quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

O amor visto por um amante - Papa Bento XVI

O Papa Bento XVI, na sua primeira Encíclica, decide escrever sobre o amor, uma vez que actualmente tem-se usado Deus como um subterfúgio para tornar guerras legítimas. Ora, uma guerra está diametralmente oposta ao amor. Os israelitas, na oração em torno da qual gira a sua vida quotidiana repetem: «Escuta, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças». Jesus veio completar este mandamento com o do amor ao próximo: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Bento XVI, inicia a Encíclica referindo que hodiernamente há uma confusão no significado da palavra amor, ao mesmo tempo, a palavra "amor" foi-se banalizando cada vez mais: "fala-se de amor da pátria, amor à profissão, amor entre amigos, amor ao trabalho, amor entre pais e filhos, entre irmãos e familiares, amor ao próximo e amor a Deus." No entanto, nestas utilizações da palavra amor ressalta a que se refere a amor entre o homem e a mulher, chegando mesmo este tipo de amor a "ofuscar" os outros, como refere Bento XVI. Mas isto leva a que nos questionemos se há somente o amor, que depois se diferencia em várias formas, ou se estas várias formas de relações se referem a realidades diferentes. No grego distinguem-se sobretudo dois tipos de amor: o "eros" e o "agape". O "eros" está relacionado com o amor entre o homem e a mulher, é o amor do inebriamento, da "loucura divina", dos rituais de fecundidade nos templos, que não depende da vontade nem da razão, que de algum modo se impõe ao homem; o "agape" é o amor firmado na fé, oblativo... Uma questão se coloca: será que este último tipo de amor, próprio do cristianismo, é, no limite, praticável? Bento XVI, refere que as duas formas de amor estão interrelacionadas, o amor começa por ser "eros", isto é, caracterizar-se-ia pelo amor ascendente, ambicioso e possessivo, depois passa a ser amor "agape", colocando a tónica no outro, mais preocupado em dar: "Embora o eros seja inicialmente sobretudo ambicioso, ascendente — fascinação pela grande promessa de felicidade — depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará «existir para» o outro." Se o amor é somente "eros" acabará por decair, mas também não pode ser somente "agape", pois o homem além de dar também precisa de receber.
Na Bíblia, é no Cântico dos Cânticos, que através de metáforas eróticas, é demonstrada a relação entre Deus e os israelitas. Deus ama pessoalmente cada um: “O eros de Deus pelo homem (…) é ao mesmo tempo totalmente ágape”.

5 comentários:

Anónimo disse...

isto faz.me lembrar o filme Magnolia...

interessante demais para o insignificante homem que somos todos. o que é o amor sabendo nós que é algo que nos transcende?

m_m

Anónimo disse...

Gostei muito.

Anónimo disse...

A enciclica vem mesmo no tempo oportuno (kairós). Numa época em que impera a discórdia (sobretudo religiosa) e o egoísmo,o Papa fala-nos de amor. Mais uma vez a Igreja mostra que Jesus é luz das nações.

Anónimo disse...

CHEGA DE CATÓLICOS DE MINI-MERCADO

E continua a saga das interpretações pseudo-divinas das sagradas escrituras feitas por quem de "direito". A Santa escolástica, aquela que possui só para si, a verdadeira sapiência no que toca à palavra de Deus ! Chega ! Como diria Lutero , a religião não é ensino é revelação !
E este tema é cada vez mais actual, pois como vimos novamente, o ocidente agride de forma bárbara o mundo muçulmano com um total desrespeito
pela a sua religião, a qual continua a ser a sua bússola.
A Religião é orientação.
E ao fim de dar umas quantas marteladas na bússola destas pessoas é fácil condenar os seus actos desorientados de violência como de inqualificáveis e animalescos. Por amor de DEUS!
Estas agressões são o resultado desta visão académica da religião quer sagrada ou não sagrada.
Ò "senhor" Papa, Ó "senhor" Bispo, Ó "senhor" padre, chega de ensinamentos, chega de interpretações, chega de TACHOS.
Deixem o amor de Deus revelar-se aos corações livres pois não é pela opressão dos mesmos, que Ele se revelará a todos nós !!!

Um abraço deste vosso amigo
Pedro Pinho

Anónimo disse...

O Amor!

A encíclica do Papa Bento XVI, referida aqui, que tem como tema central o AMOR , o amor de Deus e Cristo pelos homens e o amor dos homens a Deus e a Cristo, coloca ênfase neste sentimento construtor mas ao mesmo tempo tão destruidor quando mal usado.
Ao longo de toda a história da humanidade assistimos ao uso do “amor” como arma de incentivo ao ódio, ao rancor, à guerra e à crueldade. Muitos são aqueles que pelo amor a Deus reagem das piores maneiras possíveis, muitos são aqueles que pelo amor a Deus se sacrificam, matando-se milhares, muitos são aqueles que pelo amor a Deus usam das piores “armas de fé” para envagelizar, muitos são aqueles que pelo amor ao seu país partem para a guerra, muitos são aqueles que pelo amor a uma mulher são capazes das piores barbaridades, muitos são aqueles que pelo amor a… a qualquer ser, a qualquer coisa tem capacidade de realizar as melhores e as piores coisas. Pois o amor é também em certa medida um sentimento de posse, e quem possui defende como o achar melhor, independente das regras e normas da sociedade e do mundo.
Mas de uma coisa podemos todos nós acreditar, que o verdadeiro amor, aquele que Cristo proclama aos homens não é o amor de ódio, nem de guerra e muito menos de posse, é o amor de servir, de ser para os outros, de caridade, da paz. É este amor que os homens devem praticar, “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39), “carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6,2).

Abraços aos que amam saber:
Nuno Reis