E se o estranho e atabalhoado
anúncio do fim da história não pretendesse significar, literalmente, o fim da
história. Antes sim, sintetizasse uma recusa categórica às retóricas
messiânicas de inauguração de um novo começo, de uma nova história que emergiria
à revelia da tradição e das estruturas vigentes. Enfim, e se o anúncio do fim
da história nada mais ousasse que não ditar o fim dessa espécie de utopia – de herança
cartesiana - da “revolução permanente”, que lança as suas raízes numa
subjectividade que se crê de pensamento e vontade ilimitadas, que é
exclusivista, que se julga dona e senhora do seu redor. Se assim entendêssemos o
fim da história perceberíamos que os fins não justificam os meios, que a
projecção arbitrária do futuro não justifica a condenação brutal do presente;
que as revoluções, a partir de agora, devem ser “silenciosas”, que só os meios
justificam os fins, que são estes que autenticamente forjam a história, lhe dão
sentido, e não o inverso. Urge portanto trabalhar e aprofundar os meios que produzem
futuros, "trabalhar a esperança", democratizar a democracia, aprofundar sucessivamente a esfera pública,
capacitar os indivíduos politicamente incapacitados, abrir (não fechar) a
racionalidade discursiva que compromete as vontades particulares.
O retorno ao futuro não está no
regresso a um suposto imaculado começo antes do “pecado original”, mas no amadurecer
perene da nossa capacidade colectiva de autodeterminação.
David Santos.
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