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Contraproducentemente o que eu quero ser é professor. E sempre que me perguntam o que quero fazer com o "canudo" de filosofia na mão, eu respondo então, com aparente seriedade, que quero ser professor. Levar uma vida mais ou menos tranquila, acartando para cá e para lá dezenas de livros com o orgulho estampado no rosto, uma pose discretamente intelectual, ou, pelo contrário, de típico "cientista maluco".
Eu sei que a vida não está fácil para quem tem na ponta do giz o futuro do país, ou ajustando, na tecla Enter do Magalhães. O "zunzum" constante dos media dão prova disso mesmo, – apesar da crise aparentemente não se estender ao ensino superior (descontando a afagada controvérsia acerca da gestão das universidades).
Mas se de um lado é o barulho democrático e generalizado que intensifica as dificuldades por que passa o sistema educativo português, do outro lado, é o asfixiante silêncio aristocrata que impera acima da pura incompetência e desleixo consciencializado dos seus docentes.
Desde que ingressei na Universidade da Beira Interior, que as probabilidades de poder ver o meu sonho de ser professor tornar-se realidade, triplicaram. Agora, bastava "apenas" ser licenciado (o que com o processo de Bolonha se resumiria a três anos de estudo). Chegava "saber ler" bem, ter conhecimento dos livros no mercado e não gaguejar. Por vezes até, em casos em que não consigo arrumar um adjectivo melhor senão, "insólitos". Bastava chegar ao cúmulo, de abandonar a sala após um quarto de hora de aula, deixando ao critério do aluno a honestidade (ou falta dela) diante de um teste surpresa, já que o professor que devia ter permanecido a vigiar o decorrer da prova (legitimando-a), se ausentou mais cedo para apanhar o comboio.
Meus caros (na formalidade própria de um aristocrata), estou longe de ser um bom aluno, sou até uma pessoa acanhada, feia no sentido mais tóxico do termo, mas acreditem, sei ler, e até com alguma entoação. Para licenciado, pouco tempo me resta. Comboio, não é o meu meio de transporte, mas sim, posso sempre viajar de autocarro. Acartando para cá e para lá dezenas de livros, com o orgulho estampado no rosto...
Sexto-Empirico
Quinta-feira, 30 de Outubro
10:45 – Abertura do Colóquio
11:00-12:30
Luís Umbelino (U. Coimbra), Fenomenologia e ontofenomenologia da profundidade em M. Merleau-Ponty
Carmen López (UNED, Madrid), Merleau-Ponty e o feminismo
12:30-14:00 – Almoço
14:00-16:30
Pedro M.S. Alves (U. Lisboa), Título a anunciar
Olivier Féron (U. Évora), Pregnância simbólica versus antepredicativo: o diálogo entre Merleau-Ponty e Cassirer
Urbano Mestre Sidoncha (UBI), A reabilitação do sensível em Merleau-Ponty
Ana Leonor Morais (UBI), A natureza em Merleau-Ponty (resposta á falácia imaterialista)
17:00 - 19:30
Jorge Croce Rivera (U. Évora), O uso da fenomenologia de Merleau-Ponty na arquitectura de Steven Holl
Gabriela Castro (U. Açores), A dúvida de Cézanne como propedêutica da arte no séc. XXI
José Manuel Martins (U. Évora), Merleau-Ponty e Cronenberg ou filosofia e cinema
Paulo Alexandre Castro (U. Lisboa), Fenomenologia e estética comparativa: antropometrias e invisibilidade do Corpu(s) ou o diálogo ontofenomenológico de Yves Klein e Merleau-Ponty
Sexta-feira, 31 de Outubro
Foi hoje homenageado o ensaísta português Eduardo Lourenço, com a entrega da medalha de Mérito Cultural pelas mãos do actual ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, após ter redigido importantes obras como: Fernando Pessoa, Rei da Nossa Baviera; Pessoa Revisitado; Sentido e Forma na Poesia Neo-Realista; entre outras. Onde transparece o pessoal interesse do pensador português pela poesia, mais propriamente ao que concerne ao universo pessoano. Titulos como, Heterodoxia, - primeiro volume publicado em 1949 -, assinalam igualmente o que é o pensamento deste filósofo, pensamento cujo, se deixa desvelar muito suncitamente até quase se confundir com a natureza intima do seu próprio autor, - como bem observara Vergílio Ferreira -, na seguinte fórmula do filósofo: "...a heterodoxia não é fácil. Serviço divino a poucos cometido, paga-o a moeda que os deuses amam: a amargura e a solidão". Em que se pode observar também, o resultado prático de uma especial atenção do condecorado por autores tão queridos a este. Husserl, Heidegger, Kierkegaard, Nietzche, Sartre, entre outros.
O facto da medalha se apresentar com as finas cores de Portugal parece ter supreendido Eduardo Lourenço, talvez habituado á ingratidão portuguesa pelos seus já poucos filhos geniais. Mas isso tudo, é pura especulação, o que importa agora, é que este acréscimo de notabilidade sobre o autor, venha a despertar a curiosidade de mais meia dúzia de leitores encostados aos grandes tomos alemães, ingleses, entre outros forasteiros, e começem a descobrir o que há de grandíloquo por cá, em português.
A homenagem prossegue na Calouste Gulbenkian onde estarão reunidas várias personalidades da cultura como, José Saramago, António Lobo Antunes, Fernando Pinto do Amaral, Helder Macedo, Gastão Cruz, entre outros, prontos a debater temas comuns ao autor heterodoxo português, Eduardo Lourenço.