No ano de 1765, foi
publicada esta obra que se inspirou nas lições de lógica do manual de George
Friedrich Meier intitulado Auszugaus der
Vernunftlehre editado em 1752, procurando conciliar com as suas próprias
lições. Esta obra introduz uma doutrina elementar que se move sobre três eixos
essenciais para reger o pensar, e são eles: os conceitos, os juízos e os
raciocínios. Outro ponto da sua máxima importância é o objetivo desta obra, que
se fixa em dar resposta às seguintes questões: Que posso fazer? (Sentido
prático), Que devo fazer? (Sentido ético), Que me é permitido esperar? (Sentido
religioso) e Que é o homem? (Sentido antropológico). A finalizar esta
introdução deveremos ainda revelar que esta obra tem um carácter propedêutico,
cujo epicentro é uma lógica geral, simples e sistemática de cariz científico.
É neste momento, e em
função do título, que fazemos esta pergunta: o que é a lógica? Para o autor
tudo o que se passa na natureza decorre segundo regras, porque a irregularidade
é produto da nossa ignorância. O mesmo diz respeito às nossas faculdades numa
fase inicial, em que aos poucos e com o preencher da experiência chegamos à sua
percepção; existindo, assim, uma passagem para um plano mais abstrato o que exige
um grande esforço devido à familiaridade com os sentidos. Nesta operação de
abstracção o entendimento obedece a certas e determinadas regras, das quais ele
próprio é produtor. Mas, se o entendimento produz regras, então com que regras
é que ele se desenvolve? Essas regras dividem-se em contingentes e necessárias.
As regras contingentes, referem-se ao uso de uma parte desse mesmo
entendimento, isto é, é contingente o foco num ou noutro dado objecto do
conhecimento, o qual esta associado a regras particulares que provêm da
experiência (a posteriori). Quanto às
regras necessárias, como o próprio nome induz, são regras que têm de estar
obrigatoriamente no campo do entendimento, e são independentes dos objectos
particulares do pensar, assim, devem ser consideradas a priori; as regras a priori são
independentes da experiência, sendo por isso condições necessárias ao uso do
entendimento em geral e que toma como objecto de estudo a simples forma. E é
aqui que a lógica surge, já não como uma potência, mas efectivamente como ciência
que estuda as regras universais e necessárias ao entendimento.
Então, como é que a
lógica, enquanto ciência, pode ser vista? Em primeiro lugar, pode ser vista
como fundamento das outras ciências e como propedêutica do uso do entendimento,
não podendo ser nenhum órganon [sendo
que o órganon implica a noção de objecto de conhecimento]. Noutro plano, a
lógica funciona como correctora e apreciadora do conhecimento em geral, funcionado
como uma peneireira, que depura os dados que recebemos pela via dos sentidos.
São justamente estas características, a de analisar e a de corrigir, e para as
quais são necessárias leis puras a priori, que fazem da lógica um cânon que visa as regras de como devemos
pensar, isto é, o procedimento de pensamento. O que se opõe ao pensar para si
que é algo de subjectivo, pois foca-se em leis contingentes.
A lógica deve ser
entendida como uma ciência racional quanto à matéria, pois como as regras são a
priori que têm como fonte de estudo a própria razão o que por conseguinte
resulta num auto-conhecimento do entendimento e da razão apenas e tão só quanto
à sua forma. Mais, a lógica é uma doutrina que se ocupa das leis universais e
necessárias e dos princípios a priori para validar regras. Para terminar, temos
a distinção entre a lógica transcendental, cujo objeto representa o objecto do
simples entendimento, enquanto a lógica representa os objectos em geral.
Concluindo, a
explicação do conceito de lógica é a seguinte: a lógica é uma ciência que
racionaliza tanto quanto à simples forma como à matéria. É a priori pois
centra-se nas leis necessárias ao pensar relativamente a todos os objectos em
geral da razão geral; e não da razão subjectiva e dos objectos em particular.
Fernando de Almeida.