O cego perguntou-lhe:
- Srulek, diz-me, a neve como é?
- É branca, respondeu Srulek.
Passado um momento, voltou a perguntar:
- Branca, como?
-Branca -diz Srulek procurando as palavras - branca como leite.
Um pouco depois perguntou:
-O leite, é como?
- O leite - diz Srulek - estás a ver, é como as aves que pousam no rio, tu sabes, os cisnes.
- Ah, diz o cego.
Um momento depois perguntou a Srulek:
-Diz-me, como é um cisne?
- Bem, é uma ave grande, com asas grandes, um pescoço muito comprido e curvo, um bico asim.
Srulek esticou o braço e curvou o punho para imitar um cisne. O cego estendeu a mão e palpou o braço e a mão de Srulek, lentamente, atentamente, antes de dizer sorrindo:
- Ah, sim, agora já vejo como é ela, a neve...
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Editorial Teorema, 2000, Lisboa, pp. 45-46.
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