sábado, 25 de agosto de 2012

A Opinião Pública enquanto categoria política


A opinião pública é uma categoria política. Nesse sentido, ela não existe. Ainda que tenha a pretensão à universalidade, no sentido em que repousa na expressão simbólica de uma pretensa “vontade geral”, esta opinião pública é constituída, tão só, pelos interesses particulares dos mais diversos e diferenciados atores sociais assumidos como tais e tornada publica, de forma hegemónica, pelos meios de comunicação de massa.
Sendo uma categoria política a aparente contradição que esta encerra e que se traduz pelo facto de se posicionar, pretensiosamente, como a “voz do povo”, a expressão retórica da vontade geral, mas, ser, na realidade, resultado da emergência na esfera pública (dominada pelos media) de assuntos e/ou motivos de agentes singulares (por maior que seja o número destes agentes) com os seus interesses particulares. É uma contradição imediatamente resolvida se a encararmos sob o ponto de vista do seu posicionamento performativo. Assim, a opinião pública não é da ordem da falsidade ou da verdade, também pouco importa defini-la sem nos contradizermos, não importa, portanto, a sua objetividade. O que importa sim é que esta (a opinião pública enquanto categoria política) surta efeito eficiente nos jogos de poder e dominação (nomeadamente entre governados e governantes e por esta ordem evocada) que ocorrem de forma imanente em dado espaço social (p. ex., o território de um Estado-nação).
A opinião pública é, portanto, e surge assim, como o contraditório difuso (mas nem por isso menos eficaz), e sempre em risco de emergir, contra uma racionalidade maquiavélica, onde a arbitrariedade e/ou o livre-arbítrio do príncipe (enquanto representação do homem político, com dominação sobre um número significativo de outros homens) é elevada à categoria absoluta, sempre que o que estiver em causa ser o poder pelo poder.
David Santos.

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