segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os assassinos entre nós, Simon Wiesenthal (II)

Linha Geral: A segunda parte de um texto bem recheado, com considerações sobre a obra Os Assassinos Entre Nós, de Simon Wiesenthal. Qual a visão sobre a eutanásia? Das vidas que não o merecem ser. As questões finais, que pairam, acerca do direito à vida e à "mentira" de Auschewitz, convidam o leitor a indagar-se na profundidade do seu ser. 

Outro ponto forte do livro é a eutanásia que visava fundamentalmente os velhos, os atrasados mentais e os doentes incuráveis alemães. A operação dava pelo nome de Vernichetung lebensunwerten Lebens (destruição-de-vidas-que-não-merecem-viver), cujos eixos de execução desta máquina eram: Hadamar, Somenstein, Castelo de Hartheim e Castelo Grafenegg; mais tarde a operação estendeu-se aos diversos campos de concentração espalhados pela Alemanha e pela Áustria sob o código 14f13 agindo sobre os doentes inválidos dos campos de concentração. Como tarefa, os médicos observavam as fotografias e as fichas dos doentes designados por «comedores inúteis em potência», para se decidirem quais é que deveriam matar. A designação de «comedores inúteis» surgiu da teoria nazi de que aqueles que consumiam bens valiosos e nada produziam deveriam morrer, sendo a eutanásia uma opção quase ética e inicialmente reservada aos alemães.
A título de curiosidade, existe um pós-escrito no final do livro que relata um passeio numa aldeia próxima do campo de concentração de Lwow, numa tarde de Setembro de 1944, entre o S.S. Rottenführer Merz e Wiesenthal. Neste passeio Merz questiona Wiesenthal sobre o que diria se chegasse à América e lhe perguntassem acerca daquilo que viu nos campos de concentração, ao que Wiesenthal responde que diria a verdade. Perante esta resposta, Merz confidencia que, mediante os episódios que diariamente o circundam, acorda muitas vezes a questionar-se se aquilo que experienciou nos campos de concentração é realidade ou é um sonho. Merz adverte a Wiesenthal que se comunicasse aquilo que se sucedia nos campos de concentração, ninguém lhe daria crédito pela história horrível que contara, e provavelmente interná-lo-iam num manicómio.
Desta vez resolvemos deixar algumas questões em aberto, baseadas nesta obra, para serem discutidas e, assim o espero, comentadas pelo leitor, e essas questões são: A) Deverá a engenharia genética utilizar seres humanos para o seu “progresso”? B) Com que poderes e motivos é que podemos decidir sobre a vida do outro e, consequentemente, pôr-lhe um fim? C) Poderá alguém ser acusado de genocídio, quando apenas estava a cumprir ordens superiores e cuja vida dependia do cumprimento dessas mesmas ordens? D) Porque é que uma verdade tão horrível, como aquilo que se passava em Auschewitz, pode ser considerada uma mentira?


Fernando de Almeida

1 comentário:

rapsodo disse...

Quanto a questão A precisamos pensar radicalmente sobre essa noção de progresso. O que é progresso e para quem ou em nome de que se designa essa palavra? Antes de mais nada é importante salientar e trazermos a tona que progresso é um conceito construído a partir de uma ordem que advém mais de uma ciência natural do que de uma ciência humana. Portanto rever este conceito a luz das ciências humanas e sociais talvez no ajudem a posicionar quanto a isto que se pede. Quanto a questão B pode-se perceber que há uma necessidade de um aprofundamento quanto ao que se designa por poder. O poder, a partir de uma propriedade designa e estabelece o sujeito - este que se apropria de um objeto porém, enquanto uma ideia, pode designar não mais sujeitos, mas objetos de algo abstrato que paira como sentido e sujeito em uma ação em que nos transformamos em objetos a partir dela. Portanto cabe nos perguntarmos que noção de poder aplicamos quanto a estas questões, poder em que somos objetos ou poder enquanto somos sujeitos? Quanto a questão C, creio ter respondido ou dado uma direção a partir da resposta B. Quanto a questão C, o que nos cabe quanto a verdade ou mentira talvez seja a partir das tres definições de verdade que a filosofia sugere, ou seja, enquanto fenômeno que aparece e manifesta-se e condiz com uma ação presente; enquanto véritas, a partir de um relato e portanto de um acontecido narrado e documentado e que aponta para um passado enquanto acontecimento e finalmente Emunah, algo que se relaciona a um porvir que ainda não aconteceu porem que está por acontecer e portanto futuro. Talvez e muito provavelmente essa questão da verdade e sua possibilidade como contrário de si própria , refira-se a partir dos acontecimentos não como algo localizado em um tempo mas a partir de seu núcleo que o faz ser o que é, ou seja, seu sentido que se adequa com a realidade a partir de uma identidade ou a partir de uma contradição.