O wabi – sabi é a característica mais concupiscente e mais distintiva que se pode entender do conceito de beleza na estética japonesa tradicional. Ocupando no papel estético japonês o mesmo que para nós no Ocidente representa as ideias gregas de beleza. Estes dois termos, wabi e sabi, surgem da visão nihilista Zen do Universo onde se apresentam os ritmos da natureza, considerando-se uma apresentação intuitiva da beleza do mundo físico que se reflecte irreversivelmente no mundo espiritual. O termo wabi, ligado aos sentimentos, literalmente significa melancólico, triste, modesto, solitário, desiludido, calmo. Trata-se de um termo relacionado com o espaço e é uma construção filosófica subjectiva. Sabi pode significar velho, sereno, antigo, maduro, estando relacionado com as características que um objecto possui. É um ideal estético relacionado com os eventos temporais, estando ligado aos objectos materiais, à arte e literatura. (objectiva-se).
Durante o séc. X, dinastia Song, o Japão tinha sido invadido pela arte chinesa, profundamente rica nomeadamente no que concerne à arte da porcelana. Um grupo de amadores desta época insatisfeitos com toda aquela invasão deu os primeiros passos no que mais tardiamente viria a ser o que se considera uma simbiose entre homem e natureza, o wabi sabi, vulgarmente divulgado por estas três máximas: nada é perfeito, nada é duradouro, nada é permanente. Tudo é mutável. Esse grupo de amadores literários pretenderam que o seu trabalho, ao contrário da China, se apresentasse como uma arte simples e breve em que existissem amplos espaços vazios (quer na pintura, arquitectura, ou outras artes) de modo a existir espaço para uma libertação mental. O “espaço aberto”, fortemente presente nas pinturas tradicionais, sugere o “infinito” do Universo. A brevidade do wabi sabi prima com a sua intensidade de expressão.
Mais importante que a contextualização histórica desta revolução e o consequentemente surgimento desta estética, é a primazia do respeito na cultura oriental, em particular na japonesa, pela natureza. O taoísmo, a par do budismo, enfatiza no processo de evolução a ligação entre a estética e a religião na qual o homem se apresenta como um fluxo constante e finito de energia. Posteriormente, com o surgimento do Zen, que resumidamente é um ponto de ligação entre o taoísmo e o budismo, a estética japonesa foi profundamente desenvolvida pelos monges Zen e o wabi sabi ficou profundamente ligado à cerimónia do chá e a todas as artes japonesas tradicionais (poesia, caligrafia, pintura, jardins japoneses, jardins zen, bonsai, etc). O traço mais característico de toda a estética é o aprazimento que esta nos dá na contemplação do mais simples objecto advindo daqui um óbvio afastamento do mundo material e de grandes construções: diria que o wabi sabi é a estética do pormenor na ligação entre homem e natureza até o corpo “transmitir” à mente um sentimento de bem-estar em que todos os objectos adquirem um profundo simbolismo. Sen no Rikyu, considerado o grande impulsionador da estética japonesa, apresenta a cerimónia do chá como uma ligação a sentimentos puros e simples: o ambiente deve ser rústico, os objectos devem apresentar sinais do tempo (patina, brilho, textura, rachadelas, …) e as cores dos objectos e do espaço devem ser agradáveis à vista (geralmente beges e negros; cores opacas). O momento da cerimónia é o culminar da simbiose entre homem e natureza: a casa de chá deve estar envolta por um jardim e a altura em que a cerimónia se realiza deve coincidir com o rebentamento primaveril das flores das cerejeiras (árvore com diversas conotações na cultura japonesa) ou com a queda das folhas no Outono. Na parede da casa de chá é habitualmente colocado um quadro rectangular com um poema: inversamente proposicional ao tamanho do poema é a sua complexidade – os poemas na cultura oriental, dentro da corrente wabi sabi, não apresentam mais que quatro versos. (A título de exemplo: “A última folha caiu e a árvore dormirá / E eu sonharei… / A Primavera é amanhã)
Poder-se-á afirmar que esta noção estética japonesa é primariamente desenvolvida no domínio privado e denota uma visão intuitiva da realidade e muitas vezes ambígua. A romantização da natureza e a adaptação do homem à natureza como orgânico que é, denotando a passagem da vida: “para cada ser existe uma estação…”
De modo a criar estes ambientes ricos utilizam-se materialmente elementos orgânicos como a madeira, o ferro, o papel, o barro (cerâmica), etc.
Em conclusão podemos afirmar que a estética entendida sobre este prisma em que não existe uma distinção nítida entre arte e ofício pode ser uma forma de constante aprazimento pela realidade que nunca conseguimos controlar. O nosso bem-estar, físico e mental, provém do aceitar destes ritmos da vida que nos transformam irremediavelmente, não tentando contrariar esta transformação mas aceitando-a e contemplando-a nos pequenos pormenores: do mesmo modo que a natureza se transforma também o homem, ao longo da sua vida, vai-se igualmente mutando.
Metafisicamente a estética ligada ao wabi – sabi sugere o mundo como um universo em constante movimento no qual residem os acontecimentos cíclicos do futuro em potência.
Durante o séc. X, dinastia Song, o Japão tinha sido invadido pela arte chinesa, profundamente rica nomeadamente no que concerne à arte da porcelana. Um grupo de amadores desta época insatisfeitos com toda aquela invasão deu os primeiros passos no que mais tardiamente viria a ser o que se considera uma simbiose entre homem e natureza, o wabi sabi, vulgarmente divulgado por estas três máximas: nada é perfeito, nada é duradouro, nada é permanente. Tudo é mutável. Esse grupo de amadores literários pretenderam que o seu trabalho, ao contrário da China, se apresentasse como uma arte simples e breve em que existissem amplos espaços vazios (quer na pintura, arquitectura, ou outras artes) de modo a existir espaço para uma libertação mental. O “espaço aberto”, fortemente presente nas pinturas tradicionais, sugere o “infinito” do Universo. A brevidade do wabi sabi prima com a sua intensidade de expressão.
Mais importante que a contextualização histórica desta revolução e o consequentemente surgimento desta estética, é a primazia do respeito na cultura oriental, em particular na japonesa, pela natureza. O taoísmo, a par do budismo, enfatiza no processo de evolução a ligação entre a estética e a religião na qual o homem se apresenta como um fluxo constante e finito de energia. Posteriormente, com o surgimento do Zen, que resumidamente é um ponto de ligação entre o taoísmo e o budismo, a estética japonesa foi profundamente desenvolvida pelos monges Zen e o wabi sabi ficou profundamente ligado à cerimónia do chá e a todas as artes japonesas tradicionais (poesia, caligrafia, pintura, jardins japoneses, jardins zen, bonsai, etc). O traço mais característico de toda a estética é o aprazimento que esta nos dá na contemplação do mais simples objecto advindo daqui um óbvio afastamento do mundo material e de grandes construções: diria que o wabi sabi é a estética do pormenor na ligação entre homem e natureza até o corpo “transmitir” à mente um sentimento de bem-estar em que todos os objectos adquirem um profundo simbolismo. Sen no Rikyu, considerado o grande impulsionador da estética japonesa, apresenta a cerimónia do chá como uma ligação a sentimentos puros e simples: o ambiente deve ser rústico, os objectos devem apresentar sinais do tempo (patina, brilho, textura, rachadelas, …) e as cores dos objectos e do espaço devem ser agradáveis à vista (geralmente beges e negros; cores opacas). O momento da cerimónia é o culminar da simbiose entre homem e natureza: a casa de chá deve estar envolta por um jardim e a altura em que a cerimónia se realiza deve coincidir com o rebentamento primaveril das flores das cerejeiras (árvore com diversas conotações na cultura japonesa) ou com a queda das folhas no Outono. Na parede da casa de chá é habitualmente colocado um quadro rectangular com um poema: inversamente proposicional ao tamanho do poema é a sua complexidade – os poemas na cultura oriental, dentro da corrente wabi sabi, não apresentam mais que quatro versos. (A título de exemplo: “A última folha caiu e a árvore dormirá / E eu sonharei… / A Primavera é amanhã)
Poder-se-á afirmar que esta noção estética japonesa é primariamente desenvolvida no domínio privado e denota uma visão intuitiva da realidade e muitas vezes ambígua. A romantização da natureza e a adaptação do homem à natureza como orgânico que é, denotando a passagem da vida: “para cada ser existe uma estação…”
De modo a criar estes ambientes ricos utilizam-se materialmente elementos orgânicos como a madeira, o ferro, o papel, o barro (cerâmica), etc.
Em conclusão podemos afirmar que a estética entendida sobre este prisma em que não existe uma distinção nítida entre arte e ofício pode ser uma forma de constante aprazimento pela realidade que nunca conseguimos controlar. O nosso bem-estar, físico e mental, provém do aceitar destes ritmos da vida que nos transformam irremediavelmente, não tentando contrariar esta transformação mas aceitando-a e contemplando-a nos pequenos pormenores: do mesmo modo que a natureza se transforma também o homem, ao longo da sua vida, vai-se igualmente mutando.
Metafisicamente a estética ligada ao wabi – sabi sugere o mundo como um universo em constante movimento no qual residem os acontecimentos cíclicos do futuro em potência.
Márcio Meruje, aluno finalista da Licenciatura de Filosofia da U.B.I. Trabalho realizado para a disciplina de -Estética.
Blog do Autor aqui
1 comentário:
Muito bem Marcio...
A U.Minho tem algo que te pode interessar. passa por lá (site)
Fica bem. e boas investigações zen
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