domingo, 25 de novembro de 2012

Lógica, Immanuel Kant (terceira parte)



Continuando o nosso passeio, ainda dentro do horizonte de conhecimento do sujeito, temos um saber que é absoluto e universal – em que os limites do conhecimento humano estão em sintonia com os limites da perfeição humana em geral – ou um saber que é particular e condicionado – que pertence ao horizonte do privado e que está limitado às próprias faculdades inteletuais do sujeito. Isto conduz-nos a diferentes tipos de conhecimentos, que iremos começar desde já a ilustrar: o saber histórico sem quaisquer limites (poli-história) e o conhecimento racional (polimatia). Do alinhar destes dois saberes resulta a pansofia. Por outro lado, o saber histórico comporta em si a ciência dos instrumentos de erudição – a filologia, que é o conhecimento crítico que se debruça na literatura e linguística. E é daqui que surge o literato ou bel spirit que se interessa pelos conhecimentos do gosto que estão de acordo com a moda.
Quanto às ciências, temos o pedantismo e o enfantramento. Enquanto a primeira se ocupa das ciências de escola, restringindo-as no que respeita ao seu uso, o segundo trata de lhe dar uma utilidade pragmática, limitando o conteúdo. Surgindo duas grandezas: a grandeza intensa [que contempla a validade e importância], e a grandeza extensiva [que diz respeito à vastidão, aqui convêm fazermos a seguintes observações: a) o uso do entendimento foca-se no todo e não nas partes; b) no plano lógico, dominar todo o conhecimento que suscite a perfeição lógica quanto à forma. Embora não seja possível prever a sua importância prática quanto à especificidade, mas é possível esperar que exista alguma utilidade; c) não confundir importância com dificuldade, pois um conhecimento pode ser importante sem ser obrigatoriamente difícil. A importância de um conhecimento é justificada pela vastidão das suas consequências. Porém, se as consequências tiverem pouco relevo, então, obtivemos um mero devaneio de conhecimento.
Outro assunto, também ele de interesse, é a verdade. O que é a verdade, perguntam vocês? Seguindo o caminho trilhado pelo filósofo em análise, a verdade consiste no acordo do conhecimento com o seu objeto, consequentemente, o sujeito só pode comparar o objeto porque o conhece, daí segue-se que, o conhecimento acerca de um objeto necessita de auto-confirmar-se. Seguindo um critério formal de verdade que consiste exatamente nesta coerência do conhecimento consigo mesmo, o         qual está imbuído de três princípios de verdade: a) princípio da contradição e da identidade; b) o princípio da razão suficiente; e c) o princípio do terceiro excluído. Já o seu antagónico, a falsidade, se for tomado como verdade chama-se erro. E que pode ter como origem uma segunda fonte de conhecimento, que é a sensibilidade que nos fornece o material que constitui a matéria do nosso pensamento e que se desenvolve segundo leis diferentes das do entendimento e que, por vezes, nos pode levar a confundir aparência com a própria verdade. Deste modo, para evitar tais erros à que identificar essa aparência, que pode ser clarificada com o juízo de outros, claro que se existir diferendo, então, temos indício de erro.
E daqui surgem duas regras: a primeira, é a verdade da consequência, pois a consequência é determinada pelo seu princípio, que é o conhecimento; a segunda, que consiste no seu contrário, que se as consequências são verdadeiras, logo o conhecimento é verdadeiro. Por outro lado, esta influência da sensibilidade leva-nos a tomar por objetivo algo que é subjetivo e que tem apenas aparência de verdade. Para que se evite tal malfeito, o autor recomenda as seguintes precauções: 1) pensamento próprio (modo de pensar ilustrado); 2) pensar na posição do outro (modo de pensar alargado), e; 3) pensar em acordo consigo mesmo (modo de pensar consequente).
Concluindo, verificamos que o pedantismo se ocupa das ciências da escola, por seu lado, o enfatramento procura dar uma utilidade pragmática a essas ciências. Segundo ponto visa a verdade como conhecimento que se identifica com o seu objeto e que se auto-confirma; à verdade seguem-se os seus critérios formais, inspirados nos critérios aristotélicos e a regra de princípios - consequência; além das preocupações relativas à sensibilidade, uma vez que ela nos pode conduzir ao erro.  

Fernando de Almeida.

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