Actualmente a escola é vista de um modo geral como um espaço que não dá resposta as necessidades educativas que o mundo contemporâneo exige. Os estabelecimentos de ensino actuais são um produto da modernidade, esta que se define segundo “uma condição social que é simultaneamente guiada e sustentada pelas crenças iluministas no progresso racional cientifico, no triunfo da tecnologia sobre a natureza e na capacidade de controlar e melhorar a condição humana através da aplicação deste manancial de conhecimento e de saber cientifico e tecnológico especializado ao campo das reformas sociais” (A.Hargreaves, 1998:9) A este ideal estão ligados os conceitos de revolução industrial, “máquina a vapor”, “fordismo” e “taylorização” que nos remetem para outros conceitos como os de hierarquia, centralização, a estandardização, a rotina, o poder sobre, a segmentarização, a causalidade linear, a continuidade, a previsibilidade, a quase omnipotência da razão e da ciência, a produtividade, a eficácia… O nível económico, o nível politico, a organização da sociedade e do individuo estrutura-se segundo estes princípios e a escola torna-se um símbolo deste espírito, um instrumento para fazer funcionar esta grande “máquina do mundo” que se traduz no paradigma mecanicista da simplificação. Hoje essa crença iluminista já foi desconstruída: “ A transição paradigmática é um ambiente de incerteza, de complexidade e de caos que se repercute nas estruturas e nas práticas sociais, nas instituições e nas ideologias, nas representações sociais e nas inelegibilidades, na vida vivida e na personalidade.” (B. Sousa Santos, 2000: 45) Este cenário, fruto da evolução da humanidade com a tónica no constante desenvolvimento técnico e científico que nos permite hoje dizer que vivemos numa “aldeia global” abriu um novo horizonte nas preocupações do homem no mundo. Com o fim da modernidade impõe-se-nos uma consciência de descontinuidade, de não linearidade, da diferença, da necessidade do diálogo, da polifonia, da incerteza, da dúvida, da insegurança, do acaso, do desvio e da desordem. A nível económico as empresas são essencialmente produtoras de serviços, de software, de informação e imagens onde a lógica do emprego para toda vida e estático desaparece. A nível político com “ a dramática intensificação das práticas transnacionais, da internacionalização da economia, da migração e das redes de informação e comunicação, o Estado procura a sua auto-renovação, dando início a um movimento de privatização de áreas que eram dantes suas, indiscutivelmente, como as da saúde, segurança social e educação. Desponta assim um novo tipo de entidade não-estatal para gerir a esfera pública: as organizações não – governamentais.” (Carlos Nogueira Fino & Jesus Maria Sousa). A nível organizacional “ a especialização de papéis dilui-se, esbatendo-se hierarquias e fronteiras, através de tomadas de decisão descentralizadas, por estruturas cada vez mais horizontais.”. (Carlos Nogueira Fino & Jesus Maria Sousa). A nível pessoal “as relações sociais parecem estar cada vez menos confinadas a um tempo e a um espaço, com indivíduos se agrupando a partir de interesses afins, como acontece nas comunidades virtuais e nos grandes centros urbanos.”. (Carlos Nogueira Fino & Jesus Maria Sousa). “Em muitos sentidos, as escolas continuam a ser instituições modernas (e, em certos casos, até pré modernas), que se vêem obrigadas a operar num mundo pós-moderno complexo. À medida que o tempo passa, este hiato entre o mundo da escola e o que existe para além dela está a tornar-se cada vez mais óbvio. A natureza anacrónica da escola é cada vez mais evidente” (A.Hargraves, 1998:27) Se na modernidade a escola conseguia reflectir a sociedade porque esta fazia parte e existia para servir um “todo previsível”, nos nossos dias a escola tem que inevitavelmente adaptar-se ou mesmo transformar-se em relação “ao todo maior que si”, ou seja, complexo, interactivo, dinâmico, retroactivo, numa palavra, a um paradigma sinergético que simboliza a sociedade como um todo complexo. Urge criar uma nova cultura curricular e uma nova atitude perante a educação e sobretudo dar-se conta que o monopólio do conhecimento, em suma, do desenvolvimento do ser-humano já não reside na escola. Mas esta tal como uma família constitui organizações fundamentais para a valorização da pessoa humana. A escola como estrutura complexa que reflecte a sociedade contemporânea, onde a educação deve ser a pedra de toque, deve constituir-se num alfobre de valores que vão permitir á pessoa que está dentro do aluno dimensionar-se eticamente perante este desafio desenfreado e selvagem desta nova era. A relação entre aluno e instituição/ professor perante este novo paradigma, na minha opinião, deve ser como o treinador de futebol (Ted Sizer, 1985). “É assim que as equipas desportivas funcionam: não é o treinador que bate a bola, que faz os exercícios, que define a jogada no campo, que gere a oportunidade no jogo são os próprios jogadores, os aprendedores.”
Josias Alexandre Barroso - Estagiário de Filosofia na Escola Campos Melo, Covilhã. Artigo escrito para a disciplina de - Organização e Gestão da Educação.