Na sessão anterior,
abordámos a temática da lógica enquanto uma ciência que racionaliza tanto
quanto à forma como à matéria, e que faz uso de leis necessárias do pensar para
as aplicar aos objectos em geral e avaliar a razão geral. São exactamente essas
leis necessárias e, por isso, a priori,
que vão ser pertinentes para o tema que vamos tratar a seguir, que é: o
conhecimento geral.
O nosso conhecimento
geral possui duas referências: a primeira delas é o objeto, a segunda é o
próprio sujeito que conhece pois tem consciência, condição sine qua non de todo o conhecimento em geral, da representação do
objeto. Contudo, para existir este conhecimento tem que existir uma distinção
entre a matéria e a forma. A matéria refere--se ao objeto. Ainda dentro da
temática do conhecimento do objecto, destacam-se a intuição - o avistar do
objeto, sem saber ainda qual a sua finalidade - e o conceito - em que o sujeito
já é conhecedor da finalidade do dito objeto. Deduzindo daqui, podemos observar
que as intuições têm a sua origem na sensibilidade, já os conceitos têm a sua
origem no entendimento; sendo a primeira faculdade da ordem da recetividade, ou
faculdade inferior, enquanto a segunda pertence à faculdade da espontaneidade,
ou faculdade superior. É desta dissonância de faculdades de conhecimentos que
se vão reflectir, respectivamente, na perfeição estética e na perfeição lógica.
A perfeição estética diz respeito à coerência do conhecimento e o próprio
sujeito, cuja fonte é a própria sensibilidade; não se pode, portanto, validar
de forma universal e objetiva as leis de um conhecimento elaborado a posteriori. Já na perfeição lógica,
temos um acordo entre o objeto e o conhecimento do qual se podem formar leis
universais e que podem ser avaliadas mediante leis estabelecidas a priori.
Passando para os
limites do nosso conhecimento, é impossível conhecer todas as coisas, daí a
necessidade de se ter um limite. E como é que o podemos determinar? Segundo
Kant a diversidade e profundidade de todo o conhecimento dependem dos
interesses e capacidades do sujeito que o pretende adquirir. Abordando este
assunto de uma forma mais concreta, o horizonte de conhecimento pode ser
determinado de três formas: 1.ª) Logicamente: faculdades cognitivas em relação
ao interesse do entendimento. Saber o limiar dos nossos conhecimentos e em que medida
é que estes nos podem ser úteis; 2.ª) Esteticamente: segundo o gosto, de acordo
com o interesse do sentimento, e aquele que tem a estética como horizonte tenta
instaurar uma ciência em acordo com o gosto do público ou a aquisição de
conhecimentos que podem ser transmitidos a todos, por outras palavras,
transformando a estética numa ciência popular; e para finalizar, 3.ª) Praticamente:
aqui o horizonte é delimitado pelo interesse da vontade e utilidade de certos
conhecimentos na sua vertente pragmática, como o conhecimento de valores morais
ou mesmo valores éticos.
Resumindo, o horizonte de conhecimento diz
respeito àquilo que o Homem pode, deve e lhe é permitido saber.
Fernando de Almeida
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