião Pública enquanto categoria política<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPOpM_dhjO5lh9rTBU4wjwgtk65GC_Jxl1UjUkVJkkZDPV90BebQKMoMsmkjcnvkHVBNO3ftrjgi9qfm9344-sO4miqXT6BEGm2y5Ufzlog3Fzo9w6JUWaga8C17IYks7vs1Y8pQ/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPOpM_dhjO5lh9rTBU4wjwgtk65GC_Jxl1UjUkVJkkZDPV90BebQKMoMsmkjcnvkHVBNO3ftrjgi9qfm9344-sO4miqXT6BEGm2y5Ufzlog3Fzo9w6JUWaga8C17IYks7vs1Y8pQ/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A
opinião pública é uma categoria política. Nesse sentido, ela não existe. Ainda
que tenha a pretensão à universalidade, no sentido em que repousa na expressão
simbólica de uma pretensa “vontade geral”, esta opinião pública é constituída,
tão só, pelos interesses particulares dos mais diversos e diferenciados atores
sociais assumidos como tais e tornada publica, de forma hegemónica, pelos meios
de comunicação de massa.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sendo
uma categoria política a aparente contradição que esta encerra e que se traduz
pelo facto de se posicionar, pretensiosamente, como a “voz do povo”, a expressão
retórica da vontade geral, mas, ser, na realidade, resultado da emergência na
esfera pública (dominada pelos <i>media</i>)
de assuntos e/ou motivos de agentes singulares (por maior que seja o número
destes agentes) com os seus interesses particulares. É uma contradição
imediatamente resolvida se a encararmos sob o ponto de vista do seu
posicionamento <i>performativo</i>. Assim, a
opinião pública não é da ordem da falsidade ou da verdade, também pouco importa
defini-la sem nos contradizermos, não importa, portanto, a sua <i>objetividade</i>. O que importa sim é que
esta (a opinião pública enquanto categoria política) surta efeito eficiente nos
jogos de poder e dominação (nomeadamente entre governados e governantes e por esta ordem evocada) que
ocorrem de forma imanente em dado espaço social (p. ex., o território de um
Estado-nação).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 11pt; line-height: 115%;">A opinião pública é,
portanto, e surge assim, como o contraditório difuso (mas nem por isso menos eficaz),
e sempre em risco de emergir, contra uma racionalidade <i>maquiavélica</i>, onde a arbitrariedade e/ou o livre-arbítrio do príncipe
(enquanto representação do homem político, com dominação sobre um número
significativo de outros homens) é elevada à categoria absoluta, sempre que o
que estiver em causa ser o poder pelo poder.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 11pt; line-height: 115%;">David Santos.</span></div>
Sextus Empiricushttp://www.blogger.com/profile/11340663216868821504noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-12356422.post-60447238030051230492012-08-15T17:29:00.002+01:002012-08-15T17:32:30.733+01:00Lógica, Immanuel Kant<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoH6H46V0jnf0vbknDtJ4JNXvk65X65YXp8zeqYfqxE6VAHARq2miz2QGTB5FSssjvDhkRlDQEq3K7jcgaU7ZvIyqIqd4LtCtWSxuOEOy9Zh3SA94cK4vGIKGC3OBa8KccAvAFSw/s1600/1643044.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoH6H46V0jnf0vbknDtJ4JNXvk65X65YXp8zeqYfqxE6VAHARq2miz2QGTB5FSssjvDhkRlDQEq3K7jcgaU7ZvIyqIqd4LtCtWSxuOEOy9Zh3SA94cK4vGIKGC3OBa8KccAvAFSw/s1600/1643044.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No ano de 1765, foi
publicada esta obra que se inspirou nas lições de lógica do manual de George
Friedrich Meier intitulado <i>Auszugaus der
Vernunftlehre </i>editado em 1752, procurando conciliar com as suas próprias
lições. Esta obra introduz uma doutrina elementar que se move sobre três eixos
essenciais para reger o pensar, e são eles: os conceitos, os juízos e os
raciocínios. Outro ponto da sua máxima importância é o objetivo desta obra, que
se fixa em dar resposta às seguintes questões: Que posso fazer? (Sentido
prático), Que devo fazer? (Sentido ético), Que me é permitido esperar? (Sentido
religioso) e Que é o homem? (Sentido antropológico). A finalizar esta
introdução deveremos ainda revelar que esta obra tem um carácter propedêutico,
cujo epicentro é uma lógica geral, simples e sistemática de cariz científico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É neste momento, e em
função do título, que fazemos esta pergunta: o que é a lógica? Para o autor
tudo o que se passa na natureza decorre segundo regras, porque a irregularidade
é produto da nossa ignorância. O mesmo diz respeito às nossas faculdades numa
fase inicial, em que aos poucos e com o preencher da experiência chegamos à sua
percepção; existindo, assim, uma passagem para um plano mais abstrato o que exige
um grande esforço devido à familiaridade com os sentidos. Nesta operação de
abstracção o entendimento obedece a certas e determinadas regras, das quais ele
próprio é produtor. Mas, se o entendimento produz regras, então com que regras
é que ele se desenvolve? Essas regras dividem-se em contingentes e necessárias.
As regras contingentes, referem-se ao uso de uma parte desse mesmo
entendimento, isto é, é contingente o foco num ou noutro dado objecto do
conhecimento, o qual esta associado a regras particulares que provêm da
experiência (<i>a posteriori)</i>. Quanto às
regras necessárias, como o próprio nome induz, são regras que têm de estar
obrigatoriamente no campo do entendimento, e são independentes dos objectos
particulares do pensar, assim, devem ser consideradas <i>a priori</i>; as regras <i>a priori </i>são
independentes da experiência, sendo por isso condições necessárias ao uso do
entendimento em geral e que toma como objecto de estudo a simples forma. E é
aqui que a lógica surge, já não como uma potência, mas efectivamente como ciência
que estuda as regras universais e necessárias ao entendimento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Então, como é que a
lógica, enquanto ciência, pode ser vista? Em primeiro lugar, pode ser vista
como fundamento das outras ciências e como propedêutica do uso do entendimento,
não podendo ser nenhum <i>órganon </i>[sendo
que o órganon implica a noção de objecto de conhecimento]. Noutro plano, a
lógica funciona como correctora e apreciadora do conhecimento em geral, funcionado
como uma peneireira, que depura os dados que recebemos pela via dos sentidos.
São justamente estas características, a de analisar e a de corrigir, e para as
quais são necessárias leis puras a priori, que fazem da lógica um <i>cânon </i>que visa as regras de como devemos
pensar, isto é, o procedimento de pensamento. O que se opõe ao pensar para si
que é algo de subjectivo, pois foca-se em leis contingentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A lógica deve ser
entendida como uma ciência racional quanto à matéria, pois como as regras são a
priori que têm como fonte de estudo a própria razão o que por conseguinte
resulta num auto-conhecimento do entendimento e da razão apenas e tão só quanto
à sua forma. Mais, a lógica é uma doutrina que se ocupa das leis universais e
necessárias e dos princípios a priori para validar regras. Para terminar, temos
a distinção entre a lógica transcendental, cujo objeto representa o objecto do
simples entendimento, enquanto a lógica representa os objectos em geral. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Concluindo, a
explicação do conceito de lógica é a seguinte: a lógica é uma ciência que
racionaliza tanto quanto à simples forma como à matéria. É a priori pois
centra-se nas leis necessárias ao pensar relativamente a todos os objectos em
geral da razão geral; e não da razão subjectiva e dos objectos em particular. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;">Fernando de Almeida.</span></div>
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