O omnipresente "jogo dos possíveis" acarreta a aceitação do outro na sua diferença. Aliás, estar no mundo é estar com o outro. Alimentada pela alteridade, a identidade do homem reclama incessantemente a intervenção de um outro, presente, mas diferente. Por conseguinte, "não basta dar voz às ideias do outro, mas é necessário reconhecer a sua autoridade concreta como um ser valioso e incondicionado"(Edgar Morin).De facto, se por um lado se deve aprender a reconhecer as possibilidades que se realizam num outro e não em nós mesmos, por outro deve-se pensar ao mesmo tempo que se está unido ao outro pela mesma pertença para reconstruir o seu ponto de vista, mas também para aprofundar o nosso ponto de vista. A partir desta experiência, o homem tem de ser, ao mesmo tempo, um ser forte com a noção exacta da sua fragilidade.Na aceitação do outro, que não pode ser rejeitado como bastardo ou herético, bem como na recusa de controlar o jogo com o outro e assim ganhar, está, creio, o "passaporte" do futuro da humanidade. Tal "passaporte" implica "melhorar a nossa capacidade de escuta no diálogo com o outro em vista de coexistência e solidariedade ainda inexploradas"(idem) e de abertura a novas possibilidades para a coevolução material e espiritual.Cumpre a cada um compreender que o homem se torna uma exigência existêncial para um outro. Na realidade, a exigência existêncial do outro introduz literalmente o ser egocêntrico nas interdependências. O egoísmo dará lugar à solidariedade, fraternidade e complementaridade. Assim, aprende-se que "a vida só é bela quando é uma empresa em benefício dos outros (e do mundo), quando sai da rotina que esteriliza para os perigos da aventura intelectual ou da aventura da acção"(Agostinho da Silva).De resto, o reconhecimento do outro "nada tem a ver com a racionalidade ou abdicação da razão, mas é um acto de profunda honestidade racional"(Edgar Morin), na medida em que, tal como Narciso, se o homem rejeitasse qualquer relação com os outros estaria condenado a perecer. Aliás, à medida que que o mimetismo invade o homem, cada um sente-se mais fraco em relação aos outros.A diversidade dos indivíduos funciona como um dos principais motores da evolução; é uma maneira de garantir o possível. Uma espécie de "seguro do futuro", aumentando as possibilidades de vida face à homogeneidade que traz a morte.
José Almeida. Aluno de Filosofia da UBI.
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