quinta-feira, 26 de março de 2009

Homem, animal e monstro

O telejornal está para os homens, assim como a National Geographic está para os restantes animais. O repórter limita-se a escolher a sua "presa" consoante as necessidades, enfim, - os "fetiches" do seu público -, recolher os dados respectivos ao seu comportamento, - ao comportamento da "presa" – e, após, consoante os dados que recolhera, sintetizá-los, para que o impacto da sua pesquisa suscite a máxima reacção no público-alvo.
Se de um lado, temos chitas a perseguirem gazelas, ou leões a correrem bravamente atrás de zebras, do outro lado, as perseguições de carros – muito em voga nos Estados Unidos -, satisfazem os que, possuindo uma costela mais radical, carecem de grandes doses de adrenalina para combaterem as suas crises emocionais. Se de um lado, temos abelhas zângãos que servem somente para que a colmeia subsista pela fecundação da rainha, e depois do acto consumado, logo tornam-se perfeitamente prescindíveis. Temos também as abelhas operárias, que fecham as "portas" das suas colmeias aos machos, assim que, a época de recolha do mel cesse e seja necessário proceder a uma racionalização dos alimentos. Enfim, tal como acontece nas sociedades capitalistas, fecunda-se até à esquizofrenia essa musa chamado “mercado”, até que ela não resista mais e só subsistam os operários, que neste caso são os homens que souberam operar devidamente nessa situação, cooperando ajuizadamente com a hipocrisia, a ganância, e a exploração até ao limite pornográfico, - as chamadas, "leis do mercado".
Se tanto nos relatos da realidade humana (no Telejornal) como nos relatos da realidade não-humana/animal (no National Geographic), conseguimos - e são prova disso as analogias em cima esboçadas - antever um certo padrão, uma certa base (primária) comportamental nas duas realidades; já num nível secundário, a compreensão do homem escapa a este exercício meramente reducionista de pendor quase que Darwiniano, e escapa precisamente, porque impossibilita, num outro grau, qualquer analogia com recentes casos como o de Josef Fritzl, que tendo a opinião pública certa relutância em chamar, caso humano, também não consegue encontrar semelhanças no caso animal, e dai resultar o predicado: Monstro. Predicado este, aquém dos limites daquilo que consideramos, ao nivel básico, os limites, - neste caso, éticos - do ser humano e, além dos seus limites, porque é com estes casos que adquirimos uma nova consciência daquilo que não sendo efectivamente parte integrante do ser humano - ou melhor, daquilo que julgávamos não ser parte integrante do ser humano - mas que pode ainda, a vir a ser, a construir-se, a constatar-se.

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