Logo na primeira cena do filme ressalta a figura dos quatro – Karin, Martin, David e Minus – vindos do mar, como se tivessem realmente brotado dali e, de repente, no intuito de resolver todas as suas contendas (espirituais e não espirituais) se tivessem fixado naquela ilha – uma das incontáveis ilhas da Suécia – onde o mar e o céu de tão cinzentos quase que se confundem.
Em Busca da Verdade, é um filme intenso, onde todas as personagens desempenham um certo papel trágico. E se tudo roda em torno da loucura de Karin (Harriet Andersson), ela é ainda uma espécie de “bode expiatório”, que justifica o recolocar de certas questões, - retraídas propositadamente, ao simplesmente nunca colocadas. A loucura de Karin é representada neste filme, como sendo uma espécie de "excesso de vivência", que ainda que, não exploradas pelo resto da familia (pelos "não-loucos"), permanecem-lhe incrustadas no seu ser, prontas a serem exploradas, despoletadas no momento certo - no momento de conflito. A angústia desta personagem, é tão real como a de David (o seu pai) ou de Minus (o seu irmão), a questão é, que Karin, não consegue conter-se das suas dúvidas de forma a evitar ser também, como que, “engolida” por essas mesmas incertezas. Karin diz viver entre duas realidades, é lhe urgente escolher - para salvar a sua própria sanidade - em qual quer habitar: a realidade terrena, a cuidado do seu marido Martin, o dito “homem simples”, a quem o sentido da existência não merece resposta, porque já lhe aparece como dada; ou a realidade para-além, a realidade das palavras não ditas, da cara não vista, do corpo não palpável.
O grande problema está em Deus, é Ele quem dá corpo a esse para-além. Resolver a contenda com Deus, é a solução para “desambiguar” a existência; na corda bamba, entre a realidade sensível, tocável, familiar (logicamente finita) e a realidade transcendente, intangível, misteriosa, - aclamando por nós, sob o pretexto da eternidade.
A última deixa de Minus ("O papá falou comigo!...") transparece como a chaves do dilema e, enfim, de todo o dilema que o filme sustenta. É preciso esquecer Deus, para enaltece-lo a cada instante, na prática do amor que une, sob forças misteriosas e formas incompreensíveis. É preciso comunicar, quebrar o silêncio de Deus, tomar-lhe a palavra.
Torna-se necessário fechar as trancas à loucura (esquecer Karin), e esquecer também, esse enorme Deus invisível, "magro e feio", falso Deus de pau, de braços abertos sobre os altares de cada capela. A grande mensagem e esforço, do realizador de Em Busca da Verdade, é de trazer o “céu à terra”, da única maneira possível: pela prática do amor; da renúncia a Deus como transcendência e do restabelecimento da "paz" existencial pela resignação à finitude e limitação do homem.