São Sócrates (não este, mas o Outro) e todos os santos (São Platão, sem dúvida; Santa Hannah Arendt, em especial) das nossas devoções filosóficas, rogai por nós! Como em tudo na vida, à força de disparar para tantos alvos, em algum se há-de acertar. Todavia, disparar muito sem discorrer bem, comporta alguns riscos contra os quais nós, portugueses, nem sempre nos sabemos precaver: somos todos muito lúcidos nos diagnósticos, mas um pouco parolos na prescrição e aplicação das terapias. Ora, posições como as que se defendem nesta entrevista (em que o diagnóstico se afigura até certo ponto realista, mas cuja terapia, se aplicada, tem tanto de sedutora como de fatal), são normalmente os hospedeiros ideais para a incubação e disseminação desses germes totalitários que já deixaram na nossa Europa cicatrizes para as quais convém olhar sem medo, vergonha ou repulsa. Dizer a todos o que se quer ouvir de imediato, e não o que verdadeiramente importa escutar com vagar e desvelo, é convidar o tirano a sentar-se à mesa... – convite deveras estranho, se pensarmos que, ainda não há muito tempo, o entrevistado em causa se ungia publicamente como ultra-liberal. Mééé-éé-é, não vou por aí!...
Que é necessário uma "nobre" reflexão sobre o "estado da nação" isso ninguem tem dúvidas. Mas também ao olharmos para o exemplo "desse" -ultra-libral (atenção... do ponto de vista economico) podemos tirar algumas liçoes. penso que é isso que se pretende.
Caros “trivial (o jogo)” e “monopolio”: Lamento desiludir-vos, mas, francamente, já dá tanto trabalho compreender onde estou, quanto mais saber e dizer por onde vou... Mapas, roteiros (vá lá, gps's) dão jeito a excursões e passeatas, mas não fazem a viagem por nós, designadamente aquela ao “Estado” a que tudo isto chegou. Por isso, sempre que políticos ou economistas nos oferecem “Radiosos Sóis” e “Guias Supremos” para iluminarem a nossa treva colectiva e orientarem os nossos vacilantes passos, assalta-me sempre à lembrança aquela bem conhecida proclamação do nosso José Régio, de que transcrevo alguns excertos:
« "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... (...) Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... (...) Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! (...) Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí!»
Para alem de ovelha e ranhosa :) tinhas também que ser negra :p. não tens muita originalidade (o que é neste momento ser original?) certo certo... as tuas palavras são bonitas e fazem aplaudir o mais ignobil ser desta "nação", é tudo poesia deprimente, tão deprimente como o "estado", contudo, admiro o teu "ponto de vista", só há um problema. O teu -ser [não do ponto de vista ontologico :) ] rebelde, não é assim tão rebelde, precisa de ser a tempo inteiro. Nunca se é rebelde em part time. no minimo a tempo inteiro. Desafio-te. A desvelares o caminho da luz, nã querendo eu, que sejas a luz.
Caro “trivial (o jogo)”: Fiquei sem perceber se o desafio era para cantar ou se era para cantar ao desafio. Se não esclareces a ambivalência, arriscas-te a passar “dias-a-fio” a ver navios... Pelo tom espertalhaço das tuas palavras, tens ar de ser filósofo ou de para lá caminhares, e, por acaso, até não tens nada de “trivial” (no sentido de “banal”, entendamos, não no clássico sentido de “trivium/trivia”, pois esse já não está ao alcance da maioria de nós...). Se bem entendi, o teu desafio contém uma petição: «desvelar(-te?!) o caminho da luz». Chiça, não és nada comedido nos pedidos que fazes. Todavia, são pedidos como esse – do tipo “ó facha’vôr, ninguém me avia aí um desvelamentozito para eu basar deste negrume existencial?...” – que propiciam a oportunidade social e política a Condutores Iluminados, prontos a dissipar a cegueira de um suposto povinho ignorante, transviado, patego e incapaz de decidir livremente o que quer. Meu caro, a luz não se pede, apenas podes responder ao seu apelo, deixar-te banhar por ela, e para isso não precisas de ser particularmente brilhante e original, mas originário naquilo que buscas e luminoso no que fazes. Queres um bitaite, em jeito de desafio? Começa por apurar a tua escrita, que até tem muito potencial (e por favor, poupa-me ao cliché de que o importante são as ideias, e não a linguagem em que incarnam: isso é má filosofia, e tu tens ar de quem gosta da boa...), e não subestimes nem fujas da poesia como diabo que foge da cruz, pois o mundo não acabará com anjos exterminadores ou ogivas nucleares, mas sim quando já não houver poesia (mesmo que seja “deprimente” – buá-á-á...) para cuidar de nós. Se a minha rebeldia é em part-time ou a tempo inteiro, obviamente não foi a ti, que eu saiba, a quem incumbiram de me picar o ponto: era o que faltava! E sabes porquê? Para ser vivido por inteiro, talvez o tempo deva possuir a singular condição ontológica de nos tornar inteiros na nossa liberdade de decidir. Precisamos de ditadores para isso, como o insinuava a entrevista que encontrou asilo filosófico neste blog?
Cuidado com o Oráculo que consultas – apesar do transe arrebatador da Pitonisa, o de Delfos não facilita lá muito: «o deus nem revela nem oculta, apenas indica...» Não te deprimas, trivial, tenho um vago pressentimento de que deambulamos pelas mesmas veredas...
que a entrevista é interessante, lá isso é. não somos obrigados a dizer amen ao que o Arroja diz, mas que nos "indica" (não como o oraculo) o pessimismo actual do nosso pais, lá isso ele tem razão. deve ser genético. abraços
13 comentários:
São Sócrates (não este, mas o Outro) e todos os santos (São Platão, sem dúvida; Santa Hannah Arendt, em especial) das nossas devoções filosóficas, rogai por nós!
Como em tudo na vida, à força de disparar para tantos alvos, em algum se há-de acertar. Todavia, disparar muito sem discorrer bem, comporta alguns riscos contra os quais nós, portugueses, nem sempre nos sabemos precaver: somos todos muito lúcidos nos diagnósticos, mas um pouco parolos na prescrição e aplicação das terapias. Ora, posições como as que se defendem nesta entrevista (em que o diagnóstico se afigura até certo ponto realista, mas cuja terapia, se aplicada, tem tanto de sedutora como de fatal), são normalmente os hospedeiros ideais para a incubação e disseminação desses germes totalitários que já deixaram na nossa Europa cicatrizes para as quais convém olhar sem medo, vergonha ou repulsa. Dizer a todos o que se quer ouvir de imediato, e não o que verdadeiramente importa escutar com vagar e desvelo, é convidar o tirano a sentar-se à mesa... – convite deveras estranho, se pensarmos que, ainda não há muito tempo, o entrevistado em causa se ungia publicamente como ultra-liberal.
Mééé-éé-é, não vou por aí!...
E vais por onde?
HUmm....
Que é necessário uma "nobre" reflexão sobre o "estado da nação" isso ninguem tem dúvidas. Mas também ao olharmos para o exemplo "desse" -ultra-libral (atenção... do ponto de vista economico) podemos tirar algumas liçoes. penso que é isso que se pretende.
Caros “trivial (o jogo)” e “monopolio”:
Lamento desiludir-vos, mas, francamente, já dá tanto trabalho compreender onde estou, quanto mais saber e dizer por onde vou... Mapas, roteiros (vá lá, gps's) dão jeito a excursões e passeatas, mas não fazem a viagem por nós, designadamente aquela ao “Estado” a que tudo isto chegou. Por isso, sempre que políticos ou economistas nos oferecem “Radiosos Sóis” e “Guias Supremos” para iluminarem a nossa treva colectiva e orientarem os nossos vacilantes passos, assalta-me sempre à lembrança aquela bem conhecida proclamação do nosso José Régio, de que transcrevo alguns excertos:
« "Vem por aqui"
— dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
(...)
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
(...)
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!»
PS: Na íntegra, sabe ainda melhor!... Espreitem!
Para alem de ovelha e ranhosa :) tinhas também que ser negra :p. não tens muita originalidade (o que é neste momento ser original?) certo certo...
as tuas palavras são bonitas e fazem aplaudir o mais ignobil ser desta "nação", é tudo poesia deprimente, tão deprimente como o "estado", contudo, admiro o teu "ponto de vista", só há um problema. O teu -ser [não do ponto de vista ontologico :) ] rebelde, não é assim tão rebelde, precisa de ser a tempo inteiro. Nunca se é rebelde em part time. no minimo a tempo inteiro. Desafio-te. A desvelares o caminho da luz, nã querendo eu, que sejas a luz.
Caro “trivial (o jogo)”:
Fiquei sem perceber se o desafio era para cantar ou se era para cantar ao desafio. Se não esclareces a ambivalência, arriscas-te a passar “dias-a-fio” a ver navios... Pelo tom espertalhaço das tuas palavras, tens ar de ser filósofo ou de para lá caminhares, e, por acaso, até não tens nada de “trivial” (no sentido de “banal”, entendamos, não no clássico sentido de “trivium/trivia”, pois esse já não está ao alcance da maioria de nós...). Se bem entendi, o teu desafio contém uma petição: «desvelar(-te?!) o caminho da luz». Chiça, não és nada comedido nos pedidos que fazes. Todavia, são pedidos como esse – do tipo “ó facha’vôr, ninguém me avia aí um desvelamentozito para eu basar deste negrume existencial?...” – que propiciam a oportunidade social e política a Condutores Iluminados, prontos a dissipar a cegueira de um suposto povinho ignorante, transviado, patego e incapaz de decidir livremente o que quer. Meu caro, a luz não se pede, apenas podes responder ao seu apelo, deixar-te banhar por ela, e para isso não precisas de ser particularmente brilhante e original, mas originário naquilo que buscas e luminoso no que fazes. Queres um bitaite, em jeito de desafio? Começa por apurar a tua escrita, que até tem muito potencial (e por favor, poupa-me ao cliché de que o importante são as ideias, e não a linguagem em que incarnam: isso é má filosofia, e tu tens ar de quem gosta da boa...), e não subestimes nem fujas da poesia como diabo que foge da cruz, pois o mundo não acabará com anjos exterminadores ou ogivas nucleares, mas sim quando já não houver poesia (mesmo que seja “deprimente” – buá-á-á...) para cuidar de nós. Se a minha rebeldia é em part-time ou a tempo inteiro, obviamente não foi a ti, que eu saiba, a quem incumbiram de me picar o ponto: era o que faltava! E sabes porquê? Para ser vivido por inteiro, talvez o tempo deva possuir a singular condição ontológica de nos tornar inteiros na nossa liberdade de decidir. Precisamos de ditadores para isso, como o insinuava a entrevista que encontrou asilo filosófico neste blog?
Raios...
Tenho que pensar...
Tenho que juntar o Oraculo...
Fiquei deprimdo... És mau
Cuidado com o Oráculo que consultas – apesar do transe arrebatador da Pitonisa, o de Delfos não facilita lá muito: «o deus nem revela nem oculta, apenas indica...»
Não te deprimas, trivial, tenho um vago pressentimento de que deambulamos pelas mesmas veredas...
Pois...
Tb vi esse filme.
Isso é do Pinto da Costa, não é.
Deambulamos todos pelas mesmas veredas...
Talvez por deambularmos tanto, nos assustamos quando temos que enfrentar o peso da decisão!?
que a entrevista é interessante, lá isso é.
não somos obrigados a dizer amen ao que o Arroja diz, mas que nos "indica" (não como o oraculo) o pessimismo actual do nosso pais, lá isso ele tem razão. deve ser genético.
abraços
por favor!!!!
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