"São muitas, mas invariavelmente distorcidas, as visões que se costuma ter de uma biblioteca. Ora é lugar sagrado, onde se guardam objectos também sagrados, para desfrute de alguns eleitos. Ora, sob uma outra óptica é apenas uma instituição burocratizada, que serve para consulta e pesquisa, assim como para armazenar bolor e traças. Para muitos poucos, aqueles que a frequentam assiduamente, ela constitui o local de encontro com o prazer de ler, conhecer e informar-se."
Como frequentador assíduo da Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior, constato que por melhores condições físicas que este espaço tenha, por melhor serviço que todos os Órgãos Dirigentes desta Biblioteca prestem ao público que a frequenta , é condição necessária a existência de silêncio para que se seja possível valorizar todos os pontos que referi inicialmente.
O espaço precisa eminentemente de uma reformulação e, ao longo dos quase quatro anos que usufrui deste espaço, constato que o ambiente é cada vez mais decadente : joga-se computador, ouve-se música, existe uma eminente confusão entre fazer trabalhos de grupo e estudar. Igualmente confuso é a utilização de um computador como ferramenta de ócio - pois à partida jogar e consultar o famoso Hi5 não consta no plano curricular de qualquer unidade curricular - e a utilização do mesmo espaço para a tentativa - impossibilitada pelo barulho - para descoberta da rica informação que tantos livros têm para nos oferecer. Acrescento que por vezes o bar está mais silencioso que a própria biblioteca.
As críticas construtivas, que surgem inevitavelmente como sugestão de reformulação do espaço, direccionam-se em duas matrizes . Em primeiro os computadores deveriam estar isolados do espaço para leitura, e estudo. Em segundo, fruto de uma estrutura arquitectónica que pouco convida ao silêncio (devido à grande amplitude do espaço) toda biblioteca deveria ser re-distribuída de modo a serem criados espaços onde o barulho não ecoasse pelos dois pisos (é facilmente constatável empiricamente o incómodo barulho provocado por alguém que circula nas escadas de acesso ao piso - 1 . Esse barulho é quase provocatório de um salutar estudo quando no mesmo momento circulam mais de duas pessoas nessas escadas e, p.ex, uma delas utiliza, diga-se, "calçado mais pesado e com menos apoio no calcanhar".
Se a UBI tem por fins, tal qual consta nos Estatutos desta entidade, "a formação humana, cultural, cientifica e técnica", é necessário desencadear essa formação numa cultura do silêncio para que seja possível usufruirmos dos espaços a que temos direito. Neste caso concreto, usufruirmos de um espaço de silêncio onde seja possível dar vida aos livros.
Certo de uma reflexão e eventual melhoria das condições disponho-me desde já para iniciarmos, todos juntos, esta cultura do silêncio.
Márcio Meruje, aluno de mestrado da Universidade da Beira Interior