segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fiodor Dostoiévski, Noites Brancas (romance sentimental das memórias de um sonhador)

 Linha Geral: Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, um nome retumbante, o proeminente mestre russo da escrita. Noites Brancas (1848) é uma chave mestra do romantismo. De um mundo onírico a um mundo real, da tragicidade do destino e a decadência de um vivo. Desde estas trevas à luz de um orvalho, da noite à manhã, em dias. Onde começa e acaba o prazer de viver?

 O título em questão: Noites Brancas deve-se ao facto de que nas zonas do globo a partir de 60 graus de latitude Sul ou Norte durante a estação do Verão o dia ser constante mesmo durante o horário noturno, como se a noite tivesse sido banida durante 11 de Junho e 2 de Julho em Petersburgo antiga capital da Rússia entre 1713 – 1728 e 1732 – 1918. Além disso, devemos realçar que a noite é o momento do sonho, da toca, do refúgio… Em direto contraste com o dia que significa a luz, a razão e de uma forma mais simples a vida e dos prazeres que esta nos pode oferecer, como o sentir de emoções ou singelamente sentir não só isso mas o de sermos afetos pelas sensações. Sendo assim, é a partir da união que é feita pelo título que podemos sugerir a seguinte epigrafe: «O sonho comanda a vida», pois nós também nos refugiamos nas nossas mundanidades, mas neste caso o herói procura refugiar-se na relação de amizade que tem Nástenka, indo lentamente vivendo as sensações mundanas e abandonando o mundo dos sonhos.
 É nesse mundo do fantástico que o sonhador procura refugir-se da sociedade, da sua vulgaridade, mas que tragicamente se culpa por viver nesse mundo frio e solitário. Sendo esta antítese visível em dois momentos da obra: em que num primeiro momento de crítica social temos a descrição do estilo de vida da sociedade de Petersburgo, em que durante o período de Verão a classe mais abastada vai viver para as suas casas de campo; num segundo momento, damos com o episódio do desejo de saída do mundo onírico em que confessa a Nástenka – que, por seu turno, na sua história de vida demonstra partilhar com herói o veio do sentimentalismo e do sonhadorismo no entanto com um princípio mais concreto que é o de casar, e que é expresso quando esta abandona a avó para ir viver com o amado que a abandona por não poder assumir qualquer compromisso, mas que o torna a rever praticamente no penúltimo capítulo – que, devido ao seu misantropismo, nunca conheceu ninguém e de que chegava a comemorar os aniversários das suas sensações e das coisas que nunca chegaram a acontecer, mas que não passavam de sonhos que o aprisionavam da realidade, da qual recorda os momentos e lugares em que foi feliz.
 É neste convívio com esta mulher que o herói começa a redescobrir o prazer de viver, do carpe diem translúcido no último capítulo a “manhã” que se ergue sobre uma única questão e que é a seguinte: Um minuto de felicidade não valerá toda a vida de um homem?

 Fernando de Almeida

Sem comentários: