Realiza-se na Universidade da Beira Interior, nos dias 20 e 21 de Abril, um colóquio sobre o tema "Decisão e Crença", organizado pelo Prof. António Bento, inserido nos eventos do Instituto de Filosofia Prática.
Na medida em que tanto a palavra "crise" como a palavra "crítica" têm a sua
origem comum no verbo grego kriné (que significa separar, escolher, julgar,
decidir), não é pensável uma "crítica" consequente da decisão que não seja, ao
mesmo tempo, uma "crise" da decisão. Sabe-se como o uso grego das palavras
kriné e krísis se referia em geral, mas não exclusivamente, à jurisprudência e à
prática jurídica. Além de significar separação e disputa, a palavra krísis designou
também a decisão no sentido de um veredicto: sentença ou juízo definitivo. Daí o
uso forense da palavra krísis na acepção de juízo, processo e, em geral, tribunal;
daí também que no horizonte de sentido da palavra krísis apareçam já o «pró e o
contra» e que as razões em disputa obriguem à decisão. No que se refere à decisão
de carácter especificamente jurídico, a palavra krísis possui originariamente o
sentido de criação de ordem.
No seu ser em bruto, existencial, quando marcada pela urgência da situação, a
decisão é quase sempre a negação de outras decisões, de sentido necessariamente
oposto. Sob este aspecto, é muitas vezes das profundezas dos instintos vitais
e não de um raciocínio nem de uma avaliação prudente da oportunidade, que a
decisão extrai a sua fundamentação e legitimidade: ela é uma resposta, dir-se-ia
biológica, à necessidade de decidir. O seu valor está precisamente em que nos
assuntos mais graves e sérios da vida importa mais que se tome uma decisão do
que o conteúdo ou o sentido que a decisão possa adquirir.
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