sábado, 21 de abril de 2012

Discriminação entre bons e maus alunos, será justo?

Linha Geral: O artigo aqui apresentado aborda a notícia divulgada pelo Diário de Notícias sobre o novo regulamento educativo e consequente permissividade da discriminação entre bons e maus alunos. Em fruto da notícia, colocamos uma única questão: A discriminação já não existe, tanto positiva como negativa, sendo esta última mais discreta? É a esta pertinente questão que visamos dar resposta no artigo que se segue:

Este artigo é baseado na notícia divulgada no dia 13 de Abril pelo Diário de Notícias, que expõe que Nuno Crato permite às escolas discriminar entre bons e maus alunos, e que está estabelecido pelo novo regulamento de matrículas para alunos do 5º ao 12º ano de escolaridade possibilitando às escolas elaborar turmas com apenas bons alunos e turmas compostas exclusivamente por maus alunos, fora ainda o aumento do número máximo de 30 alunos por turma o que torna o acompanhamento dos alunos uma tarefa ainda mais árdua.
A distinção entre bons e maus alunos gera dois contrapontos, um positivo e um negativo. No primeiro ponto, podemos abordar estas turmas de maus alunos como uma forma de tentar abordar e de tentar resolver as dificuldades destes alunos e dessa forma possibilitar que esses alunos tenham um rendimento semelhante ao de uma turma de bons alunos, possibilitando a transição de alunos de um extremo qualitativo para outro. Contudo, esta distinção já é feita pelas aulas de apoio que visam especialmente os alunos com baixo rendimento escolar, dando-lhes acompanhamento fora do horário escolar com o intuito de colmatar dificuldades nas diversas disciplinas. A acrescentar, temos os gabinetes de apoio: como o gabinete de psicologia «porque o mau comportamento e o baixo rendimento também podem ter no seu cerne problemas psicopatológicos» e, em algumas escolas, o gabinete de apoio ao aluno e à família que aposta exatamente no auxílio dos alunos no sentido de procurar identificar quais são os seus problemas e de os tentar solucionar, estabelecendo dialogo com a família dos alunos visados.
Já no caso da discriminação negativa, essa existe de forma mais ou menos discreta. O que sai reforçado no aumento do número máximo de alunos, pois o docente não consegue acompanhar de forma apropriada os alunos com mais dificuldades e até mesmo o próprio progresso dos alunos, por essa razão o professor vê-se forçado a centrar-se apenas num dado extremo de alunos, optando normalmente pelos melhores alunos. O que é visível no tratamento que o professor dá aos alunos, cujo fundo são as expectativas que nutre pelo aluno, desculpando aqueles pelos quais tem uma alta expectativa em sentido inverso  dos alunos pelos quais alimenta uma baixa expectativa, este tipo de fenómeno data por efeito pigmaleão. Outra forma de discriminação ainda mais discreta, são os próprios resultados escolares, que segundo Debut (2008; referido por Miguel Santos, 2010), reproduzem o fosso social em que os mais favorecidos têm um melhor desempenho em contraste com os mais pobres, uma vez que estes vivem com meios mais escassos e em consideração a isso estão mais preocupados em satisfazer as suas necessidades do que propriamente com a escola. Por outro lado, são os resultados dos alunos em conjunto com o seu comportamento que dá alento ao aparecimento estigmas, porque normalmente os alunos com mau comportamento e rendimento na escola tendem a ser associados a meios mais pobres e sem quaisquer objetivos na vida.
Claro que a escola, devido aos apoios sociais que oferece, afirma a equidade de oportunidade e através disso a meritocracia, que no fundo não é mais do que legitimar o declive social, como já explicado anteriormente. É esta ideologia elitista que está por detrás de uma educação que cada vez é menos acessível não só na sua estrutura como nos seus custos, o que poderá por em cheque o nível de educação e de equidade económica das próximas gerações.
Será este novo regulamento uma forma de destruição da escola pública? Quem é que beneficia com estas medidas? Deverá a escola pública tornar-se numa escola de elites? Qual o sentido deste novo regulamento?

Fernando de Almeida   

Bibliografia 
Santos, Miguel Ângelo Nascimento dos (2010), O Impacto do Bullying na Escola, Tese de Bacharel, Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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