terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Lógica, Immanuel Kant (quarta parte)


Voltando ao conhecimento humano, ele é discursivo, isto é, ocorre mediante representações em que aquilo que é comum entre diversas coisas funciona como princípio cognitivo, recorrendo a caraterísticas. Depreendendo-se que reconhecemos as coisas pelas suas caraterísticas e do reconhecer advém o conhecer. E o que é que o autor define como caraterística? A caraterística é apenas uma parte de um todo que constitui o conhecimento da coisa. Sendo dividida em duas vertentes: a) a representação em si mesma e b) como princípio cognitivo de uma coisa. Explicando este último ponto de outro modo, o princípio cognitivo de uma coisa é a uma parte daquilo que constitui a coisa. E aqui podemos encontrar um duplo uso: o uso interno que consiste na dedução, partindo das caraterísticas para chegar ao conhecimento das próprias coisas, e o uso externo, que se baseia na comparação de caraterísticas e das próprias coisas obedecendo às leis da identidade e da diversidade.
Existem ainda diversas classificações para essas caraterísticas. Entre elas, temos as analíticas que se limitam a conceitos parciais do conceito real (que já são pensadas pelo sujeito, pois o conceito já está dado, não gerando qualquer ampliação do nosso conhecimento), enquanto que as caraterísticas sintéticas são o conjunto de conceitos parciais para formar um conceito total possível (só a partir da síntese das várias partes se consegue formar um conceito total possível, desse modo, existe um alargar do nosso horizonte de conhecimento). De seguida, temos as caraterísticas coordenadas que consiste na representação imediata da coisa; enquanto as subordinadas uma caraterística da coisa só é representada por meio de outra. Caraterísticas afirmativas, é o que a coisa é; caraterísticas negativas, é o que a coisa não é. Nas caraterísticas importantes e frutíferas, o que importa é o número e importância das consequências oferecidas pelo princípio cognitivo; ao contrário daquilo que se passa com as caraterísticas vazias e irrelevantes. E, por último, as caraterísticas suficientes e necessárias; suficientes, pois uma coisa é distinta de todas as outras, e necessárias têm que estar sempre na coisa representada; em antigónia às caraterísticas insuficientes e contingentes.
Também outro tema que temos vindo a desenvolver ultimamente é a verdade. A verdade é uma propriedade objetiva do conhecimento, porém se tem por fonte um sujeito é subjetivamente um assentimento, que se divide em duas espécies: a incerteza, que se tipifica pela causalidade e da possibilidade do oposto – como a opinião e a fé –, e a certeza que está associada à consciência da necessidade – saber. A partir das costuras já traçadas, temos três modos de assentimento: opinião, fé e saber. Começando pela opinião, ela é um julgar problemático; a fé é um julgar assertórico; e o saber um julgar apodíctico. Sendo o opinar apenas a consciência de julgar problemática; sendo o assertórico algo que não é necessário e apenas válido para o sujeito, por último o saber que é geral e objetivamente válido, ou seja, que é válido para todos. Na área da opinião o fundamento cognitivo, sem suporte subjetivo nem objetivo suficientes, apenas pode ser visto como juízo provisório e nada mais do que isso. No plano da fé, o assentimento é objetivamente insuficiente, por contrapartida, é subjetivamente suficiente e diz respeito a objetos de que nada se pode saber e aos quais nem sequer se atribui probabilidade, o assentimento é livre e apenas necessário num propósito prático que inclui razões morais. O saber é um fundamento cognitivo, que é objetivamente e subjetivamente suficiente, é ou empírico ou racional, pois advém de duas fontes de conhecimento: a experiência e a razão. Ambas podem ser imediata ou mediata, ou seja, ou não necessita de nenhuma prova, porque é imediatamente certo ou indemonstrável, ou carece de prova. Sendo que as provas podem ser de natureza direta ou indireta, isto é, apagógicas. Fazendo agora uma distinção entre as duas: a certeza empírica é ou originária (experiência própria) ou derivada (consciência alheia, frequentemente discriminada por certeza histórica); certeza racional distingue-se da empírica pela consciência de necessidade.
Mas quando fazemos dos juízos provisórios de juízos determinantes ou princípios, sendo a sua causa a confusão entre fundamentos objetivos devido à falta de reflexão, então, começamos a mergulhar no campo dos preconceitos, cujas fontes podem ser: a imitação, que é tomar simplesmente por verdadeiro aquilo que outros puseram a circular, cujos expedientes são: fórmulas, máximas, sentenças, cânones e provérbios; quanto ao hábito, advém da retenção do nosso entendimento num juízo por razões erradas, e que sucessivamente vai ficando embaraçado e que só por força do tempo se vê obrigado a eliminar o juízo preconceituoso, que dimana dos preconceitos de prestígio (preconceitos de prestígio de pessoa, preconceitos de prestígio de multidão e preconceitos de prestígio da época) ou preconceitos de amor-próprio; e a inclinação que é o uso passivo da razão. Para evitar isto o autor alerta não se reter a juventude na simples imitação, como usualmente acontece.
 A complementar tudo o que já foi revelado anteriormente, surge a temática da dúvida que tanto pode ser originária da existência da possibilidade contrária como, também, pode ser um simples obstáculo do assentimento, que pode ser subjetiva – estado de ânimo – ou objetiva – conhecimento da insuficiência de razões para o assentimento, usualmente designada de objecção. Sendo que a razão contrária ao assentimento de ordem subjetiva chamada de escrúpulo. A dúvida funciona segundo o princípio de tornar incertos determinados conhecimentos procurando demonstrar a impossibilidade de chegar à certeza, como acontece no cepticismo, mas que pode ser útil quando retida na suspensão do juízo e quando conjugada com o método crítico, típico do método de filosofar, que analisa as afirmações e as objecções na esperança de chegar à certeza.
Já no caso da hipótese, entrando na temática da probabilidade, consiste num assentimento do juízo acerca da verdade de um fundamento em virtude da suficiência das consequências. Sendo os requisitos os seguintes: 1ª.) a possibilidade da própria pressuposição, ou seja, a verossimilhança com o intuito de evitar cair na invenção; 2.ª) a consequência, pois só de fundamentos corretos derivam consequências corretas; e 3.ª) a unidade, em que a hipótese deve sustentar-se por si mesma, sem necessitar de hipótese auxiliares.
Avançando para os últimos momentos da obra, encontramos as seguintes secções: 1.ª) dos conceitos; 2.ª) dos juízos; e 3.ª) dos raciocínios; que, para além de desenvolver aquilo que já vem a ser tratado ao longo da obra vai ainda abordar a lógica aristotélica; no último momento, temos como tema a metodologia geral que engloba os seguintes assuntos: a) fomento da perfeição lógica do conhecimento mediante a definição, a exposição e a descrição dos conceitos; e b) fomento da perfeição do conhecimento por divisão lógica dos conceitos; que toma como assunto os conceitos, o seu tratamento, bem como, a sua exposição.     
Concluindo, o conhecimento humano é um conhecimento que recorre às caraterísticas comuns entre diversas coisas, funcionando como princípios cognitivos; e que tanto podem partir do todo para as partes (caraterísticas analíticas) como podem partir das partes para o todo (caraterísticas sintéticas). E apesar da verdade ser uma propriedade objetiva do conhecimento, ela pode ter como fonte uma pessoa e, desse modo, temos subjetivamente um assentimento. Ora se damos assentimento a alguém, podemos facilmente cair num preconceito de prestígio, para evitar isso, recomenda-se o juízo provisório que, pondo em suspenso qualquer juízo determinante, põe no crivo da análise crítica todas as afirmações e objecções com o objetivo de chegar a uma certeza.
Passando para a atualidade da obra, ela ainda hoje permanece atual, basta darmos uma olhadela na metodologia científica.
Bem, caros leitores, terminamos a nossa epopeia anual com esta magnífica obra do pensamento moderno, lamentamos não termos tido mais tempo para uma análise mais digna desta obra, mas por razões de economia de tempo tivemos que proceder desta forma; advertimo-los que estes pequenos textos são fruto de interpretações da leitura das próprias obras e que em nada se compara com a leitura das mesmas. A todos desejo um feliz natal e próspero ano novo, para o ano voltaremos com mais comentários sobre novas obras.
Fernando de Almeida.
            

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