A
opinião pública é uma categoria política. Nesse sentido, ela não existe. Ainda
que tenha a pretensão à universalidade, no sentido em que repousa na expressão
simbólica de uma pretensa “vontade geral”, esta opinião pública é constituída,
tão só, pelos interesses particulares dos mais diversos e diferenciados atores
sociais assumidos como tais e tornada publica, de forma hegemónica, pelos meios
de comunicação de massa.
Sendo
uma categoria política a aparente contradição que esta encerra e que se traduz
pelo facto de se posicionar, pretensiosamente, como a “voz do povo”, a expressão
retórica da vontade geral, mas, ser, na realidade, resultado da emergência na
esfera pública (dominada pelos media)
de assuntos e/ou motivos de agentes singulares (por maior que seja o número
destes agentes) com os seus interesses particulares. É uma contradição
imediatamente resolvida se a encararmos sob o ponto de vista do seu
posicionamento performativo. Assim, a
opinião pública não é da ordem da falsidade ou da verdade, também pouco importa
defini-la sem nos contradizermos, não importa, portanto, a sua objetividade. O que importa sim é que
esta (a opinião pública enquanto categoria política) surta efeito eficiente nos
jogos de poder e dominação (nomeadamente entre governados e governantes e por esta ordem evocada) que
ocorrem de forma imanente em dado espaço social (p. ex., o território de um
Estado-nação).
A opinião pública é,
portanto, e surge assim, como o contraditório difuso (mas nem por isso menos eficaz),
e sempre em risco de emergir, contra uma racionalidade maquiavélica, onde a arbitrariedade e/ou o livre-arbítrio do príncipe
(enquanto representação do homem político, com dominação sobre um número
significativo de outros homens) é elevada à categoria absoluta, sempre que o
que estiver em causa ser o poder pelo poder.
David Santos.
David Santos.
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