Continuando o nosso passeio,
ainda dentro do horizonte de conhecimento do sujeito, temos um saber que é
absoluto e universal – em que os limites do conhecimento humano estão em
sintonia com os limites da perfeição humana em geral – ou um saber que é
particular e condicionado – que pertence ao horizonte do privado e que está
limitado às próprias faculdades inteletuais do sujeito. Isto conduz-nos a
diferentes tipos de conhecimentos, que iremos começar desde já a ilustrar: o
saber histórico sem quaisquer limites (poli-história) e o conhecimento racional
(polimatia). Do alinhar destes dois saberes resulta a pansofia. Por outro lado,
o saber histórico comporta em si a ciência dos instrumentos de erudição – a
filologia, que é o conhecimento crítico que se debruça na literatura e
linguística. E é daqui que surge o literato ou bel spirit que se interessa
pelos conhecimentos do gosto que estão de acordo com a moda.
Quanto às ciências, temos o
pedantismo e o enfantramento. Enquanto a primeira se ocupa das ciências de
escola, restringindo-as no que respeita ao seu uso, o segundo trata de lhe dar
uma utilidade pragmática, limitando o conteúdo. Surgindo duas grandezas: a
grandeza intensa [que contempla a validade e importância], e a grandeza
extensiva [que diz respeito à vastidão, aqui convêm fazermos a seguintes
observações: a) o uso do entendimento foca-se no todo e não nas partes; b) no plano
lógico, dominar todo o conhecimento que suscite a perfeição lógica quanto à
forma. Embora não seja possível prever a sua importância prática quanto à
especificidade, mas é possível esperar que exista alguma utilidade; c) não
confundir importância com dificuldade, pois um conhecimento pode ser importante
sem ser obrigatoriamente difícil. A importância de um conhecimento é
justificada pela vastidão das suas consequências. Porém, se as consequências
tiverem pouco relevo, então, obtivemos um mero devaneio de conhecimento.
Outro assunto, também ele de
interesse, é a verdade. O que é a verdade, perguntam vocês? Seguindo o caminho
trilhado pelo filósofo em análise, a verdade consiste no acordo do conhecimento
com o seu objeto, consequentemente, o sujeito só pode comparar o objeto porque
o conhece, daí segue-se que, o conhecimento acerca de um objeto necessita de
auto-confirmar-se. Seguindo um critério formal de verdade que consiste
exatamente nesta coerência do conhecimento consigo mesmo, o qual está imbuído de três princípios de
verdade: a) princípio da contradição e da identidade; b) o princípio da razão
suficiente; e c) o princípio do terceiro excluído. Já o seu antagónico, a
falsidade, se for tomado como verdade chama-se erro. E que pode ter como origem
uma segunda fonte de conhecimento, que é a sensibilidade que nos fornece o
material que constitui a matéria do nosso pensamento e que se desenvolve
segundo leis diferentes das do entendimento e que, por vezes, nos pode levar a
confundir aparência com a própria verdade. Deste modo, para evitar tais erros à
que identificar essa aparência, que pode ser clarificada com o juízo de outros,
claro que se existir diferendo, então, temos indício de erro.
E daqui surgem duas regras: a
primeira, é a verdade da consequência, pois a consequência é determinada pelo
seu princípio, que é o conhecimento; a segunda, que consiste no seu contrário,
que se as consequências são verdadeiras, logo o conhecimento é verdadeiro. Por
outro lado, esta influência da sensibilidade leva-nos a tomar por objetivo algo
que é subjetivo e que tem apenas aparência de verdade. Para que se evite tal
malfeito, o autor recomenda as seguintes precauções: 1) pensamento próprio
(modo de pensar ilustrado); 2) pensar na posição do outro (modo de pensar
alargado), e; 3) pensar em acordo consigo mesmo (modo de pensar consequente).
Concluindo, verificamos que o
pedantismo se ocupa das ciências da escola, por seu lado, o enfatramento
procura dar uma utilidade pragmática a essas ciências. Segundo ponto visa a
verdade como conhecimento que se identifica com o seu objeto e que se
auto-confirma; à verdade seguem-se os seus critérios formais, inspirados nos
critérios aristotélicos e a regra de princípios - consequência; além das
preocupações relativas à sensibilidade, uma vez que ela nos pode conduzir ao
erro.
Fernando de Almeida.
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