sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Manuais – Espaço para debate

Este texto é dirigido a todos os colegas, professores de filosofia no ensino secundário. Trata-se de um apelo. A crítica pública de manuais escolares é essencial e um dos melhores caminhos para melhorar a qualidade dos manuais e, por conseguinte, das nossas aulas e opções lectivas. Disponibilizo este blog como espaço aberto à crítica de manuais, visto que muitos colegas tem ideias a explorar, mas sem local próprio para as publicar. Disponibilizo dois contactos de e-mail para os quais podem ser enviados os vossos textos a fim de ser publicados. Como é óbvio, não publicarei textos anónimos nem insultuosos. A ideia é de uma forma pedagógica apontar erros, dificuldades, limitações, etc… e também os pontos positivos ou as vantagens que existe em optar pelo manual X e não pelo Y. É indiferente se vamos defender uma linha mais hermenêutica ou uma linha mais analítica, ou outra coisa qualquer. O espaço está aberto ao debate. Só espero mesmo pela reacção. Pela minha parte vou fazer o meu trabalho de casa. No final indicarei o número de professores que resolveram dar-se ao trabalho de fazer crítica de manuais, seja esse número de 1000 ou 0. É claro que nos referimos aos manuais de filosofia, referentes ao 11º ano que estarão em breve disponíveis para adopção.
Mãos à obra.

Contactos:
rolandotavaresalmeida@gmail.com
rolandoa@netmadeira.com

+inf: http://rolandoa.blogs.sapo.pt/

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Biblioteca on-line de Filosofia

O Instituto de Filosofia Prática e o LabCom apresenta a http://www.lusosofia.net .
"É um Projecto de uma Biblioteca on-line de Filosofia em Português que ainda está dar os primeiros vagidos. "
O projecto está a cargo de José M. Silva Rosa, Artur Morão, António Fidalgo.
+ Inf: Brevemente

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O Gosto «à grega». Exposição




O Gosto «à grega». Nascimento do Neoclassicismo em França, 1750-1775
15 de



Fevereiro - 4 de Maio de 2008



Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian






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Um conjunto de cerca de cem obras, maioritariamente cedidas pelo Museu do Louvre e a que se associam também peças provenientes, do Património Nacional de Espanha e do próprio Museu Calouste Gulbenkian, revelará 25 anos da História da Arte francesa, dominados pelo Neoclassicismo, estilo que se manifestou em toda a Europa num período compreendido entre meados do século XVIII e a primeira metade do século XIX.







sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A Filosofia Tem Perdido Contacto com as Pessoas?* W. V. Quine

O que é esta coisa chamada de filosofia? O Professor Adler acha que, na última metade do século, ela tem mudado profundamente: já nada mais diz ao homem comum ou enfrenta problemas de amplo interesse humano. O que é ela? Há alguma coisa reconhecível, a filosofia, que tem passado por estas mudanças? Ou a mera palavra "filosofia" tem sido, consecutivamente, distorcida aplicando-se antigamente a uma coisa e agora a uma outra? Claramente Adler não está preocupado com nada de tão superficial como a semântica migratória de uma palavra de cinco sílabas, porém uma palavra ressonante. Na verdade, ele diria que a filosofia é de qualquer maneira a mesma disciplina, apesar das lamentadas mudanças. Para mostrar isto ele podia citar a continuidade da sua história com mudanças. Mas a continuidade é também uma característica da semântica migratória de um pentassílabo. Penso que podemos fazer melhor, avaliando o panorama em transformação, se olharmos mais propriamente para os esforços e actividades vigentes, velhos e novos, exotéricos e esotéricos, graves e frívolos, e deixarmos a palavra "filosofia" cair onde puder.
Aristóteles foi, entre outras coisas, um físico pioneiro e um biólogo. Em parte, Platão foi, entre outras coisas, um físico se considerarmos a cosmologia como uma parte teórica da física. Descartes e Leibniz foram, em parte, físicos. Naqueles tempos a biologia e a física eram chamadas de filosofia natural – foram assim chamadas até ao século dezanove. Platão, Descartes e Leibniz eram também matemáticos, e Locke, Berkeley, Hume e Kant eram, em larga medida, psicólogos. Todas estas luminárias e outras que nós veneramos como grandes filósofos eram cientistas na busca de uma concepção organizada da realidade. De facto, a sua busca foi para além das ciências restritas tal como, agora, as definimos; na altura, também havia conceitos mais básicos e amplos para desemaranhar e clarificar. Mas as dificuldades com estes conceitos e a procura por um sistema, numa grande escala, eram ainda integrais a toda a busca científica. À luz dos nossos dias, e olhando para trás, os mais gerais e especulativos alcances de uma teoria são considerados como algo distintamente filosófico. No entanto, actualmente, o que é perseguido sob o nome de filosofia também tem muito destas mesmas preocupações, quando é o que considero a sua melhor técnica.
Até ao século dezanove, todo o conhecimento científico, com relativa importância, podia ser acompanhado por uma só mente de primeira categoria. Esta situação confortável acabou à medida que a ciência se expandiu e se aprofundou: apareceram distinções subtis e proliferou o jargão técnico, muito do qual é genuinamente necessário. Os problemas de física, microbiologia ou matemática dividiram-se em problemas subordinados que qualquer um, retirado do contexto, surge ao leigo como inútil ou ininteligível: apenas o especialista vê como ele aparece no quadro completo. Actualmente a filosofia, quando contínua com a ciência, também progrediu. Aí, tal como na ciência, o progresso expôs distinções relevantes e conexões que, em tempos passados, passaram despercebidas. Aí, tal como noutros lados, problemas e proposições foram analisados em constituintes que, se tomados isolados, devem parecer desinteressantes ou pior ainda.
Justamente há cem anos atrás, pelas mãos de Gottlob Frege, a lógica formal completou o seu renascimento e tornou-se numa ciência séria. Nos anos subsequentes, um traço saliente da filosofia científica tem sido o uso, crescente, da poderosa nova lógica. Isto tem resultado num aprofundamento dos conhecimentos e num refinar de problemas e soluções. Também tem resultado na intrusão de termos técnicos e símbolos que, a par de servirem os investigadores, tendeu a afastar os leitores leigos.
Outro traço saliente da filosofia científica, neste período, tem sido uma preocupação crescente com a natureza da linguagem. Em círculos responsáveis isto tem sido visto como uma retirada sobre questões mais sérias. Mas, na verdade, é uma exteriorização de escrúpulos críticos que remonta a séculos atrás até aos empiristas britânicos clássicos como Locke, Berkeley, Hume e, mais claramente, Bentham. Nos últimos 60 anos, crescentemente, tem sido reconhecido que as nossas noções introspectivas tradicionais – significado, ideia, conceito, essência (noções não disciplinadas e não definidas) – proporcionam um fundamento extremamente débil e indisciplinado para uma teoria do mundo. Mas consegue-se ganhar controlo através de uma focagem nas palavras, analisando como elas são aprendidas, usadas e são relacionadas com as coisas.
A questão de uma linguagem privada, mencionada por Adler como frívola, é um exemplo para o caso em questão. Filosoficamente tornou-se significante quando reconhecemos que uma teoria legítima do significado deve ser uma teoria acerca do uso da linguagem, e que a linguagem é uma arte social, socialmente inculcada. A importância da matéria foi enfatizada por Wittgenstein e, previamente, por Dewey, mas não é entendida por alguém que se depara com a questão fora do contexto. Seguramente, muita da literatura produzida sob o título de filosofia linguística é filosoficamente inconsequente. Algumas peças são divertidas ou medianamente interessantes como estudos de linguagem, mas têm sido publicadas em jornais filosóficos apenas por superficial associação. Alguns desses jornais, mais filosóficos no propósito, são simplesmente incompetentes. O controlo da qualidade é uma mancha na imprensa filosófica florescente. Há muito tempo que a filosofia tem sofrido, ao contrário das ciências duras, de um irresoluto consenso em questões de competência profissional. Os estudantes do céu são separáveis em astrónomos e astrólogos, assim como os pequenos ruminantes domésticos são separáveis em carneiros e cabras, mas a separação dos filósofos em sábios e excêntricos parece ser mais sensível a sistemas de referência. Isto é talvez como deve ser, em virtude do carácter não regimentado e especulativo da disciplina.
Muito do que foi recôndito na física moderna foi aberto pela divulgação. Estou agradecido por isto pois tenho um gosto por física, mas não posso adquiri-la em estado bruto. Um bom filósofo que seja um expositor competente podia fazer o mesmo com a filosofia técnica corrente. Mas seria preciso talento, porque nem tudo o que é filosoficamente importante precisa de ser de interesse para o leigo, mesmo quando claramente explicado e posto no lugar. Pensemos na química orgânica. Reconheço a sua importância, mas não estou curioso em relação a ela. Do mesmo modo, não vejo por que o leigo deva apreciar muito daquilo que me interessa em filosofia. Se em vez de ter sido chamado para aparecer na série "Men of Ideas", da televisão britânica, tivesse sido consultado sobre a sua viabilidade, devia ter expressado dúvida.
O que tenho estado a discutir sob o título de filosofia é aquilo a que chamo de filosofia científica, velha e nova, pois tem sido a disciplina cuja moderna tendência Adler critica. Mas deste título vago não excluo estudos filosóficos de valores morais e estéticos. Alguns destes estudos, em moldes analíticos, podem ser científicos no espírito. Eles estão aptos, porém, para oferecer pouco no sentido da inspiração ou da consolação. O estudante que, primariamente, se forma em filosofia por conforto espiritual está mal orientado e, provavelmente, não é um muito bom estudante de qualquer modo, dado que a curiosidade intelectual não é o que o move.
A escrita inspirativa e edificante é admirável, mas o lugar para isso é a novela, o poema, o sermão ou o ensaio literário. Os filósofos, no sentido profissional, não têm qualquer peculiar aptidão para isso nem têm qualquer peculiar aptidão para ajudar a sociedade para um equilíbrio, embora todos devamos fazer o que pudermos. O que pode satisfazer estas necessidades perpetuamente urgentes é sabedoria: sofia sim, filosofia não necessariamente.
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Tradução: Eduardo Castro - Professor - UBI
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[CFUL/FCT(SFRH/BD /16755/2004)]
Esta peça foi escrita para o Newsday por pedido de resposta a uma peça de Mortimer Adler. As duas eram para aparecer juntas sob o título acima. Aquando da publicação, em 18 de Novembro, 1979, o que apareceu sob o meu nome verificou-se ter sido rescrito para agradar à vontade do editor. Este é o meu texto não corrompido.
* Quine, W. (1979), "Has Philosophy Lost Contact With People?", in Quine, W. (1981) Theories and Things, (Cambrigre, Mass.: HUP), p. 190-3.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Fórum "Ética e Código Deontológico/Jurisdição no contexto dos Cuidados de Saúde"

-15 de Fevereiro 2008 -
FÓRUM
"Ética e Código Deontológico/ Jurisdição no contexto dos Cuidados de Saúde"
Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI Covilhã - 15/02/2008 - 09:30 HorasDestinatários:
Profissionais de Saúde e Alunos das Áreas de SaúdePrelectores:
Ética: Vasco Pinto de Magalhães, SJ
Código Deontológico e Jurisdição: Representantes das Ordens dos Médicos e Enfermeiros/Representantes da Sub-região de Saúde de Castelo Branco
Inscrições Gratuitas
Contactar: D. Lurdes Dinis
Telefone: 275 320650 Extensão:220
Centro de Saúde da Covilhã
Entrada livre para os Alunos

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

HISTÓRIA E FILOSOFIA DA MATEMÁTICA NA UBI


A disciplina de História e Filosofia da Matemática (HFM) na UBI é uma disciplina na tradição analítica da filosofia que, grosso modo, se distingue por desejar expressar pensamentos de forma clara, rigorosa e logicamente disciplinada. Em particular, nesta disciplina estabelece-se um continuum entre a filosofia e a matemática/ciência onde episódios da história da matemática/ciência são usados como uma fonte de levantamento de problemas filosóficos.

Em HFM são analisadas questões como as seguintes. Qual é a natureza do conhecimento matemático? A matemática é redutível a princípios lógicos? As demonstrações matemáticas são todas igualmente válidas? Será a matemática uma mera manipulação de símbolos, sob determinadas regras, semelhante a um jogo? Será que existem objectos matemáticos abstractos ou, na verdade, alegados objectos matemáticos são meros objectos ficcionais das teorias matemáticas tal como o Pai Natal é um objecto ficcional das histórias infantis? A matemática é indispensável nas teorias empíricas?

A disciplina de HFM é uma disciplina dos cursos de Matemática (3º ano) e Ensino da Matemática (4º ano).
Todos os alunos do curso de Filosofia que desejem frequentar, assistir ou participar nesta disciplina serão bem-vindos.
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Mais informações, http://ecastro.com.sapo.pt

O Docente
Eduardo Castro

Epicuro - Carta sobre a Felicidade

A -Padrões do Conhecimento Editora, acaba de lançar uma edição da obra: "Carta sobre a Felicidade ou a conduta humana para a saúde do espírito", do Filósofo Epicuro.
A tradução é de Adalberto Alves.
O livro contém uma pequena biografia de Epicuro, introdução do tradutor, Carta sobre a felicidade e citações / pensamentos.

Encomendar [FNAC]

domingo, 10 de fevereiro de 2008

DEFESA DO ENSINO ARTÍSTICO EM PORTUGAL


ANTÍGONA de Sófocles

A profundidade de Sófocles a analisar problemas como a fractura entre a lei natural e a lei do estado. A contradição entre a Justiça e a Lei, a tirania que se serve de decretos casuísticos para fundamentar e apoiar a sua “vontade de poder” e a desobediência de quem se torna intolerante perante o domínio do arbitrário transformado em lei, fazem de Antígona o texto mais exemplar e duradouro da tragédia grega. Depois de um enorme percurso sobre as Antígonas da dramaturgia universal A BARRACA fixou-se no texto luminoso de Sófocles.
O espectáculo está classificado para M/12 e estará em cena a partir de 2 de Fevereiro.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Estupor. João Lemos aluno da Licenciatura de Filosofia da UBI lança livro

"Otto está amarrado à cadeira do projector de memórias, com os quatro médicos criminais em seu redor, envergando o fato com que veio ao mundo e com um estranho capacete metálico pejado pela sua cabeça, com um sem fim de fios a brotar da superfície oval, como se fosse Primavera para o cobre. Todos os fios vão convergir numa consola, atrás da cadeira, que por sua vez está ligada a um projector que desenha numa enorme tela, do tamanho de uma parede, em frente da cadeira, um banho de estática. Na consola, várias luzinhas cerram a escuridão que cobre a sala e lá vivem alegremente acompanhadas por pequenos botões. "
Mais informações, brevemente..

O capitalismo e o marxismo


O capitalismo manifesta-se como forma de bem-estar, de consumismo, e nas formas mais degeneradas, de hedonismo.
O marxismo, manifesta-se sobretudo sob a forma de domínio ideológico e político.
Não se pode dizer que o bem-estar e o hedonismo sejam concebidos como modelos de vida. O processo de desumanização aparece quando o hedonismo é entendido como ideal de vida, como razão da existência.
No contexto do capitalismo, é importante individualizar quais são os ideais de vida. Quando tais ideais são tão terrenos que nos levam a seguir só o imediato.
Quando o ideal é constituído por bens materiais, todo o sector vocacional fica em crise, mesmo se não se negasse explicitamente a existência de Deus. É necessário empenhar-se para a destruição destes pseudo valores e destes ídolos.
Isto pode ser feito por pessoas que tenham uma vocação, que amadureceram a sua escolha de vida, fora das manipulações culturais e no contexto de uma autêntica relação com Deus. Deus é vivido e pensado a partir de uma certa experiência com a natureza; Deus é identificado com a natureza. Por exemplo. Identificam-se os trovões como Deus a ralhar, Deus quer castigar. São imagens falsas de Deus, imagens supersticiosas e míticas da religião.
O ter, o poder, o gozar permanecem enter as realidades do mundo. Nos momentos mais difíceis, recorrem a Deus.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Rev. Tom Honey: How could God have allowed the tsunami?

Aristóteles entre os árabes

À semelhança do que aconteceu no seio da igreja, a partir da Metafísica de Aristóteles, os pensadores árabes heterodoxos extraíram a teoria da eternidade da matéria e a negação de todos os atributos humanos do Deus do Corão. Outros pensadores tentaram conciliar a doutrina da criação com a doutrina da ausência de atributos em Deus. Deus não pode ter criado sem o querer. Como superar então esta dificuldade? Através da teoria que concebe os atributos como existindo sem um substrato. Desta forma a vontade pode existir sem um substrato e esta é a vontade pela qual Deus cria.Alguns pensadores árabes sustentaram, a partir das doutrinas aristotélicas, em oposição ao fatalismo do Corão, que a providência de Deus abarca somente os universais, não o acidental nem o singular. Mas, segundo os ensinamentos do gnosticismo e do neoplatonismo, pelos quais foram também influenciados, defendem a existência de mundos intermédios que são os responsáveis pelas acções do singular e do individual, que serão posteriormente objecto de condenação pelo Bispo Etienne Tempier.Outra problemática que preocupou os árabes foi a questão do conhecimento. Como é que o intelecto, que é imaterial, pensa o material? Onde é que reside o vinculo entre as duas dimensões? Aristóteles coloca-o no intelecto agente. Ele refere que o intelecto se adapta a todas as coisas. O intelecto agente está sempre activo; está eternamente activo; não há momentos em que pense e outros em que não pense. Ele é imortal e eterno. O intelecto agente não se deixa afectar pelo objecto. O intelecto paciente ou passivo é receptivo, perecível e não consegue pensar nada sem a ajuda do intelecto agente.[1]Os filósofos árabes em seguida encarregaram-se de explicar a existência deste misterioso intelecto agente. Encontraram a solução num escrito apócrifo de Aristóteles (que designavam de Teologia, que mais não era do que uma obra de Plotino). Nesta obra leram como Deus, ao contemplar a sua absoluta e verdadeira unidade, formou a Primeira Inteligência.[2] Esta é a primeira de uma série de inteligências da qual é, finalmente, derivado o intelecto agente de que fala Aristóteles. A maneira como as inteligências procedem umas das outras é, mais ou menos, desta forma: há nove esferas celestiais.[3] A Alma é o princípio do seu movimento. Esse movimento é circular e pressupõe uma finalidade particular, que implica desejo.[4] O objecto de desejo é a Primeira Inteligência. Mas a diferença no movimento deve-se à diferença do desejo. Por conseguinte, cada esfera deve ter, além da Primeira Inteligência, uma inteligência inferior para regular o seu movimento. Existem, portanto, nove outras inteligências emanadas da Primeira Inteligência. São conhecidas como inteligências separadas[5], que os teólogos, numa tentativa de conciliar a doutrina aristotélica com a ortodoxia cristã, traduziram por “anjos”.A mais inferior dessas inteligências separadas, que preside ao movimento da esfera mais próxima de nós, a Lua, é o intelecto agente, por cuja influência o intelecto passivo ou paciente dentro de nós se torna activo e se torna intelecto em acto. Quando ele se torna acto é designado de Intelecto Emanado ou Adquirido. Atingir este estado é a finalidade de todo o esforço para alcançar a perfeição.Desta forma, os filósofos árabes circunscreveram o intelecto agente num local e deram-lhe um nome. Este intelecto agente, que eles concebem como o intelecto único de toda a humanidade, é onde todos os outros estão imersos.A alma, afirma Averrois, “não está dividida segundo o número dos indivíduos; é a única e a mesma em Sócrates e em Platão: o intelecto não possui individualidade; a individuação procede da sensibilidade”.[6] Será que Averrois ou qualquer outro filósofo árabe queria dizer que este intelecto agente era uma “humanidade permanente e viva”?[7]O intelecto agente parece ser algo afastado da humanidade, uma criação distinta, à qual uns poucos favorecidos podem chegar.Cremos que tem cabimento aqui expor em traços gerais o pensamento de Averrois, uma vez que foi o filósofo árabe mais influente na escolástica, que deu origem ao chamado averroismo. O amor de Averrois à filosofia é uma espécie de religião. “A única religião para os filósofos é fazer um profundo estudo de tudo o que existe; portanto, não podemos prestar um culto maior a Deus do que conhecer as Suas obras, que provocam conhecer-Lo em toda a Sua realidade”.[8]A admiração deste pensador árabe por Aristóteles não conhecia limites: “Este homem tem sido a regra da Natureza e um modelo no qual ela procura expressar o tipo da perfeição última”.[9]Ele fez epítomes de Aristóteles, ele parafraseou Aristóteles; ele comentou Aristóteles. Estas três operações ficaram conhecidas como os seus três comentários. Averrois era designado pelos escolásticos ocidentais de Comentador. São Tomás de Aquino aprendeu e seguiu o seu método. Tal como Averrois, Tomás de Aquino não conhecia a língua de Aristóteles, mas ele socorreu-se do irmão William de Moerbeke, como já referimos atrás, para elaborar traduções directas do grego.Durante cerca de dois séculos o grande Comentador continua a ofuscar os escolásticos. Ele é citado, comentado e refutado. Através dele todos os erros da filosofia árabe passaram para dentro da Igreja, e juntamente com os de Aristóteles, produziram inúmeras disputas e doutrinas incompatíveis com a fé cristã.
[1]Cf. ARISTÓTELES, De Anima, III. v. 2.
[2] Cf. Theologia Ægyptior., lib. XIII. cap. VII.
[3] Cf. ARISTÓTELES, Metafisica, XII. cap. 7, 8.
[4] Cf. ARISTÓTELES, De Caelo, II. XII. 3.
[5] Vd. AQUINO, Tomás, De Substantiis Separatis, cap. II, xvi. p. 184.
[6] Vide RENAN, Averrois et l’Averroisme, p. 155.
[7] “ Une humanité vivante et permanente, tel semble donc être le sens de la théorie averoïstique de 1'unité de 1'intellect”. (Renan, loc. cit., p. 138).
[8] MUNK, Melanges, p. 456
[9] AVERROIS, Comment., De Anima, 1. iii.


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Patricia Calvário - Antiga Aluna de Licenciatura da UBI. Mestranda de F. Medieval UP