Em Busca da Verdade, é um filme acabado; enfim, aproximadamente uma hora e meia de filme, para revelar um segredo – o ajuste de contas final entre Ingmar Bergman e Deus.
Logo na primeira cena do filme ressalta a figura dos quatro – Karin, Martin, David e Minus – vindos do mar, como se tivessem realmente brotado dali e, de repente, no intuito de resolver todas as suas contendas (espirituais e não espirituais) se tivessem fixado naquela ilha – uma das incontáveis ilhas da Suécia – onde o mar e o céu de tão cinzentos quase que se confundem.
Em Busca da Verdade, é um filme intenso, onde todas as personagens desempenham um certo papel trágico. E se tudo roda em torno da loucura de Karin (Harriet Andersson), ela é ainda uma espécie de “bode expiatório”, que justifica o recolocar de certas questões, - retraídas propositadamente, ao simplesmente nunca colocadas. A loucura de Karin é representada neste filme, como sendo uma espécie de "excesso de vivência", que ainda que, não exploradas pelo resto da familia (pelos "não-loucos"), permanecem-lhe incrustadas no seu ser, prontas a serem exploradas, despoletadas no momento certo - no momento de conflito. A angústia desta personagem, é tão real como a de David (o seu pai) ou de Minus (o seu irmão), a questão é, que Karin, não consegue conter-se das suas dúvidas de forma a evitar ser também, como que, “engolida” por essas mesmas incertezas. Karin diz viver entre duas realidades, é lhe urgente escolher - para salvar a sua própria sanidade - em qual quer habitar: a realidade terrena, a cuidado do seu marido Martin, o dito “homem simples”, a quem o sentido da existência não merece resposta, porque já lhe aparece como dada; ou a realidade para-além, a realidade das palavras não ditas, da cara não vista, do corpo não palpável.
O grande problema está em Deus, é Ele quem dá corpo a esse para-além. Resolver a contenda com Deus, é a solução para “desambiguar” a existência; na corda bamba, entre a realidade sensível, tocável, familiar (logicamente finita) e a realidade transcendente, intangível, misteriosa, - aclamando por nós, sob o pretexto da eternidade.
A última deixa de Minus ("O papá falou comigo!...") transparece como a chaves do dilema e, enfim, de todo o dilema que o filme sustenta. É preciso esquecer Deus, para enaltece-lo a cada instante, na prática do amor que une, sob forças misteriosas e formas incompreensíveis. É preciso comunicar, quebrar o silêncio de Deus, tomar-lhe a palavra.
Torna-se necessário fechar as trancas à loucura (esquecer Karin), e esquecer também, esse enorme Deus invisível, "magro e feio", falso Deus de pau, de braços abertos sobre os altares de cada capela. A grande mensagem e esforço, do realizador de Em Busca da Verdade, é de trazer o “céu à terra”, da única maneira possível: pela prática do amor; da renúncia a Deus como transcendência e do restabelecimento da "paz" existencial pela resignação à finitude e limitação do homem.
Logo na primeira cena do filme ressalta a figura dos quatro – Karin, Martin, David e Minus – vindos do mar, como se tivessem realmente brotado dali e, de repente, no intuito de resolver todas as suas contendas (espirituais e não espirituais) se tivessem fixado naquela ilha – uma das incontáveis ilhas da Suécia – onde o mar e o céu de tão cinzentos quase que se confundem.
Em Busca da Verdade, é um filme intenso, onde todas as personagens desempenham um certo papel trágico. E se tudo roda em torno da loucura de Karin (Harriet Andersson), ela é ainda uma espécie de “bode expiatório”, que justifica o recolocar de certas questões, - retraídas propositadamente, ao simplesmente nunca colocadas. A loucura de Karin é representada neste filme, como sendo uma espécie de "excesso de vivência", que ainda que, não exploradas pelo resto da familia (pelos "não-loucos"), permanecem-lhe incrustadas no seu ser, prontas a serem exploradas, despoletadas no momento certo - no momento de conflito. A angústia desta personagem, é tão real como a de David (o seu pai) ou de Minus (o seu irmão), a questão é, que Karin, não consegue conter-se das suas dúvidas de forma a evitar ser também, como que, “engolida” por essas mesmas incertezas. Karin diz viver entre duas realidades, é lhe urgente escolher - para salvar a sua própria sanidade - em qual quer habitar: a realidade terrena, a cuidado do seu marido Martin, o dito “homem simples”, a quem o sentido da existência não merece resposta, porque já lhe aparece como dada; ou a realidade para-além, a realidade das palavras não ditas, da cara não vista, do corpo não palpável.
O grande problema está em Deus, é Ele quem dá corpo a esse para-além. Resolver a contenda com Deus, é a solução para “desambiguar” a existência; na corda bamba, entre a realidade sensível, tocável, familiar (logicamente finita) e a realidade transcendente, intangível, misteriosa, - aclamando por nós, sob o pretexto da eternidade.
A última deixa de Minus ("O papá falou comigo!...") transparece como a chaves do dilema e, enfim, de todo o dilema que o filme sustenta. É preciso esquecer Deus, para enaltece-lo a cada instante, na prática do amor que une, sob forças misteriosas e formas incompreensíveis. É preciso comunicar, quebrar o silêncio de Deus, tomar-lhe a palavra.
Torna-se necessário fechar as trancas à loucura (esquecer Karin), e esquecer também, esse enorme Deus invisível, "magro e feio", falso Deus de pau, de braços abertos sobre os altares de cada capela. A grande mensagem e esforço, do realizador de Em Busca da Verdade, é de trazer o “céu à terra”, da única maneira possível: pela prática do amor; da renúncia a Deus como transcendência e do restabelecimento da "paz" existencial pela resignação à finitude e limitação do homem.
2 comentários:
Para quando um curso livre de filosofia? Onde se pudesse discutir autores, obras ou conceitos?! Seria algo de positivo poder ter suporte teórico e mais sabido das inúmeras leituras de cariz filosófico que se fazem todos os dias... pensem nisso, seria, acho, bem aceite! Para além de oportuno é, diria mesmo, necessário.
Saudações...
Um núcleo inteiro tem essa opinião? Que curioso.. como é possível que tantos membros nutram a mesma ideia que não sai do campo da doxa, não tendo assim qualquer valor filosófico, e a expressem de uma forma conjunta tão fechada, como se de uma só pessoa se tratasse?
Abram-se à multidão, deixei a Filosofia acontecer!
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