sexta-feira, 22 de maio de 2009

A PRISÃO - Jesús Zárate



“O meu nome é Antón Castán”, assim principia o livro editado e premiado postumamente, A Prisão, do autor colombiano Jesús Zárate (1915-1967). Em traços rápidos ríspidos, o romance que Urbano Tavares Rodrigues prefacia com o título: “Filosofia na cela”; concentra-se quase inteiramente num único espaço, - o (sem)espaço de uma prisão. Um lugar onde a única liberdade permitida é a de pensamento, e onde ao próprio pensamento não lhe é permitido exercer a sua liberdade isoladamente, de forma egoísta, mas é sempre partilhado, explorado dialecticamente até, não à conclusão dos seus conceitos, mas à aceitação da pluralidade e à impossibilidade de os concluir – como se tal conclusão constrange-se, a própria liberdade do pensamento.

O fantástico neste romance, é o facto de não se saber se é verdadeiramente um romance (como pretendia a personagem Pablo Ibbieta), se é uma peça dramática (como asseverava David Fresno) ou se é, no final de todas as contas (como os três companheiros de cela, debatem no próprio livro), um simples diário que Castán resolvera assinar, como testemunha das liberdades tomadas na prisão (um paradoxo ainda assim: possível). Esta discussão, ainda que à primeira vista pareça fútil, acerca do estilo narrativo imposto no livro A Prisão, é também ela “chaves”, para a compreensão da complexidade do romance, escrito de maneira impecavelmente simples, mas com uma torrente de sentidos possíveis, que tornam-no uma missão impossível aos ávidos leitores que pretendam de um único golpe, desferir todos os sentido do texto. Não! Este texto não é para ler, é para ser relido!

A prisão, não é tão-só a transcrição de um simples diário, contendo no seu aspecto primitivo o mero relato de um - como o outro – dia após dia; o próprio diário é ultrapassado (transcendido), para dar lugar ao drama: um condenado inocente; um director prisional tirânico; a “angústia pela liberdade”; um súbito motim; o assassínio desse director prisional; uma rosa de caule de arame regada com todo o trato…

E isto não termina aqui, a própria expressão dramática, não contendo mais do que, um compósito de movimentos mais ou menos clarividentes, e facilmente mensuráveis por um público atento, neste livro essa mensuração não é possível, os temas são comuns (a liberdade; a justiça; a vingança) mas ainda assim complexos, as personagens são simples mas ainda assim autênticos poços perpétuos incendiando o tempo, com labaredas tão ténues, tão ténues, que só a densidade de um romance poderia alguma vez conter. Enfim, o que este livro é, só o leitor o poderá defender, sendo que, o que ele não seja está já contido nestas linhas, tão parcas, tão míseras, para exprimir tamanha obra!

2 comentários:

DCS disse...

Para quando um curso livre de filosofia? Onde se pudesse discutir autores, obras ou conceitos?! Seria algo de positivo poder ter suporte teórico e mais sabido das inúmeras leituras de cariz filosófico que se fazem todos os dias... pensem nisso, seria, acho, bem aceite! Para além de oportuno é, diria mesmo, necessário.
Saudações...

Anónimo disse...

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