quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O equivoco do fim da história.


E se o estranho e atabalhoado anúncio do fim da história não pretendesse significar, literalmente, o fim da história. Antes sim, sintetizasse uma recusa categórica às retóricas messiânicas de inauguração de um novo começo, de uma nova história que emergiria à revelia da tradição e das estruturas vigentes. Enfim, e se o anúncio do fim da história nada mais ousasse que não ditar o fim dessa espécie de utopia – de herança cartesiana - da “revolução permanente”, que lança as suas raízes numa subjectividade que se crê de pensamento e vontade ilimitadas, que é exclusivista, que se julga dona e senhora do seu redor. Se assim entendêssemos o fim da história perceberíamos que os fins não justificam os meios, que a projecção arbitrária do futuro não justifica a condenação brutal do presente; que as revoluções, a partir de agora, devem ser “silenciosas”, que só os meios justificam os fins, que são estes que autenticamente forjam a história, lhe dão sentido, e não o inverso. Urge portanto trabalhar e aprofundar os meios que produzem futuros, "trabalhar a esperança", democratizar a democracia, aprofundar sucessivamente a esfera pública, capacitar os indivíduos politicamente incapacitados, abrir (não fechar) a racionalidade discursiva que compromete as vontades particulares.

O retorno ao futuro não está no regresso a um suposto imaculado começo antes do “pecado original”, mas no amadurecer perene da nossa capacidade colectiva de autodeterminação.    

David Santos.

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