quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Há ética na pirataria online.

Em contexto de “pirataria” a internet é uma ferramenta tecnológica que dá acesso a uma base de dados de conteúdos variados. Legalmente, pondera-se restringir o acesso a todos os dados que não estejam em conformidade com os direitos de autor. Ora, todo aquele que constrói conteúdos ou matéria criativa, necessita de um retorno financeiro para continuar a produzir. Esta seria a ideia lógica do artista, do produtor, enfim, do criativo. Já lá vai o tempo em que o artista morria pobre e sem qualquer tipo de reconhecimento. Nesta nova era, o criativo ganha novos contornos mediáticos, isto porque, a arquitectura em rede possibilita a propagação de conteúdos em tempo real.
Não obstante, a rapidez com que o criativo ganha reconhecimento é proporcional à perda do mesmo. É necessária uma máquina publicitária muito poderosa para conseguir rentabilizar ao máximo o poder criativo, para que, deste modo, durante o mediatismo existam ganhos relativos. Todas as produtoras de conteúdos sabem que o consumidor é bastante exigente e, que o tempo de avaliação é agora mais reduzido, isto é, a crítica é feroz e tal como qualquer conteúdo em rede, ela propaga-se - tornando-se viral. As indústrias precisam de pessoas que comprem no escuro. Ter acesso a um filme muito antes da estreia, ou acesso ao novo álbum dos Kings of Leon de forma gratuita prejudica única e exclusivamente a industria que até agora vendia um produto onde não havia direito a devolução.
Para quê pagar por um mau serviço? Quando pagamos 6 euros para ir ao cinema e não gostamos do filme, pela má qualidade, a quem me queixo? Quantos de nós já viram trailers melhores que o próprio filme? O mesmo argumento se aplica a uma enorme extensão de artes criativas. O que está em causa é a qualidade pelo serviço prestado.
Não está em causa o fascínio de ir ao cinema ou da leitura de um livro que acaba por ser melhor ou pior que o esperado. As leis de mercado mudaram. Se antes haviam críticos que guiavam/manipulavam os ideais e nos apresentavam o melhor ou o pior, agora somos todos críticos e todos temos algo a dizer acerca daquilo que queremos consumir, isto porque, tal como os críticos, todos temos acesso em primeira mão à obra de arte.
O que defendo, e parece contrário ao que foi supra referido, é que os criativos/criadores, ao contrário do que se diz, só têm a ganhar com a massificação do seu trabalho. Os projectos de lei dos E.U.A (Sopa) e na U.E (Acta) têm um lado perverso, porque protegem as pessoas erradas, ou seja, as industrias que até agora enganavam as pessoas com produtos de marketing abusivos que põem em causa a inteligência de muita gente.
Se ficamos chocados com a mansão de Kim Dotcom (dono do megaupload) porque não havemos de ficar chocados com as mansões de produtores, agentes e supostamente artistas? Ninguém processou empresas de fotocopiadoras só porque foram responsáveis pela tecnologia que permitiu a cópia de conteúdos.
É eticamente correcto fazer todo o tipo de download, seja de livros académicos ou de filmes do século passado. Se este argumento for o responsável pelo encerramento de estúdios e produtoras de conhecimento / conteúdos também não perdemos nada, aliás, a verdadeira cultura só sai a ganhar e por conseguinte as pessoas também, dado que, a qualidade só aumenta exponencialmente.


Guilherme L. Leitão Castanheira

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem! Diga-me, Guilherme, você deve passar a vida a piratear hein?

Claro texto!

Continuação.

Anónimo disse...

interessante.
A ideia de comprarmos um filme ou um livro da mesma maneira que compramos um ovo kinder deve acabar.
claro qe percebo o ponto de vista do autor. o que está em causa é a limitação tecnologica e não só os direitos de autor. os direitos de autor são um mote para o control da privacidade.
gostei
Joana Leal

Anónimo disse...

Nem mais nem menos, deveremos ter acesso ao que for. Que lei nos afasta disso? Nenhuma direi eu e com certeza muitos que andam por aí iludidos de que não se deveria fazer tais downloads e que deveriamos comprar e entrar no joguinho de enriquecê-los.Além disso para que serve a net?
Gostei muito do teu artigo.Parabéns!
Catarina Fernandes