Contraproducentemente o que eu quero ser é professor. E sempre que me perguntam o que quero fazer com o "canudo" de filosofia na mão, eu respondo então, com aparente seriedade, que quero ser professor. Levar uma vida mais ou menos tranquila, acartando para cá e para lá dezenas de livros com o orgulho estampado no rosto, uma pose discretamente intelectual, ou, pelo contrário, de típico "cientista maluco".
Eu sei que a vida não está fácil para quem tem na ponta do giz o futuro do país, ou ajustando, na tecla Enter do Magalhães. O "zunzum" constante dos media dão prova disso mesmo, – apesar da crise aparentemente não se estender ao ensino superior (descontando a afagada controvérsia acerca da gestão das universidades).
Mas se de um lado é o barulho democrático e generalizado que intensifica as dificuldades por que passa o sistema educativo português, do outro lado, é o asfixiante silêncio aristocrata que impera acima da pura incompetência e desleixo consciencializado dos seus docentes.
Desde que ingressei na Universidade da Beira Interior, que as probabilidades de poder ver o meu sonho de ser professor tornar-se realidade, triplicaram. Agora, bastava "apenas" ser licenciado (o que com o processo de Bolonha se resumiria a três anos de estudo). Chegava "saber ler" bem, ter conhecimento dos livros no mercado e não gaguejar. Por vezes até, em casos em que não consigo arrumar um adjectivo melhor senão, "insólitos". Bastava chegar ao cúmulo, de abandonar a sala após um quarto de hora de aula, deixando ao critério do aluno a honestidade (ou falta dela) diante de um teste surpresa, já que o professor que devia ter permanecido a vigiar o decorrer da prova (legitimando-a), se ausentou mais cedo para apanhar o comboio.
Meus caros (na formalidade própria de um aristocrata), estou longe de ser um bom aluno, sou até uma pessoa acanhada, feia no sentido mais tóxico do termo, mas acreditem, sei ler, e até com alguma entoação. Para licenciado, pouco tempo me resta. Comboio, não é o meu meio de transporte, mas sim, posso sempre viajar de autocarro. Acartando para cá e para lá dezenas de livros, com o orgulho estampado no rosto...
Sexto-Empirico