Voltando ao
conhecimento humano, ele é discursivo, isto é, ocorre mediante representações
em que aquilo que é comum entre diversas coisas funciona como princípio
cognitivo, recorrendo a caraterísticas. Depreendendo-se que reconhecemos as
coisas pelas suas caraterísticas e do reconhecer advém o conhecer. E o que é
que o autor define como caraterística? A caraterística é apenas uma parte de um
todo que constitui o conhecimento da coisa. Sendo dividida em duas vertentes:
a) a representação em si mesma e b) como princípio cognitivo de uma coisa.
Explicando este último ponto de outro modo, o princípio cognitivo de uma coisa
é a uma parte daquilo que constitui a coisa. E aqui podemos encontrar um duplo
uso: o uso interno que consiste na dedução, partindo das caraterísticas para
chegar ao conhecimento das próprias coisas, e o uso externo, que se baseia na
comparação de caraterísticas e das próprias coisas obedecendo às leis da
identidade e da diversidade.
Existem ainda diversas
classificações para essas caraterísticas. Entre elas, temos as analíticas que
se limitam a conceitos parciais do conceito real (que já são pensadas pelo
sujeito, pois o conceito já está dado, não gerando qualquer ampliação do nosso
conhecimento), enquanto que as caraterísticas sintéticas são o conjunto de
conceitos parciais para formar um conceito total possível (só a partir da
síntese das várias partes se consegue formar um conceito total possível, desse
modo, existe um alargar do nosso horizonte de conhecimento). De seguida, temos
as caraterísticas coordenadas que consiste na representação imediata da coisa;
enquanto as subordinadas uma caraterística da coisa só é representada por meio
de outra. Caraterísticas afirmativas, é o que a coisa é; caraterísticas
negativas, é o que a coisa não é. Nas caraterísticas importantes e frutíferas,
o que importa é o número e importância das consequências oferecidas pelo
princípio cognitivo; ao contrário daquilo que se passa com as caraterísticas
vazias e irrelevantes. E, por último, as caraterísticas suficientes e
necessárias; suficientes, pois uma coisa é distinta de todas as outras, e
necessárias têm que estar sempre na coisa representada; em antigónia às
caraterísticas insuficientes e contingentes.
Também outro tema que
temos vindo a desenvolver ultimamente é a verdade. A verdade é uma propriedade
objetiva do conhecimento, porém se tem por fonte um sujeito é subjetivamente um
assentimento, que se divide em duas espécies: a incerteza, que se tipifica pela
causalidade e da possibilidade do oposto – como a opinião e a fé –, e a certeza
que está associada à consciência da necessidade – saber. A partir das costuras
já traçadas, temos três modos de assentimento: opinião, fé e saber. Começando
pela opinião, ela é um julgar problemático; a fé é um julgar assertórico; e o
saber um julgar apodíctico. Sendo o opinar apenas a consciência de julgar
problemática; sendo o assertórico algo que não é necessário e apenas válido
para o sujeito, por último o saber que é geral e objetivamente válido, ou seja,
que é válido para todos. Na área da opinião o fundamento cognitivo, sem suporte
subjetivo nem objetivo suficientes, apenas pode ser visto como juízo provisório
e nada mais do que isso. No plano da fé, o assentimento é objetivamente
insuficiente, por contrapartida, é subjetivamente suficiente e diz respeito a
objetos de que nada se pode saber e aos quais nem sequer se atribui
probabilidade, o assentimento é livre e apenas necessário num propósito prático
que inclui razões morais. O saber é um fundamento cognitivo, que é
objetivamente e subjetivamente suficiente, é ou empírico ou racional, pois
advém de duas fontes de conhecimento: a experiência e a razão. Ambas podem ser
imediata ou mediata, ou seja, ou não necessita de nenhuma prova, porque é
imediatamente certo ou indemonstrável, ou carece de prova. Sendo que as provas
podem ser de natureza direta ou indireta, isto é, apagógicas. Fazendo agora uma
distinção entre as duas: a certeza empírica é ou originária (experiência
própria) ou derivada (consciência alheia, frequentemente discriminada por
certeza histórica); certeza racional distingue-se da empírica pela consciência
de necessidade.
Mas quando fazemos dos
juízos provisórios de juízos determinantes ou princípios, sendo a sua causa a
confusão entre fundamentos objetivos devido à falta de reflexão, então,
começamos a mergulhar no campo dos preconceitos, cujas fontes podem ser: a
imitação, que é tomar simplesmente por verdadeiro aquilo que outros puseram a
circular, cujos expedientes são: fórmulas, máximas, sentenças, cânones e
provérbios; quanto ao hábito, advém da retenção do nosso entendimento num juízo
por razões erradas, e que sucessivamente vai ficando embaraçado e que só por
força do tempo se vê obrigado a eliminar o juízo preconceituoso, que dimana dos
preconceitos de prestígio (preconceitos de prestígio de pessoa, preconceitos de
prestígio de multidão e preconceitos de prestígio da época) ou preconceitos de
amor-próprio; e a inclinação que é o uso passivo da razão. Para evitar isto o
autor alerta não se reter a juventude na simples imitação, como usualmente
acontece.
A complementar tudo o que já foi revelado
anteriormente, surge a temática da dúvida que tanto pode ser originária da
existência da possibilidade contrária como, também, pode ser um simples
obstáculo do assentimento, que pode ser subjetiva – estado de ânimo – ou
objetiva – conhecimento da insuficiência de razões para o assentimento, usualmente
designada de objecção. Sendo que a razão contrária ao assentimento de ordem
subjetiva chamada de escrúpulo. A dúvida funciona segundo o princípio de tornar
incertos determinados conhecimentos procurando demonstrar a impossibilidade de
chegar à certeza, como acontece no cepticismo, mas que pode ser útil quando
retida na suspensão do juízo e quando conjugada com o método crítico, típico do
método de filosofar, que analisa as afirmações e as objecções na esperança de
chegar à certeza.
Já no caso da hipótese,
entrando na temática da probabilidade, consiste num assentimento do juízo
acerca da verdade de um fundamento em virtude da suficiência das consequências.
Sendo os requisitos os seguintes: 1ª.) a possibilidade da própria
pressuposição, ou seja, a verossimilhança com o intuito de evitar cair na
invenção; 2.ª) a consequência, pois só de fundamentos corretos derivam
consequências corretas; e 3.ª) a unidade, em que a hipótese deve sustentar-se
por si mesma, sem necessitar de hipótese auxiliares.
Avançando para os últimos
momentos da obra, encontramos as seguintes secções: 1.ª) dos conceitos; 2.ª)
dos juízos; e 3.ª) dos raciocínios; que, para além de desenvolver aquilo que já
vem a ser tratado ao longo da obra vai ainda abordar a lógica aristotélica; no
último momento, temos como tema a metodologia geral que engloba os seguintes
assuntos: a) fomento da perfeição lógica do conhecimento mediante a definição,
a exposição e a descrição dos conceitos; e b) fomento da perfeição do
conhecimento por divisão lógica dos conceitos; que toma como assunto os
conceitos, o seu tratamento, bem como, a sua exposição.
Concluindo, o
conhecimento humano é um conhecimento que recorre às caraterísticas comuns
entre diversas coisas, funcionando como princípios cognitivos; e que tanto
podem partir do todo para as partes (caraterísticas analíticas) como podem
partir das partes para o todo (caraterísticas sintéticas). E apesar da verdade
ser uma propriedade objetiva do conhecimento, ela pode ter como fonte uma
pessoa e, desse modo, temos subjetivamente um assentimento. Ora se damos
assentimento a alguém, podemos facilmente cair num preconceito de prestígio,
para evitar isso, recomenda-se o juízo provisório que, pondo em suspenso
qualquer juízo determinante, põe no crivo da análise crítica todas as
afirmações e objecções com o objetivo de chegar a uma certeza.
Passando para a
atualidade da obra, ela ainda hoje permanece atual, basta darmos uma olhadela na
metodologia científica.
Bem, caros leitores,
terminamos a nossa epopeia anual com esta magnífica obra do pensamento moderno,
lamentamos não termos tido mais tempo para uma análise mais digna desta obra,
mas por razões de economia de tempo tivemos que proceder desta forma; advertimo-los
que estes pequenos textos são fruto de interpretações da leitura das próprias
obras e que em nada se compara com a leitura das mesmas. A todos desejo um
feliz natal e próspero ano novo, para o ano voltaremos com mais comentários
sobre novas obras.
Fernando de Almeida.
Fernando de Almeida.
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